Introdução: O forame oval (FO) é uma estrutura embrionária natural e indispensável na circulação fetal, por possibilitar uma comunicação interatrial necessária ao aporte sanguíneo para os segmentos superiores, com reduzidas passagens pulmonares. Porém, a persistência do FO (FOP), em até 25% dos indivíduos, pode permitir uma passagem potencial de êmbolos para a circulação sistêmica. Assim, um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) em indivíduos jovens, secundário a uma embolia paradoxal, sem etiologia clara (criptogênico), pode ser atribuído a um FOP. O objetivo deste trabalho é estimar a ocorrência do FOP, sua morfologia e morfometria, em corações humanos do acervo anatômico da Universidade Federal de Juiz de Fora/Campus Governador Valadares (UFJF-GV) e abordar sua relação com o AVCI. Materiais e métodos: Conservados em solução de formaldeído a 10%, 30 corações humanos, da UFJF-GV, foram analisados entre 2018 e 2019. Quanto à morfometria, aferimos comprimento do túnel e largura do FOP, utilizando-se régua e sonda milimetradas, compasso e paquímetro. Resultados: Dos 30 corações, 6 apresentaram FOP (20% do acervo), o que corrobora com a literatura. Além disso, não foram evidenciadas formações concomitantes, como aneurisma do septo atrial (ASA), rede de Chiari, crista de Eustáquio proeminente ou fenestrações múltiplas, o que caracteriza os achados como simples. Quanto aos registros morfométricos, registramos, na média, 5,16 mm de comprimento funcional do túnel e 6,75 mm de largura do FOP. Discussão: Quando associado ao aneurisma de septo atrial (ASA), à crista da válvula da veia cava inferior (VCI) proeminente e/ou à rede de Chiari, o FOP é denominado complexo, aspecto que o torna mais favorável a um AVCI criptogênico. Como os exemplares do acervo não apresentavam essas concomitâncias e possuíam extensão menor que 8mm, foram classificados como simples. Ademais, classificam-se como tipo I, visto que possuem um túnel maior ou igual a 4 mm e ocorrem sem a formação de ASA. O ASA está associado a maiores dimensões de FOP e potencializa os riscos de tromboembolismos. A rede de Chiari, por sua vez, promove um fluxo sanguíneo facilitador da embolia paradoxal. Quanto à válvula da VCI proeminente, sua presença pode servir de guia para êmbolos ao FOP. Conclusão: O FOP, sobretudo quando classificado como complexo, é um importante fator a ser considerado em casos de AVCI criptogênico, resultante de embolia paradoxal, especialmente, em pacientes jovens.
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