Introdução
A imunidade dos indivíduos portadores da Síndrome de Down (SD) é profundamente alterada quando comparada com a da população neurotípica. Dessa forma, buscou-se compreender se há alguma relação entre o fenótipo imunológico da SD, caracterizado por agressão autoimune ou pró-inflamatória, com a fisiopatologia específica do Sistema Nervoso Central (SNC), e se a compreensão desse caráter inflamatório crônico da SD poderia dar base a tratamentos inovadores.
Métodos
Levantamento bibliográfico realizado nas plataformas PubMed, Google Scholar e na revista Nature atentando-se aos artigos originais, incluindo tanto modelos animais quanto modelos humanos. Foram utilizadas as palavras chaves “down syndrome, down syndrome immunology, neurogenesis down syndrome, trisomy 21, AIRE gene down syndrome, obtendo-se 3.741.868 artigos e destes nove foram utilizados para compor este trabalho.
Discussão
Os indivíduos com SD possuem uma maior produção de citocinas pró-inflamatórias comparados com a população neurotípica, caracterizando um estado crônico de inflamação associado à trissomia. Isso leva a uma destruição tecidual gradual e contínua. Ademais, indivíduos portadores também possuem uma ativação aumentada da cascata do interferon. Especificamente quanto ao SNC, as células da micróglia podem estar associadas à neuro-inflamação na SD por conta de fenômenos como liberação de espécies reativas de oxigênio e fagocitose de neurônios saudáveis. Esses e outros mecanismos inflamatórios do SNC aparentam ter impacto no desenvolvimento desses pacientes, por questão de deficiência da neurogênese. Ademais, eles influenciam no posterior desenvolvimento precoce da doença de Alzheimer. Há, portanto, uma importância enorme do estado imune singular dos portadores da síndrome sobre a fisiopatologia dessa, com um foco em especial sobre o SNC, levando aos achados típicos de deficiência intelectual leve a moderada na infância e doença de Alzheimer precoce na vida adulta.
Conclusão
O modelo inflamatório da fisiopatologia da trissomia do 21 apresenta grande potencial para permitir a compreensão de seus achados e agravos neurológicos ao longo do tempo. O ambiente celular com tamanha quantidade de estímulos lesivos associados ao sistema imune em indivíduos portadores levanta a possibilidade de um benefício potencial em atenuar tais estímulos. Propõe-se que modelos animais e ensaios clínicos com fármacos moduladores do sistema imune possam demonstrar um potencial de amenizar os acometimentos do SNC na SD.
linnuniceplac@gmail.com