Dando continuidade à pesquisa anterior em nível de mestrado, retomo as análises sobre os lírios de Jurema, religião brasileira sincrética de origem afro-indígena, propondo uma leitura das questões de representação de gênero e performance da poesia oral. Enfocando as relações em que o gênero se apresenta como motivo ou importante tropo composicional, pretendo ler criticamente suas construções, em especial aquelas em que o eu-lírico feminino reveste-se de caráter subversivo em relações aos padrões de gênero e como através da performance da poesia oral, esses eus-líricos marcam e são marcados pela sua própria performance de gênero. Numa leitura que perpassa os corpos e as discursividades, tenciono demonstrar de que maneiras, esses corpos que cantam e dançam, propõe a negociação ou a dissolução de binarismos e desafiam o status quo ao espetacularizarem suas vozes, realizando seus contradiscursos poéticos de resistência, por meio de suas histórias e lutas. Neste momento inicial da pesquisa, trabalho ainda na construção desta categoria que surge na interface com os utopismos da cultura e está ancorada no trabalho de Raffaella Baccolini sobre narrativa e sua categoria contranarrativa distópica (1995). Ao tratar das construções desse discurso poético, mobilizo também as categorias do Jogo poético (HUIZINGA, 2011) e ironia (HUTCHEON, 1998), enquanto traços estruturais na composição dessas vozes. Minha reflexão busca oferecer alguma contribuição para a postulação de uma epistemologia dos utopismos e dos Estudos Culturais brasileiros e colabora com a fortuna crítica dos lírios de Jurema, promovendo a circulação e crítica desta mitopoética religiosa/cultural.
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Colóquio em Linguística e Literatura
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