Angélica Freitas (1973), poeta e tradutora gaúcha, tem dois livros publicados até o momento: Rilke shake (2007) e Um útero é do tamanho de um punho (2012). Nesta segunda obra, Freitas opera uma reelaboração irônica dos estereótipos de gênero atribuídos às mulheres, resgatando clichês do pensamento machista/patriarcal e problematizando diversas formas de controle sobre o corpo feminino. Esta comunicação tem como objetivo discutir uma das sete seções de Um útero é do tamanho de um punho, intitulada “3 poemas com o auxílio do google”, na qual a poeta recorre ao mecanismo de busca através de três frases que dariam origem aos poemas: “a mulher quer”, “a mulher pensa” e “a mulher vai”. Este processo de elaboração poética, denominado googlagem, mobiliza a discussão de temas como autoria, propriedade, além de pôr em xeque o próprio fazer poético, levando-nos a questionar até mesmo o que seria um poema. As googlagens nos convidam, ainda, a refletir sobre como a poesia contemporânea é atravessada pelo fim das fronteiras entre gêneros, estéticas e éticas composicionais. Para além das questões estritamente formais, este paradigma de composição também aponta para uma espécie de “modelo” de pensamento vigente, na medida em que as frases encontradas no google revelam um discurso patriarcal encrustado nos textos mostrados como resultado de busca. Desde as vanguardas, sobretudo no dadaísmo, o ato de recortar e colar já era utilizado enquanto procedimento de composição poética, como indica a receita do poema-manifesto de Tristan Tzara. No entanto, a escolha da ferramenta de busca mais utilizada do mundo – que possui um sistema de resultados baseados em links mais acessados –, se afasta da colagem aleatória dadaísta, revelando nuances de um discurso contemporâneo marcado por ideologias patriarcais. Para discutir tal processo de colagem, levando em consideração as implicações relativas às questões de gênero, são importantes como fundamentação teórico/crítica os textos de Antoine Compagnon (1996); Judith Butler (2013); Monique Wittig (1980); entre outras/os.
Comissão Organizadora
Colóquio em Linguística e Literatura
Comissão Científica