o presente resumo trata sobre a personagem de ficção Lucíola, de José de Alencar. Para tal se faz um retrato da sociedade oitocentista proposta à época do romance, aludindo às curvaturas ideológicas entre mulheres prostitutas e mulheres da privação. Utilizou-se, precipuamente, um verniz psicanalítico para o tecido/corpo que a personagem se fez mostrar na urdidura do romance. Um corpo erótico, passível de desejos e encantamentos, em detrimento, no enredo da obra, de um corpo morto. Essas terminologias partem do construto da ilação de corpo lutuoso e de corpo brincante, segundo Freud (1976). Lucíola, mulher de sua época, se utiliza de furos na mascarada (POMMIER, 1987) que margeiam a feminilidade para se tornar desejante aos homens tanto como cortesã, quanto como casta ao amado por eleição. Umas das multifacetadas articulações que o texto alencarino nos fornece são os fragmentos textuais desse corpo que se transformam e informam ao leitor o perfil da heroína do romance em devires, na perspectiva da mascarada (desse corpo que chamamos de visceral). Encontrar as diversas narrativas dessas manifestações nos coloca na perspectiva de que a voz feminil de Lucíola perpassa pela voz de seu desejo, ela o coloca como eixo axial para se dizer mulher, ora sendo luciferiana, ora sendo domada de anseios do amor monogâmico/burguês para se promulgar a antítese mulher/prostituta da mulher/esposa. O texto/tecido alencarino também mostra, na leitura psicanalítica, a função do gozo não-todo que a personagem se orna em sua estrutura textual e ficcional (LACAN, 1993), traduzindo a obscuridade indizível do feminino, o que transformaria, enfim, o ser da mulher em enigma (BIRMAN, 2001).
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