Neste trabalho, aproximo o clássico romance distópico Admirável Mundo Novo [Brave New World], publicado em 1932, de autoria do britânico Aldous Huxley, com o romance distópico Admirável Brasil Novo, publicado em 2001, de autoria do brasileiro Ruy Tapioca. Utilizo como referencial teórico a reflexão de Julia Kristeva sobre a intertextualidade (1966), que nos permite pensar as relações que a literatura estabelece consigo mesma, sobretudo no que diz respeito ao fato de como as obras literárias se absorvem e reconfiguram em outras, bem como os estudos de Raffaella Baccolini (1992), Tom Moylan (2000) e Gregory Claeys (2017) sobre as características formais da distopia enquanto gênero literário. A partir das citadas teorizações, observo, aponto e analiso algumas convergências e divergências entre as distopias de Aldous Huxley e Ruy Tapioca, cujos títulos se aproximam devido a homenagem feita pelo autor brasileiro ao britânico. Por meio da análise comparada, concluo que essas duas obras divergem pelo tipo de sociedade futura imaginada, no caso de Huxley uma distopia de eugenia, onde as pessoas vivem uma felicidade harmoniosa, porém, vazia, enquanto que, no caso da sociedade imaginada por Tapioca, uma distopia da falência do Estado brasileiro, onde as pessoas tentam sobreviver ao caos, poluição e falta de perspectivas sociais, enquanto a elite política busca apenas seus próprios interesses de reeleição e manutenção do poder. Contudo, apesar do distanciamento, pode-se perceber também convergências, pois esses dois romances exploram, ainda que de maneiras distintas, os temas do controle e manipulação da informação, divisão social entre castas, do vazio existencial na sociedade distópica, e do declínio da linguagem e da arte, inclusive da literatura, temas recorrentes em outras distopias literárias.
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Colóquio em Linguística e Literatura
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