Com versos que pensam, poemas que se questionam sobre a própria existência enquanto poemas, palavras que “roubam” o significado de outras palavras e uma sutil ironia percorrendo tudo isso, a poesia de Ana Martins Marques ultrapassa o sentido convencional das coisas, mesmo quando aparenta manter o fascínio pelas experiências mais simples do cotidiano. O espaço da casa se transforma em devaneio – a casa sonha, os canos têm vida –, uma mirada no mapa se transforma em uma viagem, imagens mitológicas retornam para se fundir ao mundo contemporâneo. Uma poesia que convida o leitor a participar, que deixa brechas e espaços para o pensamento. Ana Martins Marques é uma poeta brasileira contemporânea, nascida em 1977, em Belo Horizonte. Possui cinco livros de poesia publicados até então, sendo três destes escritos individualmente e dois em dupla. Em seus poemas, a autora constantemente se utiliza do recurso da metapoesia e da metaficção ao fazer alusões ao ato de escrever poesia enquanto aborda diversos temas. A poeta lança uma reflexão sobre a escrita, enquanto aponta, com um humor afiado, para o dilema da oposição entre realidade e ficção, fazendo com que alguns poemas englobem diretamente questões discutidas pela teoria literária. Apesar da riqueza de imagens poéticas existentes na obra da autora, a fortuna crítica relativa a esta ainda é bastante tímida e pouco aprofundada. Sendo assim, no presente trabalho resolvi selecionar alguns de seus poemas para realizar uma leitura com base nos estudos da mimese e da representação, focalizando os estudos que se voltam para o texto poético. Dos cinco livros da autora, será apresentado o seu terceiro livro escrito individualmente e publicado em 2015, O Livro das Semelhanças, sendo enfocadas duas seções do livro para a análise, intituladas “Livro” e “Cartografias”. Ambas as seções apresentam metáforas e reflexões complexas que convidam o leitor a indagar sobre as questões do real versus ficcional, da literatura versus mundo, da relação entre leitor e livro. Esse conflito entre ficção e realidade vem há muito sendo discutido e reformulado de diversas maneiras por teóricos e teóricas da literatura. A noção Aristotélica de mimese já foi interpretada de diversas formas, e buscarei discuti-la, neste trabalho, sob a luz de alguns pensadores, como Iser (2002), Merquior (1997) e Candido (2004). Pretendo, dessa forma, ampliar a fortuna crítica relativa à poesia de Ana Martins Marques e apresentar contribuições no campo dos estudos da representação, especialmente no que concerne ao texto poético.
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