De acordo com Walter Benjamin (2015), a formação do romance policial ou da narrativa detetivesca, como diríamos atualmente, está relacionada com a consolidação dos espaços urbanos e o avanço do processo de industrialização. No campo do mundo histórico, a profissão do detetive aparece como uma necessidade premente de administrar o fenômeno crime a fim de evitar a proliferação da delinquência e o colapso da sociedade; no campo literário, seria cabível interpretar o detetive como a tentativa de estabelecer um código capaz de lidar com a fonte entrópica que vieram a ser as cidades, recheadas por contatos fortuitos envoltos por um montante informacional em progressão. Dessa forma, buscamos analisar o conto “The man of the crowd”, de Edgar Allan Poe, publicado originalmente em 1840, assumindo como base a representação do sujeito-investigador, a relação dele com o objeto inquirido, a cidade como obra aberta e a propriedade do contemporâneo como um protocolo de escrita e leitura. Como fundamentação teórica, adotamos Carlo Guinzburg (1989), Giorgio Agamben (2009), Marcus Vinícius Matias (2013), Tzvetan Todorov (2006), Umberto Eco (2000) e Walter Benjamin (2015). Por fim, o narrador interrogado nesta análise confessou o quanto a multidão (fonte) é entrópica e como o código do discurso é o que restringe os dados pertinentes aos fins comunicativos. Contudo, o código é relativamente entrópico quando relacionado com as mensagens indefinidas que pode gerar, tanto que não se fecha a rigor em face do crime profundo, provocando a falha do protagonista em sua busca por uma verdade reveladora, o que possivelmente o torna um anti-detetive. Ademais, o caráter entrópico do código é notável no narrador-personagem porque este não oculta o bastante seu lugar de fala. Por conseguinte, “The man of the crowd” parece propor problemas fenomenológicos mais próximos do século XXI do que de meados do século XIX.
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Colóquio em Linguística e Literatura
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