Articulada em torno do conceito de transgressão, conforme proposto por Lucy Sargisson (1996), e na abordagem que Ruth Levitas (2001) oferece para as utopias a partir da experiência da falta, esta comunicação discute como o romance He, She and It, de Marge Piercy (1991), constrói ficcionalmente lacunas de representação e vivência para expressar objetos de desejo que são projetados além das fronteiras do conhecido. Para Sargisson (1996), as ficções contemporâneas de autoria feminina oferecem uma nova abordagem para o conceito de utopia a partir da maneira de perceber a realidade. Neste contexto, defendo que a narrativa de He, She and It parece delinear um espaço melhor para os sujeitos identificados como outros. O liame entre ficção utópica e estudos de gênero constitui, assim, o fio condutor dessa comunicação, que investiga a construção de uma dimensão utópica por meio da transgressão de fronteiras disciplinares e do foco nas experiências privadas para construir nossos quadros de representação. De cunho bibliográfico, essa comunicação analisará três excertos do romance para enfatizar a importância da esfera subjetiva no processo de produção de conhecimento, sinalizando que aspectos narrativos subvertem as usuais estratégias narrativas ocidentais de construção do bom lugar. Finalmente, proponho a existência de uma relação entre a experiência estética literária e a utopia. Tal proposição possui contornos conceituais e políticos importantes para a forma de perceber a utopia não somente como forma de organizar o mundo, mas também pela possibilidade de expressar, mesmo que ficcionalmente, as insatisfações e insuficiências da experiência humana.
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Colóquio em Linguística e Literatura
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