Memórias, silêncios e paisagens são forças agenciadoras do fenômeno lírico em Alguém dorme na plateia vazia (2021), de Annita Costa Malufe. A inflexão de uma visibilidade intuída, o potencial evocativo do tempo, incluindo o esquecimento, o indizível intermitente se desdobram, com frequência, em múltiplas formas de adiamento ou de indefinição da imagem poética movida pelo fantasmático, pelo silêncio, como experiência primeva do espaço poético. Em consonância com o título da obra, talvez fosse possível falar de imagem da personae poética, pois, longe da utopia de uma paisagem apenas observável, os espaços nomeados são heterotópicos, promovem a multiplicidade de olhares, e de um eu lírico refletido, multiplicado, fragmentado, distorcido, um tanto melancólico. Reverbera na obra a persistência e dissonância da memória de uma infância inventada, permeada de aldeias distantes, rio ou mar, explorando a percepção da temporalidade e da espacialização do eu poético fraturado entre a primeira e a terceira pessoas. Na forma poemática, a incorporação de uma sintaxe marcada pela ausência de pontuação intercepta o ritmo da leitura, em direção a um verso performático e tensivo que põe em evidencia uma consciência construtiva do gesto criador.
Comissão Organizadora
Leandro de Carvalho Gomes
Critica Feminista
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