No dia da morte da mãe, uma adolescente de um bairro periférico de Buenos Aires descobre um dom: ao comer um punhado de terra, tem visões e encontra corpos de mulheres desaparecidas. Nesse ato fantástico, a jovem se dá conta de que as mulheres desaparecem. Em Cometierra (2019), Dolores Reyes, no seio de uma sociedade misógina, dá a sua personagem poderes de uma vidente para solucionar crimes contra mulheres. Segundo Hollanda (2019), há uma explosão feminista em processo. Nessa maré feminista insurgente, feminicídio é uma palavra reivindicada, e a literatura, como parte desse levante, tem sido um espaço condutor dessa onda política, social, artística e feminista. Gago (2020) defende que é necessário pensar as violências machistas como uma espécie de “cartografia política que conecte os fios que fazem com que as violências se revelem como dinâmicas inter-relacionadas” (p. 73). Nessas dinâmicas, as mulheres sairiam do papel de vítima para inaugurarem uma palavra política. Cometierra se insere na construção dessa palavra política. As engrenagens da linguagem formam um corpo que se desenha, um território que (re)nasce, que se (re)constrói. Pergunto-me, então, nesta análise: seria a literatura capaz de produzir uma linguagem que vá além de catalogar as mulheres como vítimas?
Comissão Organizadora
Leandro de Carvalho Gomes
Critica Feminista
Algemira de Macêdo Mendes
Adriana Aparecida de Figueiredo Fiuza
Nayane Larissa Vieira Pinheiro
Nágila Alves da Silva
ANDRE REZENDE BENATTI
Alexandra Santos Pinheiro
Comissão Científica