O manejo da dor crônica é um desafio clínico e novas opções têm sido exploradas nos últimos anos. Uma delas é o uso da Cannabis e seus derivados, com relatos de uso há longa data pelos seus efeitos analgésicos, tendo maior enfoque nos últimos anos. Dentre as doenças ginecológicas, a vulvodinia gera importante impacto na qualidade de vida por tratar-se de dor crônica por três meses ou mais, sem causa aparente, dificultando a vida sexual e a estabilidade psíquica. Realizada revisão de artigos buscados nas bases de dados PubMed e Scielo com os descritores “cannabidiol and chronic pain", “vulvodynia", “cannabidiol and vulvodynia” do ano 2017 a 2022. A vulvodinia é caracterizada por dor vulvar, localizada em apenas uma região, como o vestíbulo, ou generalizada, provocada por atrito, como na relação sexual, contato com roupas apertadas, andar de bicicleta, etc. e outras vezes espontânea. Não possui etiologia clara, sendo multifatorial e tem como opções terapêuticas: mudanças de comportamento, como troca de substâncias irritativas, uso de tópicos anestésicos e outros, uso de medicações de ação central, cortando o impulso aferente da dor/ardor, fisioterapia, psicoterapia e vestibulectomia em casos selecionados de vestibulodinia provocada. Uma opção para tratamento seria o uso de canabidiol isolado ou em associação a seus derivados, principalmente o THC em baixa concentração, já bastante usado como analgésico em pacientes com dor crônica, principalmente quando neuropática. Até o momento não há um consenso com relação à dose e qual tipo de derivado é a melhor opção terapêutica nas pacientes com vulvodinia, e por isso devem ser individualizados e testados conforme a resposta e tolerância das pacientes, lembrando que tem resposta em U, ou seja, acima da dose ótima, baixa a eficácia. Quando usado antes das relações sexuais, em forma de spray, ocorre diminuição da dispareunia, sintoma clássico da doença, trazendo considerável benefício, sem riscos, sendo animador. O uso de tais substâncias têm caráter promissor para o manejo clínico de tais pacientes, porém, poucos estudos foram realizados até o momento avaliando o uso de canabinóides especificamente para o tratamento de vulvodínia, necessitando aguardar ensaios clínicos para orientarmos como indicação formal.
Comissão Organizadora
Victor Lemos
Ilca Amorim
JOSÉ HUMBERTO BELMIRO CHAVES
Bruna Oliveira
Comissão Científica
Yara Lúcia Mendes Furtado de Melo