A fístula carótido-cavernosa é definida como uma comunicação anômala da artéria carótida interna, externa ou ainda qualquer um de seus ramos com o seio cavernoso. Com a drenagem arterial por meio do seio cavernoso, ocorre uma congestão no fluxo sanguíneo de suas veias tributárias, o que justifica as manifestações clínicas da doença. Dentre as principais causas de fistulização se encontram: trauma, displasia fibromuscular, deficiência de colágeno, dissecção arterial, rotura de aneurisma intracavernoso, sinusite, trombose do seio cavernoso e complicação pós cirúrgica. A abordagem da fístula carótido-cavernosa é endovascular, podendo ser arterial ou venosa. As informações utilizadas para formulação do relato de caso foram obtidas por meio de revisão de prontuário, de exame físico, de entrevista com a paciente e de análise de resultados de exames. Os aspectos éticos e legais foram garantidos aos participantes da pesquisa. A paciente em questão foi admitida em um hospital universitário com queixa de cefaleia hemicraniana à direita. Relatava dor importante, em pontada, com piora postural, associada a edema de pálpebra e presença de ruídos desagradáveis em ouvido, ambos do lado direito. Referia queimor, agitação psicomotora, vômitos e diminuição da acuidade visual associados. Negava trauma prévio e abalos musculares. Ao exame físico estava em regular estado geral, com fácies de dor e hemodinamicamente estável, pontuando 15 pontos na Escala de Coma de Glasgow. A paciente apresentava proptose de órbita direita, acompanhada de edema peri-orbitário, discreta hiperemia local em pele, quemose e paresia de musculatura ocular extrínseca global. As pupilas mostravam-se isofotorreagente e a mímica facial estava simétrica. Dessa forma, a paciente em questão apresentava a tríade Dandy, clássica da afecção: exoftalmia, sopro em região fronto-temporal e quemose. Na ressonância magnética de crânio foi constatado o aumento volumétrico do seio cavernoso direito devido à formação arredondada heterogênea. Na arteriografia foi evidenciada a fístula carótido-cavernosa à direita, causada por ruptura de aneurisma sacular localizado no segmento cavernoso da carótida interna direita. Por meio da abordagem endovascular, foi realizada a embolização de fístula à direita. Em cirurgia evidenciou-se ectasia e ingurgitamento da veia oftálmica superior do mesmo lado, além de proptose e congestão da gordura e da musculatura intra-orbitária. Não havia sinais de trombose nessa topografia. Em pós operatório paciente fez uso de corticoterapia e mostrou-se estável hemodinamicamente, com fala e discurso adequados. Apresentou melhora progressiva da acuidade visual e regressão da proptose. A fístula encontrada no caso clínico descrito é classificada como direta, uma vez que foi formada pela ruptura aneurismática do segmento cavernoso da aa artéria em questão. O quadro clínico neurológico florido se dá pela disfunção dos pares cranianos III, IV e VI. Isto porque estes nervos perpassam pelo seio cavernoso, o que os torna passíveis de comprometimento em grande parte dos casos, especialmente tratando-se do nervo abducente, que está envolvido em 85% dos casos. A ressonância magnética de crânio foi necessária para dimensionar o grau de proptose e dilatação das veias orbitárias e do próprio seio cavernoso, assim como todo acometimento da musculatura local e indícios de hipertensão e edema de outras estruturas cerebrais. A realização da técnica via endovascular mostrou-se o procedimento de eleição para casos similares. O caso apresentado se demonstra relevante cientificamente pela sua relativa raridade, visto que a fistulização ocorreu espontaneamente e foi gerada por uma rotura aneurismática de uma região pouco acometida da carótida interna, no segmento cavernoso.
Os trabalhos publicados deverão ter sido inscritos no Congresso Médico Acadêmico da Unicamp - COMAU, e terem o seu projeto aprovado por 2 avaliadores (docentes e pós graduandos escolhidos pela Comissão Científica).
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