ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM MATERNO-INFANTIL NO PARTO CESÁREO

  • Autor
  • João Paulo Assunção Borges
  • Co-autores
  • Luana Ribeiro Barreto
  • Resumo
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    ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM MATERNO-INFANTIL NO PARTO CESÁREO

     

    O enfermeiro tem papel fundamental na assistência materno-infantil durante o parto e nascimento. A recepção do recém-nascido envolve uma série de procedimentos e condutas que devem ser realizadas de forma coordenada e sincronizada para garantir uma assistência de qualidade e segura. Os objetivos são descrever e analisar a recepção do recém-nascido utilizando o relato de experiência das vivências durante o estágio curricular acadêmico, com base nas diretrizes e recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde. Alguns pontos importantes na recepção do recém-nascido observados foram a falta de controle térmico da sala de parto e a verificação dos dados antropométricos nos primeiros minutos de vida; a aspiração das vias aéreas superiores de forma indevida; a falta do acompanhante na sala de parto, falta do contato pele a pele com a mãe. As conformidades identificadas foram a realização do boletim de Apgar com avaliação da vitalidade e o incentivo a amamentação logo após o nascimento. A vivência do acadêmico nos estágios é de suma importância, possibilitando um olhar crítico e reflexivo fazendo a comparação entre a literatura e a prática, permitindo traçar meios de melhorar a recepção do recém-nascido no parto cesáreo, de forma segura e humanizada.

     

    INTRODUÇÃO

    O enfermeiro tem um papel fundamental na assistência materno-infantil durante o parto e nascimento. A recepção do recém-nascido envolve uma série de procedimentos e condutas que devem ser realizadas de forma coordenada e sincronizada para garantir uma assistência de qualidade e segura. Vale destacar que em algumas instituições, a assistência ao parto é realizada em ambientes cirúrgicos, como Centros Cirúrgicos e Centros Obstétrico-Cirúrgicos.

    A recepção do RN começa momentos antes do nascimento, envolvendo o preparo da equipe, do ambiente, dos equipamentos e materiais que serão utilizados para o atendimento e os cuidados imediatos. Além disso, deve prever e prover os recursos necessários para um atendimento de reanimação neonatal e procedimentos de urgência. Sabe-se que é maior o risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação quanto menor for a idade gestacional e/ou o peso do bebê ao nascer. O parto cesáreo, mesmo que não haja fatores de risco antenatais, também aumenta os riscos para necessidade de reanimação para o RN (Brasil, 2018; Brasil, 2016).

    O ponto-chave para a assistência de enfermagem no momento do nascimento está na avaliação da vitalidade ao nascer, onde se identifica, imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação ou não. Os profissionais envolvidos na recepção do RN, preferencialmente médico e enfermeiro habilitados no cuidado neonatal, realizam a avaliação rápida de quatro condições referentes à vitalidade do bebê, sendo verificadas as seguintes perguntas: (1) a gestação é a termo?; (2) há presença de mecônio?; (3) o bebê está respirando ou chorando?; e (4) o tônus muscular está bom? Se o RN é considerado com boa vitalidade ao nascer, ele é mantido junto à mãe, em contato pele a pele e todos os procedimentos de rotina podem ser postergados. Caso o bebê apresente vitalidade inadequada, ele será conduzido imediatamente para reanimação em local apropriado (Brasil, 2018; Brasil, 2013).

    Apesar das recomendações e evidências acerca desse cuidado e assistência materno-infantil na hora do nascimento, ainda se observam divergências e adoção de rotinas que preveem a realização de cuidados de rotina, ainda no local do parto.

    Considerando estes aspectos, os objetivos desse trabalho são descrever e analisar a recepção do RN a partir do relato de experiência vivenciada durante práticas de Estágio Supervisionado acadêmico, associando com a diretrizes e recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.

     

     

    MÉTODOS

    Trata-se de um relato de experiência, descritivo, observacional, com dados obtidos por meio de roteiro para relato de experiência (Mussi; Flores; Almeida, 2021). O roteiro consiste em uma ferramenta para nortear a construção científica do relato de experiência, normatizando as observações verificadas e permitindo a formulação de evidências acerca do objeto de investigação.

    Neste estudo, as observações foram feitas durante as práticas supervisionadas da disciplina de saúde do adulto 2, do Curso de Enfermagem, realizadas durante duas semanas no mês de setembro de 2022, em um Centro Cirúrgico onde são realizados os partos cesáreos em uma instituição hospitalar na Região Centro-Oeste do Brasil.

    Foram feitas anotações e registros acerca da recepção do RN, cuidados maternos e cuidados neonatais realizados pela equipe da unidade. Por tanto, tratam-se de dados secundários referentes à prática acadêmica curricular autorizada formalmente pela direção da instituição.

     

     

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Para sumarizar a apresentação dos resultados, optou-se por dividir os achados em conformidades e não-conformidades observadas. A recepção do RN é um dos momentos de grande impacto e importância na vida da mãe e do RN, e deve-se ter especial atenção no cuidado para que seja um nascimento seguro, de boa qualidade e com riscos mínimos.

                Os profissionais devem estar habilitados e capacitados para a recepção, seja ela com ou sem necessidade de reanimação. As diretrizes e recomendações sobre a recepção do RN são unânimes em apontar para a importância dos cuidados integrados entre os diferentes profissionais envolvidos (Brasil, 2018; Brasil, 2013; Brasil, 2012). No entanto, ainda é pouco abordado sob a ótica do enfermeiro, recebendo destaque o papel do médico pediatra e a equipe auxiliar. Em diversas vezes, percebe-se que o enfermeiro destina suas atividades para questões gerenciais, também de grande importância, em detrimento das atividades assistenciais.

    Ainda neste contexto, um problema observado é que, por tratar-se de um ambiente cirúrgico, a atenção da equipe é voltada para o ato cirúrgico em si, para a cirurgia cesariana. A recepção do RN torna-se um apêndice de todo o momento perioperatório. A sala de cirurgia, por vezes encontra-se climatizada com temperaturas abaixo do recomendado para a recepção do RN, mesmo sendo recomendação da OMS que a sala esteja com a temperatura em torno de 26ºC (Brasil, 2013; Brasil, 2012). Observa-se que o ar-condicionado é desligado instantes antes do nascimento, o que não contribui de fato para o aumento da temperatura ambiente. A equipe deve estar atenta para o controle térmico do ambiente e deve se tornar uma rotina observar e registrar a temperatura do ambiente, da pele da mãe e do RN.

    Observou-se que a equipe de enfermagem organiza os ambientes, provendo materiais, testando o funcionamento dos equipamentos, mantendo a unidade de calor radiante ou berço aquecido ligados, conferindo registros e prontuário. Também é a equipe de enfermagem que recepciona a gestante no Centro Cirúrgico e encaminha para a sala de cirurgia. Nestes momentos, é aplicado o check-list de cirurgia segura.

                Ao nascimento, verifica-se a idade gestacional, padrão respiratório e tônus muscular do RN, bem como a presença de líquido amniótico meconial. Neste momento, decide-se pela reanimação ou pelos cuidados da recepção de rotina. Os cuidados imediatos são aqueles realizados logo após o nascimento do bebê, envolvendo o primeiro contato do RN com a mãe, cuidados com cordão/coto umbilical (clampeamento tardio e secção), posicionamento, secagem e estabilização do RN, realização do índice de Apgar do primeiro e quinto minutos de vida, identificação do bebê e da mãe com pulseiras. Também são realizados alguns procedimentos assistenciais do exame físico sumário, medidas antropométricas como, peso, comprimento, perímetro cefálico, perímetro abdominal e torácico prevenção da oftalmia gonocócica, aplicação da vacina contra Hepatite B, vitamina K, entre outros, conforme as rotinas de cada instituição (Rezer; Silva; Faustino, 2022; Ferrari et al., 2020).

    Em todas as etapas, deve-se manter mãe e RN próximos, estimulando o início do aleitamento materno ainda na primeira hora de vida. Após isso, o RN é encaminhado juntamente com a mãe para iniciar os cuidados em Alojamento Conjunto. Verificou-se nesta instituição que é rotina conduzir o RN para um local reservado para os cuidados de rotina, enquanto a mãe ainda está sob cuidados da equipe cirúrgica. Neste momento é realizada a verificação dos dados antropométricos, aspiração da cavidade oral e a identificação do RN nos primeiros minutos de vida, impossibilitando cuidado pele a pele. Também verificou-se a falta do acompanhante na sala de parto/cirurgia (Rezer; Silva; Faustino, 2022; Ferrari et al., 2020).

    Durante a recuperação pós-anestésica (RPA), a mãe permanece em observação e acompanhada do RN (Ferrari et al., 2020). Nesse momento, recebe orientação sobre o aleitamento materno e o bebê é colocado para amamentar, sendo avaliada a pega e sucção. Estas são conformidades com o que é recomendado pela literatura na assistência materno-infantil ao nascimento (Rezer; Silva; Faustino, 2022). Após a alta da sala de RPA, o binômio mãe-filho é encaminhado para os cuidados de rotina no Alojamento Conjunto.

    Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2012), o Alojamento Conjunto visa a uma interação e fortalecimento do vínculo materno com o RN, favorecendo estabelecer um relacionamento afetivo entre mãe-filho, desde o nascimento; fornecer ações educativas para mãe, pai e familiares quanto aos cuidados com o bebê; incentivar e promover o estabelecimento do aleitamento materno; entre outros. Por tanto, uma assistência adequada no momento do nascimento, aqui destacado o parto cesáreo, pode contribuir para uma evolução e desfechos favoráveis do nascimento.

     

    Síntese das conformidades e não-conformidades observadas na assistência materno-infantil em partos cesáreos.

    Conformidades assistenciais

    Não-conformidades assistenciais

    §    Conferência da sala, materiais e equipamentos antes do nascimento.

    §    Avaliação da vitalidade ao nascer.

    §    Incentivo ao aleitamento materno na primeira hora de vida.

    §    Aplicação da Escala de Apgar.

    §    Exame sumário após nascimento.

    §    Encaminhamento para Alojamento Conjunto.

     

    §    Controle térmico do ambiente e do RN.

    §    Cuidados de rotina realizados ainda na sala de parto.

    §    Ausência de contato pele a pele.

    §    Ausência de acompanhante.

     

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    A vivência do acadêmico nos estágios e em cenários de práticas supervisionadas são de suma importância, pois possibilitam o desenvolvimento de um olhar crítico e reflexivo acerca dos processos que permeiam sua atuação profissional. O relato dessa experiência permitiu correlacionar as evidências e recomendações científicas, baseadas em evidências, com o contexto real em que as práticas do futuro profissional acontecerão.

      A mortalidade neonatal, sobretudo precoce, pode ser reduzida com o uso de boas práticas no parto e nascimento. A assistência materno-infantil, a partir do nascimento, do contato pele a pele imediato, clampeamento oportuno do cordão umbilical, amamentação na primeira hora de vida e alta hospitalar segura podem modificar positivamente os desfechos vistos atualmente em diversos cenários da assistência à saúde.

     

    Palavras chaves: Recém-nascido; Cesárea; Enfermagem Materno-infantil; Saúde Materno-Infantil.

     

     

    REFERÊNCIAS

    BRASIL. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Neonatologia. Nascimento Seguro. Documento Científico Nº 3, Abril de 2018.

     

    BRASIL. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Programa de Reanimação Neonatal. Reanimação do recém-nascido ?34 semanas em sala de parto. 2016.

     

    BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Além da sobrevivência: práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. 1ª. ed., 1ª. reimp. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

     

    BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. 2ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

     

    FERRARI, Anna Paula; ALMEIDA, Maiara Aparecida Mialich; CARVALHAES, Maria Antonieta Barros Leite; PARADA, Cristina Maria Garcia de Lima. Effects of elective cesarean sections on perinatal outcomes and care practices. Rev Bras Saude Mater Infant, v. 20, n. 3, p. 879–88, 2020.

     

    MUSSI, Ricardo Franklin de Freitas; FLORES, Fábio Fernandes; ALMEIDA, Claudio Bispo de. Pressupostos para a elaboração de relato de experiência como conhecimento científico. Práx. Educ., Vitória da Conquista, v. 17, n. 48, p. 60-77, out.  2021.  

     

    REZER, Fabiana; SILVA, Fabiane Constantino da; FAUSTINO, Wladimir Rodrigues. Primeiros cuidados com recém-nascidos sem complicações na sala de parto. J. nurs. health.v. 12, n.1, e2212120941, 2022.

     

     

     

  • Palavras-chave
  • Recém-nascido; Cesárea; Enfermagem Materno-infantil; Saúde Materno-Infantil.
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