DESIGUALDADE DE GÊNERO E SAÚDE MENTAL DAS MULHERES NO BRASIL
GENDER INEQUALITY AND WOMEN’S MENTAL HEALTH IN BRAZIL
FABIANA TEIXEIRA RAMOS TAVARES
Mestranda em Cognição e Linguagem Universidade Estadual do Norte Fluminense
RESUMO
Este estudo objetiva aprofundar a compreensão da realidade das mulheres no Brasil, destacando os fatores associados à sua saúde mental. A pergunta central da pesquisa foi: em que medida a desigualdade de gênero pode influenciar a saúde mental das mulheres? O método dedutivo foi empregado como estratégia para analisar a interseção entre desigualdade de gênero e saúde mental. A pesquisa baseou-se em uma revisão bibliográfica, permitindo uma análise crítica de estudos e teorias relevantes. Buscou-se identificar padrões e conexões que elucidam a complexa relação entre o contexto social das mulheres no Brasil e sua saúde mental. A análise bibliográfica revelou que a desigualdade de gênero é fator significativo no impacto na saúde mental das mulheres. O cenário social, permeado por normas e expectativas de gênero, pode criar condições adversas que são apresentadas para o adoecimento mental. A sobrecarga de responsabilidades, a discriminação no ambiente de trabalho e a violência de gênero são exemplos de fatores que afetam diretamente o bem-estar psicológico das mulheres. Ademais, a ausência de políticas públicas específicas para o bem-estar das mulheres é identificada como outro componente contributivo para o adoecimento mental. A falta de acesso a serviços de saúde mental adequados, combinada com a abordagem insuficiente das questões de gênero nas políticas governamentais, cria um ambiente propício para o surgimento e agravamento de problemas de saúde mental entre as mulheres. Este estudo destaca a interconexão entre a desigualdade de gênero e a saúde mental das mulheres no Brasil. A pesquisa demonstra que o cenário social molda a vulnerabilidade das mulheres a problemas de saúde mental, enquanto a carência de políticas públicas específicas amplifica essa vulnerabilidade. Compreender essa dinâmica é essencial para fomentar a formulação de políticas mais abrangentes e intervenções sociais que visem melhorar a saúde mental das mulheres, promovendo, assim, uma sociedade mais equitativa e saudável.
Palavras-chave: gênero; saúde mental; maternidade.
ABSTRACT
This study aims to deepen the understanding of the reality of women in Brazil, highlighting the factors associated with their mental health. The central question of the research was: to what extent can gender inequality influence women's mental health? The deductive method was used as a strategy to analyze the intersection between gender inequality and mental health. The research was based on a bibliographical review, allowing a critical analysis of relevant studies and theories. We sought to identify patterns and connections that elucidate the complex relationship between the social context of women in Brazil and their mental health. The bibliographic analysis revealed that gender inequality is a significant factor in the impact on women's mental health. The social scenario, permeated by gender norms and expectations, can create adverse conditions that lead to mental illness. Overload of responsibilities, discrimination in the workplace and gender-based violence are examples of factors that directly affect women's psychological well-being. Furthermore, the absence of specific public policies for women's well-being is identified as another contributing component to mental illness. The lack of access to adequate mental health services, combined with insufficient addressing of gender issues in government policies, creates an environment conducive to the emergence and worsening of mental health problems among women. This study highlights the interconnection between gender inequality and women's mental health in Brazil. The research demonstrates that the social scenario shapes women's vulnerability to mental health problems, while the lack of specific public policies amplifies this vulnerability. Understanding these dynamics is essential to foster the formulation of more comprehensive policies and social interventions that aim to improve women's mental health, thus promoting a more equitable and healthy society.
Keywords: gender; mental health; maternity.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo visa compreender os elementos relacionados à saúde mental da mulher, explorando a perspectiva de gênero e sua interseção com os papéis sociais atribuídos a elas. No contexto da saúde mental materna, os desafios que a permeiam representam uma questão específica de saúde pública, porém, notavelmente, permanecem esquecidos, tanto no período pré-natal quanto no pós-parto.
Mesmo que a Constituição Federal de 1988 (CF/88) e o Código Civil de 2002 (CC/02) determinem que a parentalidade deve ser exercida de forma equitativa, é à mulher que cabe a incumbência da criação do prole e das responsabilidades domésticas no ambiente familiar, em um contexto marcado pelo paradigma binário e heterossexual da parentalidade.
Diante dessa problemática, frequentemente omitida tanto no âmbito social quanto acadêmico, indaga-se: qual é o impacto da desigualdade de gênero na saúde mental feminina? O objetivo geral desta pesquisa é compreender em que medida a desigualdade de gênero pode influenciar na saúde mental das mulheres. De maneira mais específica, busca-se: traçar a posição social ocupada pelas mulheres; analisar os efeitos da pandemia na vida das mulheres e identificar os fatores determinantes dos problemas mentais enfrentados por elas.
O método empregado é o dedutivo, iniciando-se com uma ampla compreensão do tema para posteriormente alcançar uma perspectiva mais específica. No que tange à abordagem, opte-se pela natureza qualitativa, fornecendo interpretações dos dados obtidos a partir da realidade social. Quanto à técnica de pesquisa, utiliza-se uma abordagem bibliográfica, examinando artigos científicos, fontes especializadas, dissertações de mestrado e teses de doutorado relevantes para o desenvolvimento da pesquisa. O caráter da pesquisa é exploratório, baseando-se em revisão de literatura.
A condução deste estudo é justificada pela necessidade de alcançar a igualdade de gênero e uma distribuição equitativa das responsabilidades no contexto doméstico, uma questão de natureza social. Este desafio deve ser abordado por todos(as) aqueles(as) que percebem a equidade de gênero como um princípio de justiça social e um imperativo dos Direitos Humanos.
Como resultados parciais da pesquisa podem ser destacados os fatos de que o abismo social construído entre os gêneros impacta a mulher de maneira sistêmica e significativa, perpassando as questões sociais, pessoais, físicas e mentais. Para além deste fator, o racismo, a vulnerabilidade social e as mazelas da pandemia atravessaram a vida das mulheres tornando-as, ainda mais, vulneráveis. Quando essas questões são colocadas sob o prisma da maternidade, a realidade torna-se ainda mais preocupante.
1.1 O Sobre (VIVER)mulher: compreensões entre o gênero e a realidade social
Segundo Joan Scott (1989), a compreensão do gênero pode ser delineada como um elemento das relações sociais, emergindo da diferenciação entre os sexos e intrinsecamente ligada às questões de poder. A construção social determina o gênero, indo além dos aspectos biológicos. Nessa perspectiva, Simone de Beauvoir (2009) argumenta que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher, pois é uma estrutura social que molda o destino dos indivíduos, seja do homem ou da mulher.
Diante do machismo estrutural que permeia a sociedade e a influência do âmbito público sobre o privado, observe-se que o ambiente doméstico reflete um quadro de submissão e inferiorização da mulher. Destaca-se que as tarefas domésticas historicamente foram atribuídas às mulheres, igualmente as atividades pertinentes ao exercício da maternidade (OLIVEIRA; HOLANDA, 2022).
Como resultado da luta feminista, abraçada por muitas mulheres, busca entrar no mercado de trabalho. No entanto, mesmo com essa conquista, não lograram emancipar-se das responsabilidades das atividades domésticas. A conquista do espaço no mercado de trabalho, sem a correspondente liberação da execução das tarefas domésticas, levou as mulheres a acumularem essas responsabilidades.
Não se pode ignorar que toda essa sobrecarga laboral está frequentemente associada a situações de violência, impactando a saúde física e mental das mulheres, assim como sua própria dignidade. A carga excessiva de responsabilidades direcionada à mulher, expressa pelo acúmulo de funções e moldada pela sociedade, resulta em um comprometimento tanto físico quanto psicológico para aqueles que precisam ocupar simultaneamente dois papéis (D'ANGELO; LANDO, 2020).
No âmbito social, é comum às mulheres as obrigações inexorável ??da maternidade. Aquelas que optam por não assumir são rotuladas como mães "desnaturadas". Não há espaço para que uma mulher exerça sua liberdade, especialmente quando é mãe. Em contrapartida, é permitido ao homem exercer a paternidade de maneira esporádica, ou até mesmo abster-se dela.
1.2 Os Efeitos nefastos da pandemia sobre a vida das mulheres
As relações sociais foram profundamente impactadas a partir da recomendação de distanciamento social emitida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, quando declarou que a sociedade estava enfrentando uma situação de pandemia. Segundo dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em uma amostra de residências brasileiras, no período compreendido pela pandemia (2020 a 2021), mais de 8 milhões de mulheres perderam seus empregos ( DELBONI, 2021).
O período de isolamento, o fechamento das escolas, a incerteza que permeia o momento, as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, a jornada de trabalho de quem não poderia se isolar, o aumento da carga de trabalho doméstico e a escassez de renda trabalhada para que o panorama da saúde mental da mulher fosse considerado devastador. Esse impacto é ainda mais significativo dado o fato de que aproximadamente 1/3 das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres, resultando em um sentimento generalizado de exaustão e depressão (DELBONI, 2021).
Segundo Santos (2020), a pandemia veio à tona revelando outras crises sociais que há muito tempo eram latentes, evidenciando abismos que existiam desde muito tempo. O caso das mulheres, que, em virtude das medidas sanitárias, foram obrigadas a adotar o teletrabalho, representa uma decorrência dos efeitos adversos da pandemia. Diante da posição social designada às mulheres, elas foram sobrecarregadas, uma vez que, além de desempenharem as atividades relacionadas ao trabalho, também tiveram que assumir as responsabilidades domésticas (ARRUDA; D'ANGELO, 2021).
Apesar de muitas vezes o âmbito doméstico ser romantizado, é nele que as mulheres vítimas de violência doméstica vivem as suas piores cenas. A letalidade do vírus não deixou outra escolha às autoridades senão a imposição do isolamento social. O fato de o agressor e a vítima estarem forçadamente isolados no mesmoa ambiente doméstico fez com o cenário de violência fosse potencializado, acarretando um aumento significativo das estatísticas da violência doméstica (BORGES; LARA, 2020).
O aumento significativo no número de crianças registradas sem o nome do pai durante a pandemia também é uma realidade marcante. Conforme dados extraídos do Portal da Transparência do Registro Civil, entre os anos de 2020 e 2022, aproximadamente 320 mil crianças foram registradas apenas com o nome materno, o que equivale a 6% do total de nascimentos nesse período no Brasil (JANSEN, 2022) . Os motivos para essa redução no número de crianças registradas com o nome do pai podem ser variados, contudo, independentemente das razões, as mulheres serão impactadas no exercício da maternidade.
1.3 Mulheres, maternidade e saúde mental
Embora a saúde mental seja um desafio para a maioria das mães, as mães solo enfrentam obstáculos adicionais. Dados do IBGE indicam que no Brasil mais de 11 milhões de mulheres são mães solo, sendo que mais de 1/3 das famílias são chefiadas por mulheres, com 63% delas vivendo abaixo da linha de pobreza (CALDAS, 2021). Obstáculos como falta de creche e escola, dificuldades de acesso à saúde pública, desemprego, disputas judiciais pela guarda ou pensão alimentícia e chantagens emocionais complicam o bem-estar físico e mental dessas mães. Esses desafios, associados à condição social das mulheres, tornam o exercício da maternidade mais oneroso do que o da paternidade, destacando a necessidade de uma busca por igualdade material (OLIVEIRA; HOLANDA, 2022).
Investir na saúde pública e na infraestrutura escolar para garantir o melhor acesso, bem como promover a participação igualitária das mulheres no âmbito profissional, implementar políticas públicas que humanizem o atendimento durante a gestação, parto e pós-parto, e criar estruturas comunitárias de apoio familiar são algumas das medidas cruciais que o governo deve adotar. Essas ações são essenciais para que a saúde mental materna deixe de ser um problema de saúde pública, garantindo um ambiente mais favorável ao bem-estar das mães, especialmente aquelas que enfrentam desafios adicionais como mães solo.
Existem situações às quais as gestantes são submetidas, podendo aumentar o risco para a saúde e contribuir para o surgimento de doenças não diretamente relacionadas à gravidez. Tais situações incluem atendimento desumano por profissionais de saúde, violência doméstica, psicológica e obstétrica, assédio moral dentro e fora de casa, além da ansiedade decorrente de insegurança econômica e emocional (DELBONI, 2021). Esses desafios destacam a necessidade de abordagens abrangentes para promover o bem-estar integral das gestantes.
Do o ponto de vista da saúde, a gestação representa uma experiência que acarreta uma série de implicações para o corpo e o bem-estar da mulher. Estar grávida implica em mudanças físicas e psicológicas, como quais, sem o acompanhamento adequado dos profissionais de saúde, da família e da rede de apoio, podem representar riscos para a saúde e a integridade física tanto da mãe quanto do filho (GUERRA et al, 2014 ).
A incidência de problemas de saúde mental entre gestantes no Brasil varia de 31% a 41%, sendo que na região central do país mais da metade das gestantes apresentam transtornos mentais (GUIMARÃES et al., 2019). Esses problemas não se encerram com o términoo da gravidez. No puerpério, as mudanças na rotina, no corpo e na mente tornam-se evidentes. A falta de uma rede de apoio, a ausência do companheiro e da família durante o período de adaptação, bem como as mudanças físicas e experiências traumáticas durante o parto, são fatores desencadeadores para o desenvolvimento de transtornos nesse período pós-parto.
2 METODOLOGIA
O presente estudo adota uma abordagem dedutiva, iniciando com uma ampla compreensão do tema para, posteriormente, alcançar uma perspectiva mais específica sobre o impacto da desigualdade de gênero na saúde mental feminina. A pesquisa é conduzida por meio de uma abordagem qualitativa, proporcionando interpretações dos dados obtidos a partir da realidade social. Utilizou-se revisão bibliográfica de obras que abordam o tema, examinando artigos científicos, fontes especializadas, dissertações de mestrado e teses de doutorado relevantes para o desenvolvimento da pesquisa.
O caráter da pesquisa é exploratório, fundamentando-se na revisão da literatura para identificar padrões e conexões que elucidem a complexa relação entre a desigualdade de gênero, a pandemia e os problemas mentais enfrentados pelas mulheres. Essa abordagem permitiu uma compreensão aprofundada dos fatores determinantes dos desafios enfrentados pelas mulheres em sua saúde mental.
A condução deste estudo é justificada pela urgência em alcançar a igualdade de gênero e uma distribuição equitativa das responsabilidades no contexto doméstico, confirmando a importância dessa questão como um imperativo de justiça social e um compromisso com os Direitos Humanos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A presente pesquisa explora a complexa interseção entre gênero, desigualdade social e saúde mental feminina, com abordagem nos desafios enfrentados pelas mulheres, particularmente durante a pandemia de COVID-19. Os resultados parciais evidenciaram uma realidade marcada pela sobrecarga de responsabilidades atribuídas às mulheres, tanto no âmbito doméstico quanto profissional, repercutindo de maneira significativa em sua saúde mental.
A desigualdade de gênero, permeada por estereótipos e expectativas sociais, perpetua a distribuição desigual de responsabilidades, especialmente no contexto doméstico. Mesmo com conquistas no mercado de trabalho, as mulheres ainda enfrentam o peso desproporcional das tarefas domésticas, contribuindo para uma carga excessiva de trabalho. Esse acúmulo, agravado ainda mais pela pandemia, comprovado em impactos devastadores na saúde mental, manifestados em níveis elevados de exaustão e depressão.
A análise da maternidade sob a perspectiva de gênero revela desafios adicionais para as mães solo, que enfrentam obstáculos como falta de suporte, dificuldades econômicas e discriminação social. O estigma associado às mulheres que não se conformam com o modelo tradicional de maternidade perpetua pressão psicológica e emocional, agravando a vulnerabilidade dessas mulheres.
A pandemia, ao impor o isolamento social, exacerbou as disparidades de gênero, evidenciando as condições precárias enfrentadas pelas mulheres. O aumento expressivo do desemprego feminino, aliado ao fechamento de escolas e à falta de acesso aos cuidados de saúde, contribuiu para um cenário alarmante de amplitude da saúde mental. As mulheres, muitas das quais chefiam famílias, vivenciaram um período de intensa pressão, resultando em consequências adversas para o seu bem-estar psicossocial.
Os dados revelaram também um aumento significativo no número de crianças registradas sem o nome do pai, destacando possíveis impactos na dinâmica familiar e nas experiências maternas. Essa tendência reflete as complexas relações de poder e as consequências diretas da desigualdade de gênero no exercício da maternidade.
Tendo em vista os aspectos observados, a pesquisa aponta para a urgência de abordagens amplas e integradas no combate à desigualdade de gênero, envolvendo não somente a equidade no ambiente doméstico, mas também transformações estruturais na sociedade. A discussão desses resultados enfatiza a necessidade de políticas públicas que promovam a igualdade social entre os gêneros, além de evidenciar a importância de um trabalho efetivo contínuo para a saúde mental das mulheres. Essa continuidade deve envolver não apenas intervenções no âmbito social, como políticas de equidade de gênero e programas de apoio às mães solo, mas também a promoção de ambientes de trabalho mais inclusivos e flexíveis.
A discussão sobre a saúde mental materna deve transcender a esfera individual e abranger as estruturas sociais que afetam a sobrecarga das mulheres. A conscientização sobre os impactos da desigualdade de gênero na saúde mental é fundamental, evoluindo para uma transformação cultural e a desconstrução de padrões que perpetuam a discriminação.
No contexto da pandemia, a pesquisa destaca a importância de medidas emergenciais para mitigar os efeitos adversos sobre as mulheres. Investimentos em saúde pública, suporte psicossocial, e a criação de redes de apoio comunitário são essenciais para enfrentar os desafios imediatos e promover a resiliência.
Em termos de contribuição acadêmica, este estudo busca preencher lacunas na compreensão da relação entre desigualdade de gênero e saúde mental, fornecendo insights valiosos para pesquisadores, profissionais de saúde e formuladores de políticas. O método dedutivo, aliado à abordagem qualitativa, possibilitou uma análise aprofundada dos dados disponíveis na literatura especializada.
Ademais, a pesquisa reforça a necessidade de abordagens integradas e multifacetadas para enfrentar a desigualdade de gênero e seus impactos na saúde mental das mulheres. O caminho para uma sociedade mais justa e equitativa requer não apenas a identificação e compreensão desses desafios, mas também a implementação de medidas concretas e transformadoras.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da história, as mulheres têm liderado movimentos e lutas sociais em busca da equidade entre os gêneros. Apesar de muitas conquistas, o abismo persiste entre o masculino e o feminino. Quando associados a marcadores como classe e raça, os desafios de gênero evidenciam que a igualdade material ainda é uma realidade distante para as mulheres em geral.
A entrada da mulher no mercado de trabalho foi uma conquista significativa do movimento feminista, mas mesmo com essa inserção, ainda não conseguiu se desvincular totalmente do papel tradicional reservado a ela no ambiente doméstico. No lar, não há uma divisão equitativa de tarefas entre os gêneros; pelo contrário, observa-se uma carga desproporcional dessas responsabilidades sobre as mulheres comparado aos homens.
A pandemia da Covid-19, utilizando-se dos preceitos da democracia, afetou a todos, porém, infelizmente, seus desdobramentos não foram uniformes. Aqueles que durante a realidade pré-pandemia viram suas vulnerabilidades ampliadas pelo vírus, que, nesse aspecto, mostraram-se mais cruéis do que democrático. As mulheres, sem dúvida, foram profundamente impactadas pelos efeitos adversos da pandemia, enfrentando questões como aumento da carga de trabalho, jornada dupla, desemprego e um aumento alarmante nos casos de violência doméstica.
A realidade social na qual as mulheres estão imersas, aliada aos impactos da pandemia e às ramificações da maternidade, afeta de maneira contundente, resultando em efeitos físicos, materiais e psíquicos. No que diz respeito à saúde mental e à maternidade, os dados provenientes da pesquisa documental evidenciam uma realidade delicada para gestantes que enfrentam transtornos mentais.
Retomando a pergunta de pesquisa, que se indaga sobre a medida em que a desigualdade de gênero pode afetar a saúde mental das mulheres, é possível afirmar que essa desigualdade tem um impacto significativo que transcende o indivíduo; ela é sistêmica e estrutural. Além disso, é importante ressaltar que essa problemática é interseccional, envolvendo questões como classe e raça, muitas vezes negligenciadas diante da centralidade da desigualdade de gênero.
REFERÊNCIAS
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BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Sérgio Milliet (Trad.). 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
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CALDAS, Ana Carolina. Desemprego, medo e sobrecarga: a realidade de mães solo na pandemia. Brasil de Fato. 01 mai.2021. Disponívelhttps://www.brasildefato.com.br/2021/05/01/desemprego-medo-e-sobrecarga-a-realidade-de-maes-solo-na-pandemia. Acesso em 15 abr.2022.
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