Introdução: A epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, sendo mais prevalente na infância, se caracteriza por crises convulsivas recorrentes, que podem causar prejuízos físicos, cognitivos, emocionais e sociais. A qualidade de vida (QV) e o bem-estar das crianças com epilepsia e de suas famílias podem ser afetados por diversos fatores, como a frequência, a intensidade e a duração das crises, o uso de medicamentos antiepilépticos (MAEs), os efeitos adversos, as comorbidades, o estigma, o isolamento, o estresse e a ansiedade. O tratamento farmacológico da epilepsia visa a reduzir ou a eliminar as crises, mas nem sempre é eficaz ou tolerável, nesse sentido, tem-se a necessidade de buscar alternativas terapêuticas mais seguras e efetivas. Uma dessas alternativas é o canabidiol (CBD), um dos principais componentes da planta Cannabis sativa, que possui propriedades anticonvulsivantes, anti-inflamatórias, neuroprotetoras e ansiolíticas. O CBD tem sido utilizado como tratamento complementar para crianças com epilepsias refratárias, especialmente as síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut, que são formas graves e raras de epilepsia infantil. Objetivo: Avaliar o impacto do CBD na QV e no bem-estar de crianças com epilepsia e de suas famílias, bem como os mecanismos de ação, a eficácia, a segurança e os custos do tratamento. Metodologia: Trata-se de uma revisão da literatura, em que foi realizada uma busca nas bases de dados PubMed, Scielo e Lilacs, utilizando os descritores: “cannabidiol”, “epilepsy”, “children”, “quality of life” e “well-being”, no idioma inglês e português, no período de 2018 a 2023. Foram incluídos estudos originais, revisão, gratuitos e que abordassem o uso do CBD para o tratamento de crianças com epilepsia, como critérios de exclusão fora: estudos que não estivessem disponíveis na íntegra ou que não fossem relevantes para o tema. Resultados e discussão: Foram encontrados 42 estudos, dos quais 10 foram selecionados para a análise. A síntese dos principais achados na revisão foram, o CBD é um canabinoide, que interage com diversos receptores e canais iônicos no sistema nervoso central, modulando a neurotransmissão, a neuroinflamação, a neurogênese, a neuroproteção e a plasticidade sináptica. Os principais mecanismos de ação do CBD na epilepsia são: a inibição da recaptação e da degradação do endocanabinoide anandamida, que atua como um neuromodulador anticonvulsivante; a ativação do receptor serotoninérgico 5-HT1A, que exerce efeitos ansiolíticos, antidepressivos e anticonvulsivantes; a inibição do receptor transiente TRPV1, que está envolvido na neuroinflamação e na excitotoxicidade; a inibição do receptor GPR55, que está relacionado à modulação da atividade neuronal e à neuroproteção. A eficácia e segurança do CBD na epilepsia no tratamento de crianças com epilepsias , especialmente as síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut, que são formas graves e raras de epilepsia infantil, os principais estudos que avaliaram o CBD nesses casos foram os ensaios clínicos randomizados e controlados com o Epidiolex, um produto farmacêutico padronizado e purificado de CBD, que obteve aprovação da Food and Drug Administration (FDA) e da European Medicines Agency (EMA) para o tratamento dessas síndromes. Os resultados desses estudos mostraram que o CBD, em doses de 10 a 20 mg/kg/dia, em associação com outros MAEs, reduziu significativamente a frequência das crises convulsivas, em comparação com o placebo, em até 50% dos pacientes. Além disso, o CBD melhorou a qualidade do sono, o alerta, o humor e a cognição dos pacientes. Além disso, o CBD tem um impacto positivo na QV e no bem-estar das crianças com epilepsia, pois além de reduzir a frequência e a intensidade das crises, melhora outros aspectos físicos, psicológicos e sociais. Os resultados ainda mostraram que o CBD melhorou a QV e o bem-estar das crianças com epilepsia, em domínios como: saúde física, saúde mental, autoestima, comportamento, cognição, comunicação, interação social, atividades escolares, atividades de lazer, independência e satisfação, no bem-estar das famílias das crianças com epilepsia, alivia o sofrimento, o estresse, a ansiedade, a depressão, a culpa, o medo, a frustração, a sobrecarga, o isolamento e o estigma que essas famílias enfrentam. Conclusão: O canabidiol é uma alternativa terapêutica promissora para crianças com epilepsia, especialmente as que sofrem de síndromes de Dravet e de Lennox-Gastaut, que são formas graves e raras da doença. O CBD mostrou eficácia e segurança em ensaios clínicos, diminuindo a frequência e a intensidade das crises convulsivas, e melhorando a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes e de suas famílias. No entanto, o CBD ainda não é oferecido pelo sistema nacional de saúde, mas pode ser comprado em farmácias autorizadas ou importado sob prescrição e consentimento informado.
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