Introdução: O abdome agudo é uma condição médica caracterizada por dor abdominal intensa de início súbito que requer avaliação e tratamento urgentes. Em mulheres, o diagnóstico diferencial de abdome agudo é especialmente complexo devido à presença de órgãos reprodutivos, sendo a Doença Inflamatória Pélvica (DIP) uma das causas frequentes. A DIP é uma infecção dos órgãos reprodutivos femininos, geralmente causada por patógenos sexualmente transmissíveis, como Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae. Essa condição pode levar a complicações graves, incluindo infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica, se não diagnosticada e tratada precocemente. Portanto, o diagnóstico rápido e preciso da DIP como causa de abdome agudo é crucial para melhorar os desfechos clínicos das pacientes. Objetivo: O presente estudo visa revisar a literatura existente sobre os métodos de diagnóstico do abdome agudo em mulheres quando relacionado à Doença Inflamatória Pélvica, identificando práticas recomendadas, avanços tecnológicos e desafios enfrentados na detecção precoce desta condição. Metodologia: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura utilizando as bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science, abrangendo artigos publicados nos últimos 10 anos (2013-2023). Os critérios de inclusão foram estudos que abordaram o diagnóstico de abdome agudo em mulheres especificamente relacionado à DIP, incluindo métodos clínicos, exames laboratoriais, técnicas de imagem e uso de marcadores inflamatórios. Foram excluídos estudos que se concentravam apenas em tratamentos ou em outras causas de abdome agudo não relacionadas à DIP. No total, 35 artigos atenderam aos critérios de inclusão e foram analisados para esta revisão. Resultados: A revisão identificou que o diagnóstico de abdome agudo em mulheres com suspeita de DIP depende de uma abordagem multidisciplinar que inclui a avaliação clínica, exames laboratoriais e técnicas de imagem. A avaliação clínica inicial baseia-se na história detalhada da paciente, incluindo sintomas de dor pélvica, febre, corrimento vaginal anormal e histórico de infecções sexualmente transmissíveis. O exame físico deve incluir palpação abdominal e pélvica para detectar sinais de sensibilidade, massas ou dor à mobilização do colo uterino. Os exames laboratoriais desempenham um papel essencial no diagnóstico da DIP. A contagem de leucócitos, a proteína C-reativa (PCR) e a taxa de sedimentação de eritrócitos (ESR) são frequentemente usados como marcadores inflamatórios para avaliar a presença de infecção. A cultura de secreção vaginal e os testes de amplificação de ácido nucleico (NAATs) são os métodos mais sensíveis para identificar patógenos específicos, como Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae. As técnicas de imagem, como ultrassonografia transvaginal, são fundamentais para avaliar a extensão da inflamação e a presença de abscessos pélvicos ou tubo-ovarianos. A ultrassonografia é a primeira escolha por ser não invasiva, amplamente disponível e eficaz na detecção de complicações associadas à DIP. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) também são utilizadas, especialmente em casos complexos ou quando a ultrassonografia não fornece informações conclusivas. Esses exames de imagem são úteis para distinguir a DIP de outras condições que causam abdome agudo, como apendicite, gravidez ectópica ou torção ovariana. Adicionalmente, a revisão destacou o papel emergente da laparoscopia diagnóstica, que, embora invasiva, permite a visualização direta dos órgãos pélvicos e a coleta de amostras para confirmação histopatológica em casos duvidosos. Esse procedimento é considerado o padrão-ouro em situações onde o diagnóstico não pode ser confirmado por outros meios. Considerações Finais: O diagnóstico de abdome agudo em mulheres relacionado à Doença Inflamatória Pélvica é um desafio clínico devido à sobreposição de sintomas com outras condições abdominais. A abordagem diagnóstica deve ser rápida, abrangente e multidisciplinar, combinando anamnese, exame físico, exames laboratoriais e técnicas de imagem. A ultrassonografia transvaginal e o uso de testes moleculares para patógenos específicos são fundamentais para o diagnóstico precoce e preciso. Entretanto, barreiras como o acesso limitado a cuidados especializados e a variabilidade na apresentação clínica podem atrasar o diagnóstico e o tratamento adequados, especialmente em contextos de recursos limitados. Estudos futuros devem focar na implementação de protocolos padronizados para melhorar a detecção precoce e na integração de novas tecnologias para otimizar o manejo da DIP como causa de abdome agudo em mulheres.
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