OFICINAS SOBRE RELACIONAMENTO ABUSIVO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

OFICINAS SOBRE RELACIONAMENTO ABUSIVO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

• Autor
• Bruna Souza de Oliveira
• Co-autores
• Darlyanne da Silva Costa , Narlla Andrade de Sousa , Amanda Lívia de Lima Cavalcante , Sara Guerra Carvalho de Almeida
• Resumo

• A pandemia global, a qual teve início em 2020, provocou profundas mudanças na dinâmica social em decorrência do vírus COVID-19. Seguindo os protocolos de segurança recomendados pela OMS (Organização das Nações Unidas), o Brasil deu início ao isolamento e distanciamento social, e consequentemente, diversas pessoas romperam com suas rotinas e passaram a permanecer em casa em tempo integral, saindo somente quando necessário (MARQUES et al, 2020). Essa nova realidade repercutiu diretamente nas relações interpessoais de familiares e parceiros íntimos, com isso, Marques (et al, 2020) aponta como se tornou uma preocupação latente entre pesquisadores e autoridades o súbito aumento no número de violências domésticas. Barreto (2018) traz em seu estudo sobre relacionamentos abusivos, que a violência está intrinsecamente presente em vínculos abusivos, sendo a última ferramenta de controle disponível ao abusador (ARENDT, 1985). Isto posto, o conceito de relacionamento abusivo compreendido aqui é o cunhado por Barreto (2015), o qual entende estes como vínculos nos quais existem poder e controle em demasia, gerando consequentemente a objetificação do outro e sentimentos possessivos. Movidas por tal realidade social e pelas práticas de estágio, as alunas do Centro Universitário Unifametro se atentaram a necessidade de, para além de se debruçar na pesquisa sobre a temática de Relacionamentos Abusivos, também produzir e gerar discussões e reflexões para as vivências práticas de estudantes de psicologia. Assim foi elaborado um evento com oficinas temáticas sobre relacionamento abusivo, de forma a apresentar os conceitos e elaborar trocas e construções de saber que pudessem potencializar a atuação de futuros profissionais no acolhimento e enfrentamento de violências decorrentes de relacionamentos abusivos. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de pesquisadoras sobre a temática "Relacionamento Abusivo", na facilitação de uma oficina teórica e vivencial sobre o tema. Tendo como base de dados diários de campo e relatórios produzidos no decorrer dos encontros da oficina, este trabalho se caracteriza como um relato de experiência, o qual é entendido por Daltro e Faria (2019), como um método que compreende as vivências, percepções e sensações do pesquisador válidas para o saber científico, desde que acompanhe um viés crítico dos elementos sócio políticos atrelados ao contexto. Portanto, as vivências e percepções trazidas neste trabalho foram articuladas com teóricos que trabalham as temáticas de relacionamento abusivo, gênero e violências, respectivamente Raquel Barreto, Diniz, Welzer-Lang, Guinot e Rejane Vasconcelos. A oficina contou com 4 encontros, de 26 de abril a 19 de maio de 2021, e teve a participação de 64 participantes inscritos, dentre os quais apenas 4 do gênero masculino. Nos dias que precederam o evento, foram planejadas a organização, a construção de artes para divulgação, o site para inscrição, as ferramentas para registro de presença dos participantes e feedback. Os temas dos encontros foram: "Só as relações amorosas podem ser abusivas?"; "Comunidade LGBTQ+ e relacionamento abusivo."; "Violência e seus Ciclos" e "Será que eu já fui abusivo?". Tudo foi elaborado e construído em meios online, a partir de plataformas que oferecem livre acesso para tais atividades, obedecendo assim às diretrizes de saúde. A impressão mais impactante do evento foi o interesse e engajamento quase que completo de pessoas do gênero feminino, somente 4 participantes do gênero masculino se inscreveram, ainda assim havendo desistência de 2 deles no decorrer dos encontros. Diniz, Welzer-Lang e Guinot (2021), discutem em um trabalho sobre masculinidades e violência entre parceiros íntimos, como que a maioria dos teóricos da área retratam a mulher como principal vítima e com maior vulnerabilidade em contextos de relacionamentos abusivos e a necessidade de estimular a pesquisa de diferentes pontos de vista, considerando diferentes gêneros, podendo desta forma resultar num engajamento maior das masculinidades. Durante os encontros foi utilizado de produções audiovisuais sobre a temática, uma vez que esta é uma importante ferramenta de conhecimento e reflexão, a qual levanta questionamentos e abre espaço para discussões sobre dilemas morais, valores e posturas pessoais, dando a possibilidade de acessar uma experiência nunca vivida e tendo o poder de afetar e tocar o outro (CRUZ e LOHR, 2008). E a partir das interações e dos feedbacks dos participantes, colhidos por um questionário virtual, foi observada a importância da arte na apresentação de contextos atípicos para a compreensão de diferentes realidades. No encontro sobre relacionamentos LGBTQ+, tais ferramentas foram imprescindíveis para a compreensão de pessoas cisgenero (aquelas  que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer) e heterossexuais (sentem atração sexual/afetiva por pessoas do gênero oposto) sobre a realidade de pessoas dissidentes sexuais e de gênero, uma vez que as percepções de mundo, relacionamentos e violências são distintas e complexas.  Os feedbacks e discussões geraram também a reflexão da importância de se discutir mais sobre a temática em meio acadêmico, uma vez que muitos conceitos e temas se mostraram desconhecidos para múltiplos participantes, e estes apontaram a necessidade de se aprofundar em temas atuais, que reverberam de forma impactante em diversos indivíduos. E trazendo novamente o contexto atual, numa realidade pandêmica e de isolamento social, houve um crescimento de 18% nas denúncias de violência doméstica, e sinalizamos que o isolamento contribui para que mulheres e outras identidades vulneráveis estejam mais frequentemente em situações de controle e perigo (VIEIRA, GARCIA E MACIEL, 2020). Conclui-se aqui a necessidade de se refletir sobre a presença masculina em tais discussões, e sobre as produções científicas vinculando relacionamentos abusivos e gêneros. Salientamos também a importância de incentivar discussões sobre tais temáticas como forma de preparar futuros profissionais de psicologia para as adversidades presentes na sociedade, como também dar embasamento teórico prático para a construção de ações de enfrentamento e acolhimento em situações de violência advindas de relacionamentos abusivos.

   

  Palavras-chave: Relacionamento abusivo; Relato de experiência; Oficina.

• Palavras-chave
• Relacionamento abusivo; Relato de experiência; Oficina
• Modalidade
• Comunicação oral
• Área Temática
• Movimentos Sociais, Conflito e Direitos humanos

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