Desde os anos 1980 iniciou-se se a inserção na Academia do debate das questões de gênero, sexualidade, raça e etnia – movimento esse que até hoje é atravessado por desafios epistemológicos e metodológico, visto que há inúmeras disputas teóricas e políticas entre os discursos hegemônicos, baseadas em explicações biologizantes, e os discursos psicossociais, mais alinhado com os movimentos sociais e com explicações culturais. Desde do clássico “O segundo sexo” de Simone de Beauvoir (1980) até os estudos decoloniais latino-americanos e dos feminismos negros, vemos a dificuldade que é superar as imagens que associam mulheres a maternidade, aos afazeres domésticos, aos serviços de cuidado, à submissão em relações amorosas. Contudo, quando analisamos as experimentações que acontecem ancestralmente nas religiões e sociedades de matriz africana, podemos reconhecer outras referências: a visão predominante e essencialista do biológico não é algo predominante, havendo, assim, possibilidades maiores de exposições e participação, desde as funções assumidas na comunidade e na mística religiosa, até, inclusive, quanto aos aspectos relacionados à sexualidade. Historicamente, as mulheres, principalmente as mulheres negras, tiveram um processo de construção de representações e valores fundamentado pela violência, sendo esse público refém de uma existência excluída. Com isso, entende-se que os discursos de ódio, as crenças exclusivas e as representações desmoralizadoras, corroboram de forma negativa na construção de identidade e autoestima femininas (SAFFIOTI, 2013). De acordo com Afonso (2021), a psicologia social no campo da amplitude subjetiva das interações de opressão e exploração, observa as relações de desigualdades sociais como formas de impedimento político e exclusão do gênero feminino, uma vez que as mulheres ainda sofrem com os aspectos históricos de subordinação, tendo suas falas interrompidas e caladas quando tentam se posicionar. Este trabalho tem como objetivo analisar como gênero e raça surgem no discurso sobre as mulheres nas religiões de matriz africana, problematizando a partir da psicologia social, contribuições desse campo de saber-poder para pensarmos o empoderamento feminino. Usou-se como metodologia de pesquisa a revisão bibliográfica. Foi utilizado como literatura principal, artigos científicos, livros e o filme documentário, “A Cidade das Mulheres” de Lázaro Faria, baseado no livro de mesmo nome da Antropóloga, Ruth Landes. também para obtenção de dados foram utilizados os artigos com as temáticas de gênero, empoderamento feminino, religiões de matriz africana, psicologia e interseccionalidade. Foram consultados 11 artigos datados de 2005 a 2022 e 4 livros. De acordo com Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é feita a partir de materiais que já existem através de livros e artigos científicos. As publicações que foram submetidas consistiam em leituras realizadas com o cuidado e apropriação do que é estudado para não ocorrer repetições. Segundo Amaral (2007), é uma etapa fundamental em todo trabalho científico, pois influenciará todas as etapas de uma pesquisa. Carla Akotirene (2019) apud Kimberlé Crenshaw (2017), discorre sobre a interseccionalidade como um conflito de avenidas de identidade que possibilitam o racismo e o sexismo das mulheres negras. O atravessamento que se dá devido a estas discussões, mostraram o quão forte é a presença da força feminina nas religiões de matriz africana. De acordo com Sueli Carneiro (2015) em seu livro “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”, “nas religiões de matrizes africanas as deusas atravessam esses estreitos limites instituídos pelo feminino”.Na história dos orixás, é possível observar melhor essa descentralização da heteronormatividade quando analisamos as relações entre um orixá e outro. Por exemplo, de acordo com uma das histórias, Oyá, orixá dos fenômenos da natureza, teve relações com Osun, orixá rainha das águas doces, apontando o envolvimento de duas figuras femininas. As figuras femininas quando vistas da perspectiva das religiões de matriz africana, são caracterizadas com representações que fogem das definições cristãs, onde a mulher é submissa e passiva, elas são representadas como personagens centrais e de importantes funções dentro do terreiro, representando independência, criação, harmonia entre deusas, deuses e humanos (BASTOS, 2011). Quando observamos que comumente as mulheres são reduzidas à uma imagem sexual de satisfação do desejo masculino, sendo esses corpos expostos a abusos, vemos figuras como a pomba-gira romper isso, através dos seus comportamentos sensuais e devido à sua independência. Contudo, pode-se observar esse atravessamento quando observado o desprezo direcionado à Pomba-Gira, entidade considerada a mensageira entre os orixás e a terra, na qual representa tudo aquilo que marginalizado pela sociedade popular quando se trata da imagem feminina (BASTOS, 2011). Através da discussão, é possível perceber que o arcabouço teórico-cultural é enriquecedor e que, durante a realização da pesquisa, é perceptível a complexidade do tema e a cautela de não misturar ciência com religião. Portanto, através da lente das religiões de matriz africanas e da psicologia social, foi possível ver a importância de debater sobre gênero e como este é visto pela sociedade.
Palavras-chave: Psicologia Social; Violência de gênero; Empoderamento Feminino; Religiões de Matriz Africana.
Referências:
AFONSO, M. L. Respostas de movimentos sociais feministas à pandemia de COVID-19: notas prévias de pesquisa em psicologia social. MovimentAção, v. 8, n. 14, p. 209–215, 2 ago. 2021.
AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. Pólen Produção Editorial Ltda, 2019.
AMARAL, João JF. Como fazer uma pesquisa bibliográfica. 2007, v. 137, p. 8081, 2012.
BASTOS, I. S. et al. Mulheres Iabas: liderança, sexualidade e transgressão no candomblé. João Pessoa - UFPB - 2011.
CARNEIRO, S. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. Selo Negro, 2015.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LEME, J. B. Interseccionalidade de Raça/Etnia, Classe e Gênero: Contribuições para a Descolonização da Psicologia. 2020.
SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes – mitos e realidade. São Paulo, SP: Expressão Popular, 2013.
DE BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Nova Fronteira, 2014.
Seja bem-vind@ à leitura dos Anais da Conexão Unifametro 2022!
Temos o prazer de disponibilizar à comunidade acadêmica os Anais do X Encontro de Iniciação à Pesquisa, X Encontro de Monitoria, XII Encontro de Pós-graduação e III Encontro de Experiências Docentes. Aqui estão os trabalhos que foram apresentados durante o evento, que agora são compartilhados em forma de artigos digitais.
Esperamos que essa coletânea possa auxiliar em estudos e pesquisas, estimular outros alunos e professores à produção científica e dar subsídios a novas práticas em campos de atuação diversos das áreas da saúde, humanas e exatas.
Agradecemos a todos pela confiaça em compartilhar suas produções científicas em nosso evento e contamos com sua participação na próxima Conexão!.
Boa leitura!
Drª. Denise Moreira Lima Lobo
Coordenadora da Comissão Científica da Conexão Unifametro 2022
As normas para submissão e apresentação de trabalhos podem ser acessadas em: https://doity.com.br/conexao-unifametro-2022/artigos
Comissão Organizadora
Juliana Pereira Pessoa
Thalita Rodrigues
Thaiane Bezerra
Arlan Diego Alencar Freitas
Ricardo Junior
Fábio Júnior Braga
Murilo Costa
Davi Menezes
Raphaela Sobral
Laiza Rodrigues
Comissão Científica
Denise Moreira Lima Lobo - Coordenação Comissão Científica
Lucas Souza
Roberta Mable Rabelo Sampaio Mapurunga
A Comissão Científica permanece à disposição pelo e-mail conexaocientifica@unifametro.edu.br e presencialmente na sala da Coordenadoria de Pesquisa e Monitoria (COOPEM) localizada no Campus Carneiro da Cunha do Centro Universitário Fametro - Unifametro.
Os anais da CONEXÃO Unifametro 2021 estão disponíveis no link: https://doity.com.br/anais/conexaounifametro2021
Os anais da CONEXÃO Unifametro 2020 estão disponíveis no link: https://doity.com.br/anais/conexaounifametro2020
Os anais da CONEXÃO Unifametro 2019 estão disponíveis no link: https://doity.com.br/anais/conexaounifametro2019
Os anais da CONEXÃO Unifametro 2018 estão disponíveis no link: https://doity.com.br/anais/conexaofametro2018