No mundo contemporâneo há o prevalecimento da lógica capitalista de produção em massa, gerada a partir de noções produtivistas, difundidas durante longo período da história da humanidade, sobretudo com o advento das Revoluções Industriais no século XIX. Entretanto, a partir desses ideais econômicos altamente difundidos, a clínica foi contaminada pela mesma lógica de produção em massa, onde o seu fazer se reduz a técnicas previamente estabelecidas, logo, ela tem o seu fazer cunhado na padronização e industrialização. Nesse sentido, uma das formas de manifestação deste fenômeno é o processo crescente de patologização facilmente verificável com o aumento dos registros patológicos previstos nos DSMs e CIDs. A partir dessa noção, a psicoterapia, se resume a uma mera ferramenta, onde o seu saber pode ser capturado a priori de maneira a enrijecer os próprios modos de fazer clínica que se solidificam em ações retificadores de comportamento e enquadramentos sociais. A este respeito, este trabalho se propõe a pensar em um modelo terapêutico que caminha na contramão do pensamento capitalista e que resista a esse movimento histórico de massificação. O objetivo da reflexão pode se estabelecer a partir da compreensão de que pensar a clínica artisticamente pode ser um caminho possível para o resgate de um fazer psicoterápico artesanal, dissociado do modo operacional e industrializado, que por vezes impera nas práticas da psicologia contemporânea. Planeja-se que esse objetivo seja atingido por meio de uma revisão bibliográfica que investiga as relações entre arte e o pensamento fenomenológico ancorado na Hermenêutica de Martin Heidegger. Essa investigação pretende criar diálogos significativos com a prática clínica, enriquecendo a compreensão das experiências terapêuticas de caráter artístico e artesanal dentro desse contexto. Pensando nisso, é possível associar essa lógica de saber-fazer que caminha para uma resolutividade com o modo de fazer contemporâneo denominado coaching. Nessa perspectiva, o que interessa é a solução das queixas, onde a angústia e paciência próprias da clínica fenomenológica são deixadas de lado. Contudo, a psicopatologia orientada por um fazer artesanal propõe o resgate do modo autêntico do humano, se constituindo através dos encontros e acontecimentos sem pressupostos pautados em uma lógica de funcionalidade. Desse modo, segundo o que afirma Sapienza, o termo "artesanal" reforça a singularidade e a personalização do que é criado, refletindo a ideia de que, a clínica fenomenológica se aproxima de uma prática que valoriza a construção conjunta entre terapeuta e paciente, onde ambos compartilham pensamentos e sentimentos. Assim, pode-se pensar num resgate do humano e de sua alteridade, ou seja, de modo que a existência possa aparecer enquanto novas possibilidades de si (poiesis). Logo, a partir da aproximação de um fazer psicoterápico que tenha como pilar o caráter artístico, será possível uma prática clínica que se afaste de modelos pré estabelecidos e industrializados, e que se aproxime de condições mais humanas. Para tanto, é preciso sustentar a angústia e indeterminação que são inerentes ao ser, para assim ser possível o aparecimento de uma clínica subversiva ao viés capitalista de maneira que permita o aparecimento dos diversos modos de ser.
É com imenso prazer que anunciamos os Anais do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste Fluminense. Este evento que está em sua quarta edição, começando como Jornada no ano de 2018 e convertendo-se em Congresso no ano de 2020, já se estabeleceu como um espaço essencial para os diálogos e a reflexões nas áreas da Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência e se propõe a explorar nesta edição o tema: "Ciências e Humanidades: Interdisciplinaridade e Perspectivas em Diálogo".
Nosso objetivo foi transcender os limites convencionais das disciplinas acadêmicas, promovendo uma rica interação entre as Ciências e as Humanidades contribuindo assim também para a abertura e consolidação de diálogos interdisciplinares no campo das ciências em geral. O evento visou estimular uma reflexão profunda sobre como diferentes campos do saber podem se entrelaçar, dialogar e juntos contribuir para a compreensão e a solução de complexos desafios contemporâneos.
Pretendemos assim abrir novas perspectivas e possibilidades de pesquisa, ensino e aplicação prática, enfatizando a importância da colaboração entre as diversas áreas do conhecimento para pensarmos de forma consistente os principais desafios constituintes do nosso tempo. Esperávamos que, ao promover este encontro de ideias, poderíamos não só ampliar nosso entendimento sobre fenômenos humanos e existenciais sob diferentes prismas, mas também fomentar inovações metodológicas e teóricas que respondam a tais desafios.
O evento, aconteceu de forma presencial, contando com a participação de renomados acadêmicos, pesquisadores e profissionais de várias partes do Brasil oferecendo uma oportunidade única para estudantes, professores, profissionais e interessados em geral de se engajarem em palestras, debates, mas também a oportunidade para pesquisadores discentes, docentes ou profissionais de apresentarem suas pesquisas na modalidade de pôster, o que enriqueceu e expandiu os horizontes de todos os participantes.
Parabéns a todos os participantes do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Comissão Organizadora
Núcleo Organizador
Comissão Organizadora
Comissão Científica
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Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência - NEPPFFE