Pode-se dizer que o mundo contemporâneo se sustenta através de uma lógica capitalista e colonial, capaz de promover formas de relação com o mundo e com a existência que podem ser traduzidas em ideais extrativistas. Nesse sentido, tal modo rígido e utilitarista de pensar as coisas, denunciado por Ailton Krenak em sua obra “Ideias para adiar o fim do mundo” o transforma em um mero recurso ou meio de produção, alimentando a lógica produtivista da era moderna regida pelo Império do Capital. Deste modo, a vida, que deveria ser reconhecida em sua indeterminação e complexidade, acaba se reduzindo a um manancial de matéria-prima ou instrumento para alcançar determinados fins, perspectiva essa que está presente nas discussões de Martin Heidegger em “A questão da técnica”. Essa maneira de se relacionar com o mundo perpetua modos de lida desumanizados e baseados em noções de produção, extração e consumo. Diante do que fora exposto, o objetivo da reflexão baseia-se em compreender de que maneira a ideia de que a vida, que tem se tornado meramente um meio de produção em massa e generalizante, pode ser dissolvida e desconstruída. Isso pode ocorrer à medida em que se torna evidente a possibilidade de reaproximação com condições mais originárias de existência que se destituem de ideais produtivistas e que se refazem em novas possibilidades de si. Planeja-se que esse objetivo seja alcançado a partir de uma pesquisa bibliográfica que caminha a bússola do que é abordado a partir da Hermenêutica em Heidegger, e o estabelecimento de diálogos com as percepções de Ailton Krenak em sua referida obra. As reflexões que este trabalho exprime se mostram de modo que, a partir das ideias apresentadas pelos autores citados, a noção vigente de humanidade, que evidencia a desvalorização da vida enquanto alteridade e natureza, possa ser restabelecida em novas percepções de mundo. A esse respeito, a era do Antropoceno, conceito geológico que responsabiliza a humanidade por seus efeitos no planeta, promove também uma condição de alienação, na qual a diversidade e as experiências humanas são sacrificadas em prol de uma lógica produtivista. Krenak sugere que a humanidade contemporânea não se constitui mais como cidadãos, mas sim como consumidores. Entretanto, as discussões que envolvem a sua obra em ressonância com o pensamento fenomenológico, propõem um resgate do que é verdadeiramente humano, enfatizando as diversidades e culturas que valorizam a natureza e reconhecem o humano como parte dela. Tal ideia pode ser compreendida em Heidegger como um resgate da indeterminação do ser. Considerando que as interfaces discutidas entre o pensamento de Krenak e o pensamento Fenomenológico envolvem noções de humanidade e a lógica capitalista e extrativista, é possível pensar em como a produtividade e a eficácia dialogam com a existência humana. Por conseguinte, propõe-se o resgate da noção de humanidade enquanto autenticidade e alteridade através da valorização das experiências diversas, de forma que a nossa existência se dê de maneira mais livre com o mundo que nos constitui e que constituímos.
É com imenso prazer que anunciamos os Anais do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste Fluminense. Este evento que está em sua quarta edição, começando como Jornada no ano de 2018 e convertendo-se em Congresso no ano de 2020, já se estabeleceu como um espaço essencial para os diálogos e a reflexões nas áreas da Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência e se propõe a explorar nesta edição o tema: "Ciências e Humanidades: Interdisciplinaridade e Perspectivas em Diálogo".
Nosso objetivo foi transcender os limites convencionais das disciplinas acadêmicas, promovendo uma rica interação entre as Ciências e as Humanidades contribuindo assim também para a abertura e consolidação de diálogos interdisciplinares no campo das ciências em geral. O evento visou estimular uma reflexão profunda sobre como diferentes campos do saber podem se entrelaçar, dialogar e juntos contribuir para a compreensão e a solução de complexos desafios contemporâneos.
Pretendemos assim abrir novas perspectivas e possibilidades de pesquisa, ensino e aplicação prática, enfatizando a importância da colaboração entre as diversas áreas do conhecimento para pensarmos de forma consistente os principais desafios constituintes do nosso tempo. Esperávamos que, ao promover este encontro de ideias, poderíamos não só ampliar nosso entendimento sobre fenômenos humanos e existenciais sob diferentes prismas, mas também fomentar inovações metodológicas e teóricas que respondam a tais desafios.
O evento, aconteceu de forma presencial, contando com a participação de renomados acadêmicos, pesquisadores e profissionais de várias partes do Brasil oferecendo uma oportunidade única para estudantes, professores, profissionais e interessados em geral de se engajarem em palestras, debates, mas também a oportunidade para pesquisadores discentes, docentes ou profissionais de apresentarem suas pesquisas na modalidade de pôster, o que enriqueceu e expandiu os horizontes de todos os participantes.
Parabéns a todos os participantes do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Comissão Organizadora
Núcleo Organizador
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Comissão Científica
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Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência - NEPPFFE