Este trabalho propõe apresentar um modo de compreender a questão da memória na velhice distanciado de modelos pautados nas ciências naturais. Inicialmente, identificamos como o fenômeno da memória na velhice é tematizado por saberes contemporâneos. Em nossa época, o tema vem sendo predominantemente abordado pelas neurociências, que concebem memória como processo cognitivo materializado em circuitos neurais e associado à capacidade de evocar informações armazenadas. Nota-se um antagonismo entre lembrar e esquecer e uma sobreposição de valor entre eles, uma vez que os principais testes cognitivos pontuam apenas o conteúdo devidamente evocado. Os estudos neurocientíficos enfatizam a associação entre envelhecimento e degeneração do sistema nervoso, dedicando-se, sobretudo, a investigar prejuízos no desempenho mnemônico à medida que a idade avança. Norteados pela crítica heideggeriana às ciências, entendemos que o que está em jogo no paradigma neurocientífico é um modo de lidar com a vida como se ela pudesse ser explicada por eventos neuroquímicos, submetida a normatizações e concebida segundo modelos universais de funcionamento. Pelo olhar fenomenológico-hermenêutico, buscamos ultrapassar essa ótica reducionista para que o fenômeno possa aparecer em seu caráter fenomenal. Propomos, assim, um deslocamento na direção de outros horizontes compreensivos, guiados pela noção de recordação, tal como propõe Kierkegaard sob o pseudônimo de William Afham, e pela noção de esquecimento, defendida por Nietzsche. A articulação dessas duas noções possibilita pensar a memória como recordação, a recordação como artesania e o velho recordador como seu artesão. Enquanto recordação, a memória se articula à vivência singular. Enquanto artesania, a recordação é ato criador que abre possibilidades de articular sentidos do vivido. Enquanto artesão, aquele que recorda cria suas recordações pelo entrelaçamento do que se lembra e do que se esquece. Assim, lembrar e esquecer não se antagonizam, mas constituem possibilidades de lida com aquilo que nos vem ao encontro pela via da memória. Diante do exposto, compreendemos a memória na velhice como fenômeno de apreensão de nossa temporalidade. Concluímos que a perspectiva fenomenológico-hermenêutica, ao acompanhar e suspender as determinações de seu tempo, resguarda a singularidade da experiência e se aproxima do caráter sensível da relação daquele que recorda com o que é recordado.
É com imenso prazer que anunciamos os Anais do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste Fluminense. Este evento que está em sua quarta edição, começando como Jornada no ano de 2018 e convertendo-se em Congresso no ano de 2020, já se estabeleceu como um espaço essencial para os diálogos e a reflexões nas áreas da Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência e se propõe a explorar nesta edição o tema: "Ciências e Humanidades: Interdisciplinaridade e Perspectivas em Diálogo".
Nosso objetivo foi transcender os limites convencionais das disciplinas acadêmicas, promovendo uma rica interação entre as Ciências e as Humanidades contribuindo assim também para a abertura e consolidação de diálogos interdisciplinares no campo das ciências em geral. O evento visou estimular uma reflexão profunda sobre como diferentes campos do saber podem se entrelaçar, dialogar e juntos contribuir para a compreensão e a solução de complexos desafios contemporâneos.
Pretendemos assim abrir novas perspectivas e possibilidades de pesquisa, ensino e aplicação prática, enfatizando a importância da colaboração entre as diversas áreas do conhecimento para pensarmos de forma consistente os principais desafios constituintes do nosso tempo. Esperávamos que, ao promover este encontro de ideias, poderíamos não só ampliar nosso entendimento sobre fenômenos humanos e existenciais sob diferentes prismas, mas também fomentar inovações metodológicas e teóricas que respondam a tais desafios.
O evento, aconteceu de forma presencial, contando com a participação de renomados acadêmicos, pesquisadores e profissionais de várias partes do Brasil oferecendo uma oportunidade única para estudantes, professores, profissionais e interessados em geral de se engajarem em palestras, debates, mas também a oportunidade para pesquisadores discentes, docentes ou profissionais de apresentarem suas pesquisas na modalidade de pôster, o que enriqueceu e expandiu os horizontes de todos os participantes.
Parabéns a todos os participantes do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Comissão Organizadora
Núcleo Organizador
Comissão Organizadora
Comissão Científica
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Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência - NEPPFFE