Historicamente, no âmbito do pensamento Ocidental aprendemos sobre o privilégio do ato da visão em relação a outros órgãos dos sentidos, caracterizando uma certa hierarquia de conhecimentos, comumente denominada de Cosmovisão. Retomar essa controvérsia talvez possa ser uma porta de entrada, ou de saída, do já conhecido imbróglio epistêmico construído a partir da modernidade e responsável por promover uma longa série de teses e alternativas ao esquematismo dualista cunhado na estrutura sujeito-objeto.Uma marca interessante, como contraponto, é o modo de relação com a audição, ligando-a à passividade, ou simplesmente a um órgão de menor capacidade de acesso ao conhecimento, talvez possa estar no fundamento dos processos formativos conduzidos por projetos ligados à colonialidade. O desprezo pela oralidade como conhecimento, pela palavra cantada, a palavra encarnada, orgânica, que agora teria de se submeter à uma abstração, dissecação de todos os seus simbolismos para dar lugar a uma palavra seca, desprovida de materialidade - uma mera representação. Por isso mesmo, é fundamental pensar a audição para além dos aspectos fisiológicos, que permitem a explicação causal da simples audição de um som. Não se trata apenas de entender o som como onda, a vibração dos corpos e que essa vibração atinge a atmosfera, como uma propagação de ondas captadas pelos nossos ouvidos e sendo interpretada pelo cérebro, conferindo-lhes, finalmente, configurações e sentidos.Mais do que isso, o acesso ao âmbito sonoro a essa realidade se dá pela percepção e, assim, ouvimos este ou aquele som tal como vemos uma cor ou como saboreamos uma fruta.Resta saber em que consiste um tal movimento perceptivo e como habitamos esse âmbito sonoro: afinal, compreender o processo perceptivo pelo esquema sujeito-objeto seria limitar toda a complexidade dessa relação aos limites de uma epistemologia baseada em dois aspectos, em um “dentro” e um “fora” O fato é que essa luta não é simples e, por conseguinte, ainda está muito longe de ser superada. O empreendimento cartesiano propiciou uma série de análises que reduziu a tarefa da investigação filosófica à determinação do que seja o objeto, o mundo, ou as coisas do mundo a partir de representações do sujeito.Afinal, como apoiar uma compreensão, descrição, análise ou explicação de mundos apoiados num único modo de conhecimento ? Para isso, só através da força que enverga a pluriversalidade de mundos para uma universalidade que satisfaz a um projeto de hegemonia de saber, poder, conhecer eliminando outras ontologias, outros modos ser.
É com imenso prazer que anunciamos os Anais do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste Fluminense. Este evento que está em sua quarta edição, começando como Jornada no ano de 2018 e convertendo-se em Congresso no ano de 2020, já se estabeleceu como um espaço essencial para os diálogos e a reflexões nas áreas da Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência e se propõe a explorar nesta edição o tema: "Ciências e Humanidades: Interdisciplinaridade e Perspectivas em Diálogo".
Nosso objetivo foi transcender os limites convencionais das disciplinas acadêmicas, promovendo uma rica interação entre as Ciências e as Humanidades contribuindo assim também para a abertura e consolidação de diálogos interdisciplinares no campo das ciências em geral. O evento visou estimular uma reflexão profunda sobre como diferentes campos do saber podem se entrelaçar, dialogar e juntos contribuir para a compreensão e a solução de complexos desafios contemporâneos.
Pretendemos assim abrir novas perspectivas e possibilidades de pesquisa, ensino e aplicação prática, enfatizando a importância da colaboração entre as diversas áreas do conhecimento para pensarmos de forma consistente os principais desafios constituintes do nosso tempo. Esperávamos que, ao promover este encontro de ideias, poderíamos não só ampliar nosso entendimento sobre fenômenos humanos e existenciais sob diferentes prismas, mas também fomentar inovações metodológicas e teóricas que respondam a tais desafios.
O evento, aconteceu de forma presencial, contando com a participação de renomados acadêmicos, pesquisadores e profissionais de várias partes do Brasil oferecendo uma oportunidade única para estudantes, professores, profissionais e interessados em geral de se engajarem em palestras, debates, mas também a oportunidade para pesquisadores discentes, docentes ou profissionais de apresentarem suas pesquisas na modalidade de pôster, o que enriqueceu e expandiu os horizontes de todos os participantes.
Parabéns a todos os participantes do II Congresso de Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência do Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Comissão Organizadora
Núcleo Organizador
Comissão Organizadora
Comissão Científica
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Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Fenomenologia e Filosofias da Existência - NEPPFFE