A RELIGIOSIDADE COMO OBSTÁCULO AO DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS MENTAIS: UM RELATO DE CASO

A RELIGIOSIDADE COMO OBSTÁCULO AO DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS MENTAIS: UM RELATO DE CASO

• Autor
• Camila Miranda Leal
• Co-autores
• Carmen Beatriz Berni Nascimento Malacrida , João Pedro Nakamura Amaral , Vinícius Mascarós Ouriveis , Bruna Parussolo Bordon , Kleber Francisco Meneghel Vargas
• Resumo

• Introdução e objetivo: A esquizofrenia é um transtorno mental crônico caracterizado por delírios, alucinações, discursos e comportamentos desorganizados, embotamento afetivo, déficit cognitivo e disfunção ocupacional e social. A ausência de tratamento pode levar a um estado de invalidez social. Por vezes as alterações patológicas são entendidas como manifestações espirituais. O delírio religioso se inicia quando o paciente perde a dimensão das crenças usuais e associa seus sintomas psicóticos com crenças fantásticas. Este relato tem por objetivo apresentar uma paciente esquizofrênica e a forma como a religião, não especificada por ela, interferiu em seu diagnóstico e prognóstico. Relato de Caso: Paciente feminina, ERT, 37 anos, apresenta surtos psicóticos recorrentes que se iniciaram aos 15 anos e até então não haviam sido tratados por questões religiosas dos familiares responsáveis. Admitida para internação involuntária no Hospital Psiquiátrico Nosso Lar em Campo Grande-MS no dia 1º de Setembro de 2020, com as hipóteses diagnósticas iniciais de Transtorno Afetivo Bipolar (F31), Retardo Mental leve (F70), Personalidade Esquizotípica (F21) por apresentar quadro de alterações de humor, comportamento inadequado, sintomas delirantes e persecutórios; apresentava comportamento hostilizado e dissimulação quando questionada sobre seus delírios religiosos. Há relatos de evasão do convívio familiar para fins, segundo a mesma, de comunicação com espíritos. A paciente acusa o pai e o irmão pela morte da mãe, há 9 anos. Reside com o pai já que há cerca de dez anos não consegue se manter empregada devido ao seu comportamento. Mesmo com o tratamento há semanas, não apresentou melhoras significativas; não possui planejamento de vida coeso ou pretensões de manter o tratamento fora da instituição alegando que, “Deus proverá de sua vida”. Conclusão: Diante de tal caso surge a reflexão sobre a influência negativa da religiosidade dentro do diagnóstico e tratamento de pacientes psiquiátricos. Observa-se a situação de uma mulher que teve por anos sua patologia ressignificada por membros de sua família e comunidade, a ponto de lhe custar suas faculdades mentais e habilidades sociais. As crenças e experiências religiosas devem ser encaradas como patológicas por prejudicarem sua habilidade de exercer suas atividades cotidianas. A paciente não consegue distinguir os delírios religiosos de outras características de seu comportamento psicótico, reforçando seu caráter patológico.

• Palavras-chave
• Esquizofrenia, espiritualidade, religião
• Área Temática
• Clínica Médica, Cirúrgica e áreas afins

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