ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DA ESPIRITUALIDADE NO TRATAMENTO E ENFRENTAMENTO DO HIV/AIDS.

  • Autor
  • Lucas Antonio de Oliveira Santos
  • Co-autores
  • Gabriela de Sousa Mendonça , Viviane Alves da Silva , Renata Paula Lima Beltrão
  • Resumo
  •  

    1.INTRODUÇÃO:

    A Síndrome da imunodeficiência adquirida -AIDS- é uma doença infecciosa causada pelo vírus da imunodeficiência humana- HIV- em seu estágio mais avançado. O vírus ataca e destrói, principalmente, células TCD4+, que atuam liberando citocinas capacitando outras células de defesa; logo a suscetibilidade do organismo a infecções oportunistas tende a aumentar. A epidemia dessa patologia detectada em meados de 1981, evidenciou-se como um fenômeno global, instável, dinâmico, de rápida progressão e caráter, predominantemente, comportamental. (BRITO, 2001).

    O aspecto fatídico evolutivo da doença, e consequente associação da AIDS com grupos específicos socialmente marginalizados, resulta em impactos emocionais, fisiológicos e psicossociais em seus portadores. Atualmente devido a evolução dos fármacos e da terapia antirretroviral, a AIDS assumiu um caráter crônico, aumentando a sobrevida e o tempo de exposição do paciente a fatores estressores abióticos. (SEIDL, RIBEIR, & GALINKIN, 2010).

    É válido salientar que diante das demandas psicossociais, o tratamento do HIV exige condutas que ultrapassam a terapia medicamentosa, dentre as quais pode-se elencar o suporte espiritual, que nos últimos anos vem ganhando espaço no tratamento e reabilitação dos pacientes soropositivos. O presente trabalho visa explorar a vertente da espiritualidade como ferramenta terapêutica no enfrentamento das adversidades, estigmas e pressões sociais advindos da marginalização da AIDS que corrobora para o aumento dos transtornos psiquiátricos dos pacientes.

     

    2.MÉTODOS

    2.1 Critérios de elegibilidade:

    Tipo de estudo: Artigos originais que demonstram relação entre pacientes com HIV ou com SIDA e espiritualidade no enfrentamento do vírus/doença.

    Tipo de participantes: Foram considerados pacientes com HIV em qualquer idade.

    Tipo de Intervenção: artigos originais que comprovam ou não a associação benéfica entre a espiritualidade e o tratamento do paciente com HIV

    Resultados: Foram encontrados diversos artigos que relatam e ou comprovam que a espiritualidade traz grandes benefícios para o paciente com HIV, tanto no que se refere a adesão ao tratamento e qualidade de vida, quanto no que tange a diminuição da carga viral.

    2.2 Fontes de informação: Artigos originais identificados pela busca em base de dados eletrônicas, como SCIELO, LILACS e MEDLINE; a partir de limites para a linguagem e data de publicação, e a última pesquisa foi realizada em 19 de outubro de 2019.

    2.3 Pesquisa: Foram utilizados, nas línguas português, inglês e espanhol, para pesquisar no banco de dados do SCIELO, LILACS e MEDLINE, a associação dos seguintes termos de pesquisa: (HIV and Espiritualidade).

    2.4 Seleção dos estudos: inicialmente, foram selecionados artigos de pesquisa com os seguintes critérios de inclusão: relatos de caso com no máximo 5 anos (2014-2019), textos nas línguas português, inglês e espanhol, e somente relatos de casos em humanos. Após a seleção dos artigos, 2 revisores utilizaram critérios de exclusão para retirar possíveis relatos de caso que não estivessem dentro do escopo do artigo de revisão. Para isso, os títulos de todos os trabalhos pré-selecionados foram lidos e deveriam fazer referência a paciente com HIV/AIDS e a espiritualidade. Em seguida, aplicou-se os mesmos critérios para avaliar a seção resumo dos artigos remanescentes.

    2.5 Processo de coleta de dados: Desenvolvemos uma folha de extração de dados (baseada no modelo de extração de dados do Cochrane Consumers and Communication Review Group), que foi testada em dez estudos incluídos aleatoriamente e refinou-a de acordo. Um autor de revisão extraiu os dados de estudos incluídos e o segundo autor verificou os dados extraídos. Os desentendimentos foram resolvidos por discussão entre os dois autores da revisão; se nenhum acordo pudesse ser alcançado, foi planejado que um terceiro autor decidisse.

    3.Resultados

     Foram incluídos nesta revisão 29 artigos. As buscas nas bases de dados SCIELO, MEDLINE E LILACS, resultaram em um apurado total de 58 citações. Destes, após a análise dos títulos e resumos foram selecionados 37, destes 7 estudos foram descartados por não atenderem aos critérios de inclusão. Um artigo foi excluído pois o texto completo do artigo não estava disponível.

    Os resultados da revisão apontam aspectos positivos, em sua grande maioria, entre a associação da espiritualidade com o tratamento e o enfrentamento da doença. De modo que dos 29 estudos avaliados: 11 estudos associam a espiritualidade a qualidade de vida e ao bem-estar do paciente portador de HIV (PVHIV); 4 estudos associam a espiritualidade tanto a qualidade de vida quanto ao enfrentamento da doença; 8 estudos referem-se a espiritualidade somente associada ao processo de enfrentamento da doença; 1 estudo associa a espiritualidade ao tratamento e ao enfrentamento da doença; 4 artigos citam a espiritualidade e seus benefícios para tratamento da doença; 1 artigo relaciona a espiritualidade ao tratamento e a qualidade de vida do paciente.

    4 Discussão

    Segundo Fletcher (2015), a carga viral e o declínio das células CD4 apresentam relação direta com o comportamento advindo das relações espirituais desenvolvidas pelo paciente. De modo que em seu estudo de ensaios semestrais demonstrou-se que o enfrentamento espiritual proporcionou a preservação sustentada de níveis indetectáveis da carga viral (CV) ao longo de quatro anos, independentemente dos dados sociodemográficos e do estado inicial da doença. Ademais, o estudo apontou que para cada participante com enfrentamento espiritual positivo que alcança CV indetectável, quatro com enfrentamento espiritual negativo acusavam HIV detectável/ transmissível. Notavelmente, o declínio das células CD4 foi 2,25 vezes mais rápido entre aqueles envolvidos em enfrentamento espiritual negativo em relação ao positivo. Em conclusão, as relações espirituais positivas estão associadas a comportamentos positivos de saúde, como a manutenção da supressão a longo prazo da CV e o menor início / recaída do transtorno do uso de substâncias ao longo do tempo.

    Segundo Cody (2016), a espiritualidade influi diretamente na adesão ao tratamento e encoraja ao enfrentamento proativo da doença, ajudando a gerenciar estressores físicos, neurocognitivos e cotidianos. Pois após a análise que buscou potenciais influências neurocognitivas nos comportamentos proativos de enfrentamento em adultos com HIV, observou-se que a espiritualidade/religiosidade (p = 0,002), em vez do funcionamento neurocognitivo (Campo de visão útil, p = 0,277; Trilhas A, p = 0,701; Trilhas B, p = 0,3365; Escala de memória Wechsler- III Digit Span, p = 0,864), foi um preditor significativo de enfrentamento proativo. Desse modo, constatou-se que Intervenções para atender às necessidades de espiritualidade/religiosidade de adultos com HIV podem possivelmente facilitar comportamentos proativos de enfrentamento e melhorar o humor, ambos importantes para o funcionamento neurocognitivo saudável. Além disso, também segundo Lyon (2016), quanto maior a espiritualidade, maiores são os níveis de bem-estar emocional e melhor é êxito no enfrentamento e tratamento do HIV/AIDS.

    Contudo, a espiritualidade também pode representar problemas para o tratamento, de acordo com Kremer (2014), a espiritualidade pode ser fonte enfrentamento negativo, quando por exemplo o HIV é visto pelo paciente como pecado, e ou castigo por um pecado. E por este motivo o estudo destaca dentro desta temática a importância do reconhecimento e da intervenção, por parte dos profissionais da saúde, em casos nos quais a espiritualidade está criando sofrimento e ou barreiras ao tratamento. Portanto, deve-se adicionar uma forma de avaliação espiritual eficaz a fim de evitar que a espiritualidade seja terreno para a auto exclusão e evasão da terapia antirretroviral, e potencializar os aspectos espirituais que são fonte de conforto, bem-estar, e proatividade relacionadas ao enfrentamento da doença.

    Visto tanto, a espiritualidade não deve ser desprezada no tratamento dos PVHIV, e segundo Brum (2017), os profissionais da saúde devem acatar a espiritualidade como um agente que pode instigar a aceitação a medicação e ao tratamento, devendo-se elaborar uma profunda relação entre o cuidado clínico e o cuidado espiritual, a fim de trazer para a realidade de seus pacientes os benefícios previamente citados.

    5 Conclusão

    A partir desta revisão sistemática observou-se que dentre os artigos encontrados uma maior predominância de constatações benéficas acerca da associação da espiritualidade e o tratamento do HIV. Desse modo pode-se salientar que a espiritualidade é um campo amplo e promissor no que tange o tratamento do HIV, pois consegue apresentar resultados positivos em aspectos diversos da vida do paciente, trazendo benefícios que se estendem desde a sua qualidade de vida, concedendo a este um maior bem estar individual e social, tratamento, propiciando uma maior adesão do paciente e dando-lhe aporte emocional  para enfrentar as mazelas físicas e psíquicas que esta lhe traz, até a redução da carga viral e retardo no declínio das células CD4, secundária a adoção de comportamentos positivos com elação ao tratamento e a diminuição/abolição do uso de drogas.

    Corrobora-se então que é de suma importância que os estudos sobre a espiritualidade associada a condição soropositiva sejam encorajados e continuem a evoluir, e que a dimensão espiritual possua maior visibilidade dentro do tratamento dos PVHIV.

     

  • Palavras-chave
  • Espiritualidade, HIV, AIDS
  • Modalidade
  • Exposição
  • Área Temática
  • I - ATENÇÃO À SAÚDE
Voltar Download

O Congresso Internacional Transdisciplinar & II Jornada Acadêmica de Medicina do IESVAP tem como principal objetivo promover a integração da comunidade acadêmica a fim de discutir as questões pertinentes à formação profissional, bem como promover a disseminação de conhecimento de uma forma plural com os diversos cursos que compõem as Ciências da Saúde e as Ciências Humanas, promovendo assim uma melhor reflexão para a ação consciente da prática profissional.

 

  • I - ATENÇÃO À SAÚDE
  • II – GESTÃO EM SAÚDE
  • III – EDUCAÇÃO EM SAÚDE
  • IV - DIREITO CIVIL, DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO AMBIENTAL, DIREITO EMPRESARIAL, DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO CONTRATUAL, DIREITO PENAL, DIREITO TRABALHISTA E DIREITO TRIBUTÁRIO
  • V - DIREITO DA TECNOLOGIA E INFORMAÇÃO, ADVOCACIA ELEITORAL, ADVOCACIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E COMPLIANCE;
  • VI - SISTEMA JURÍDICO, ATOS E DOCUMENTOS JURÍDICOS E METODOLOGIA JURÍDICA.
  • VII - TRABALHOS TRANSDISCIPLINARES E OUTROS

Comissão Organizadora

Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira
Elder Bontempo Teixeira
Christiane Melo Silva Bontempo
Luan Kelves Miranda de Souza

Comissão Científica

Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira

Luan Kelves Miranda de Souza

Elder Bontempo Teixeira

Christiane Melo Silva Bontempo

Ana Rachel Oliveira de Andrade

Antônio de Pádua Rocha Nobrega Neto

Antonione Santos Bezerra Pinto

Carlos da Cunha Oliveira Junior

Francisco das Chagas Candeira Mendes Junior

Joara Cunha Santos Mendes Gonçalves

Joilson Ramos de Jesus

José Lopes Pereira Júnior

Joyce Pinho Bezerra

Khalina Assunção Bezerra Fontenele

Tereza Cristina de Carvalho Souza Garcês

Thiago de Souza Lopes Araújo

Vanessa Meneses de Brito

Yuri Dias Macedo Campelo

 

 

 

 

FAHESP/IESVAP

(86) 3322 7314