Introdução: O diabetes mellitus e a periodontite têm uma relação de mão dupla onde a descompensação de uma influi na outra. Ambas levam a alterações bucais predispondo a um processo inflamatório causado por infecção de bactérias advindas do biofilme. Esse tipo de inflamação periodontal está relacionada a 15% dos canceres em humanos. A participação e influência da infecção e da inflamação no processo da carcinogênese tem despertado interesse da comunidade científica há mais de um século, mas só agora emergem os princípios gerais e a complexidade desta associação. A partir de evidências disponíveis, parece haver uma associação positiva entre a doença periodontal e o câncer oral. Objetivo: Descrever a relação entre pacientes diabéticos tipo 2 com periodontite e o câncer.Métodos: A elaboração deste estudo se deu através de busca eletrônica nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), SCOPUS e Science Direct por publicações dos últimos 5 anos, articulando as palavras chaves “periodontite”, “diabetes mellitus 2” e “câncer” por meio do operador booleano (AND). Os resumos dos artigos foram lidos, e quando apresentavam relação com o tema do estudo eram selecionados. Não foi adotada restrição de idioma. Resultados: O diabetes mellitus e a periodontite estão intimamente associadas, visto que a fisiopatologia do diabetes tipo 2 afeta a boca através de várias manifestações, que devem ser pesquisadas de forma sistematizada em todos os exames clínicos, já que não são apenas fatores de co-morbidade, mas também têm uma relação de mão dupla com o controle do diabetes. Estudos indicam que a inflamação crônica promove a agressividade dos cânceres, no entanto, os mecanismos moleculares diretos e implícitos que mostrem a ligação funcional entre a periodontite crônica, a forma mais comum de doenças inflamatórias orais e o câncer permanecem desconhecidas. Cada vez mais as infecções são consideradas como um início em potencial para a carcinogênese, quando retirados os fatores de risco. Em geral, infecções por microrganismos associada à doença periodontal e estilo de vida carente, induzem alterações genéticas e epigenéticas na célula, o que pode promover o desenvolvimento e progressão dos cânceres. Relatos mostram que a doença do periodonto está ligada a vários tipos de cânceres, como de pulmão, pâncreas, próstata, oral e gastrointestinal. Pesquisadores relatam que a extensão e severidade da periodontite crônica permanecem como indicadores de risco para câncer bucal e/ou de orofaringe, mesmo após o ajuste dos fatores predisponentes tradicionais. A doença periodontal constitui fator de risco para o tumor tipo Linfoma Não Hodgkin, mas são necessárias mais investigações para confirmar se é uma causa direta ou indireta ou se é um pressuposto marcador da inflamação sistêmica e/ou desregulador da imunidade. Estudos mostraram a associação entre periodontite crônica e câncer gastrointestinal e bucal, bem como fator de risco para cânceres de mama, hematológico e geniturinário, ao passo que não conseguiram detectar associação com o câncer de pulmão. Também são significativas e crescentes as evidências mostrando mecanismos biológicos que relacionam as perdas de dentes/periodontites ao risco de cânceres orais, gastrointestinais e pancreáticos. Numerosos estudos sugerem que doença inflamatória crônica, como a periodontite, contribui para o desenvolvimento do carcinoma epidermoide de células escamosas da cavidade oral como um possível gatilho. A Porphyromonas gingivalis é um dos patógenos com maior correlação entre a doença periodontal crônica e o carcinoma epidermoide da cavidade oral, sua presença causa disbiose e uma resposta imune discordante. Fusobacterium nucleatum (Fn), bactéria anaeróbica Gram negativa, residente comum do biofilme bucal associada à periodontite, adere, invade e induz respostas de oncogenes inflamatórios que estimulam o crescimento de células de câncer colorretal, mas a causalidade e o mecanismo subjacente ainda não foram estabelecidos; outros estudos concluíram que o F. nucleatum não demonstrou associação com carcinoma epidermoide oral. Conclusão: As infecções bacterianas associadas a doenças periodontais podem induzir alterações genéticas e epigenéticas sendo consideradas como potencial início para a carcinogênese. Estudos adicionais se fazem necessário para comprovar a associação entre o processo inflamatório causado pela doença periodontal em pacientes diabéticos e o início e desenvolvimento de cânceres, visto que os mecanismos moleculares que comprovam a ligação funcional entre a periodontite crônica em diabéticos tipo 2 e o câncer permanecem desconhecidas.
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