INTRODUÇÃO: O princípio da equidade é pautado em tratar as pessoas de formas diferentes, nas medidas de suas necessidades, com anseio de garantir a perpetuar a justiça social e trazer à realidade uma sociedade inclusiva e que tenha garantia de direitos. A interseccionalidade, estudo da sobreposição de identidades sociais relacionadas à dominação ou discriminação, traz à tona que a mulher tem suas peculiaridades e se diferem por conta de suas experiências e necessidades, a depender dos grupos em que a mesma se insere. A identidade da mulher surda e lésbica é alicerçada a partir das experiências vividas nos diversos campos de sua vida, caminhos que se cruzam e a partir desses cruzamentos, a forma como o ela se percebe e como a sociedade a percebe. Assim a mulher surda e lésbica não pode ser observada da mesma forma que a mulher ouvinte e heterossexual, pois a mesma se torna vulnerável em um mundo pautado no modelo patriarcal, lesbofóbico e ouvintista. OBJETIVO: Disseminar informações e trazer à tona a reflexão da necessidade de um olhar diferenciado para a mulher surda e lésbica, a fim de proporcionar a este público possibilidade de uma vivência das várias dimensões de vida e que permeiam a construção da sua identidade. METODOLOGIA: O objeto do presente trabalho consiste em um estudo do tipo revisão literária, com abordagem qualitativa, de natureza aplicada e objetivos exploratórios, em periódicos indexados nacionais, dissertações e teses. Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLine), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), e Google Acadêmico, publicados entre 2005 e 2019, usando os descritores: “Mulher lésbica”; “Surdez”; “Grupos Minoritários”, apenas no idioma Português. RESULTADOS: Quando, em um seio familiar ouvinte, nasce uma criança surda, ela encontrará as primeiras barreiras por ter uma língua prioritária diferente dos demais membros familiares, que em um primeiro momento enxergam apenas um ser deficiente e buscam uma cura da sua condição. A partir deste local de fala, a pessoa surda encontra barreiras no acesso às informações tanto dentro da própria família, quanto no ambiente externo à sua casa, visto ser olhada como um “corpo doente”, até por alguns profissionais, entre estes os de saúde, que não a percebe como uma minoria linguística e cultural eu deve ser inserida na sociedade, o que gera um embaçamento de sua identidade e tira desta a opção de viver sua sexualidade de forma completa, pois a ela é atribuído o “status infantil” apenas por sua condição. Quando mulher, nasce com o peso de ser determinada e administrada por outrem, além do fardo da violência que sofrem, em sua maioria, apenas por seu gênero. As barreiras se intensificam quando esta se percebe como lésbica e surda, pois estas duas identidades são tidas, pelos taxados de “comuns”, como estratos incongruentes, não sendo possível se imaginar que possam coexistir, pois a surdez seria uma condição que nasceria ou se desenvolveria, por algum fator, no indivíduo, não seria uma escolha, mas uma “função danificada do corpo”. Já a orientação sexual, por mais que existam diversas discussões sobre sua construção subjetiva, seria algo que a pessoa pode escolher ser. Assim, mulher surda e lésbica não seria olhada como coitadinha, mas uma afronta aos valores e ao poderio patriarcal da sociedade, que acaba por infantilizar a esta mulher, a fim de exercer um controle disfarçado de proteção social. CONCLUSÃO: A formação identitária da mulher surda e lésbica continua sendo invisibilizada, e quando pautada, permanece rasa e unidirecional, o que acaba por prejudicar a vivência das dimensões e afetações destas mulheres, que são excluídas dos direitos de serem autônomas, viver plenamente sua sexualidade, ter educação e acesso às informações, principalmente sobre sua saúde. Deve-se levar em conta que a mulher surda e lésbica tem uma experiência diferente da mulher heterossexual e ouvinte, o que a leva a carregar opressões diferentes e deve ser reconhecida dentro das suas diferenças. A identidade e autonomia destas mulheres depende da inclusão, não da limitação aos “estratos mais comuns” como a mulher branca, heterossexual e ouvindo, pois as mulheres que não se encaixam nestes grupos necessitam de um tratamento diferenciado a fim de se autoconhecer, construir sua personalidade e proteger-se.
O Congresso Internacional Transdisciplinar & II Jornada Acadêmica de Medicina do IESVAP tem como principal objetivo promover a integração da comunidade acadêmica a fim de discutir as questões pertinentes à formação profissional, bem como promover a disseminação de conhecimento de uma forma plural com os diversos cursos que compõem as Ciências da Saúde e as Ciências Humanas, promovendo assim uma melhor reflexão para a ação consciente da prática profissional.
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