CUIDADOS E TRATAMENTO DE GESTANTES COM ANEMIA FERROPRIVA

  • Autor
  • Joérique Saraiva Melo
  • Co-autores
  • Karla Karine Mesquita Castelo Branco , Lucas de Moraes Escorcio Brito , Moisés Ulisses Vasconcelos Brito , Vitória Matos Galdino Moreira Costa , Joilson Ramos De Jesus
  • Resumo
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    INTRODUÇÃO:

    A anemia nutricional é uma das principais doenças do mundo, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina (Hb) no sangue está abaixo dos níveis considerados normais para o sexo, faixa etária, estado fisiológico e altitude. (CEMBRANEL; DALLAZEN; GONZÁLEZ-CHICA, 2013). O ferro é um nutriente essencial ao organismo, associado à produção de glóbulos vermelhos e ao transporte de oxigênio dos pulmões para todas as células do corpo, sendo referido como o problema hematológico mais comum, a deficiência nutricional mais prevalente e ignorada no mundo, particularmente entre mulheres e crianças de todas as idades em todos os países. (SANTOS, 2012).

    A anemia ferropriva possui maior prevalência em mulheres (incluindo gestantes) e crianças, principalmente nos países em desenvolvimento. O risco é duas vezes maior para desenvolver a doença em crianças entre seis e 24 meses do que aquelas entre 25 e 60 meses (OSÓRIO; LIRA; BATISTA-FILHO, 2001).

    No Brasil, a tendência do número de aumento da anemia em pré-escolares foi evidenciada por dois estudos nos quais a prevalência da doença passou de 35,6% na década de 80, para 46,9% na década de 1990, no município de São Paulo, e de 19,3% para 36,4%, na Paraíba (JORDÃO et al, 2009). No ano de 2011 foi estimado que por volta de 38% grávidas, 43% das crianças e 29% de mulheres em idade reprodutiva tiveram anemia, correspondendo a 273 milhões de crianças, 32 milhões de gestantes e 496 milhões de mulheres não grávidas (AMARANTE et al., 2015).

    Apesar de poucos estudos nacionais relacionados à anemia, dados regionais têm demonstrado elevada prevalência de anemia no Brasil, em todas as idades e níveis socioeconômicos (OLIVEIRA et al., 2002).

    O paciente é considerado anêmico quando apresenta menos de 11g de hemoglobina por 100 mL de sangue para mulher e criança e menos de 12g/100mL para o homem. Contudo, devemos somar a isso o caso em que a hemoglobina esteja funcional (normal), não-desnaturada e que o volume sanguíneo seja normal. (SANTOS, 2012).

    O ferro que é utilizado pelo organismo pode ser obtido principalmente da dieta e da reciclagem de hemácias senescentes e a quantidade deste absorvida é regulada pela necessidade do organismo. A aquisição do ferro da dieta na forma heme (forma com maior absorção) corresponde a 1/3 do total e é proveniente da hemoglobina (Hb) e mioglobina contidas na carne vermelha (GROTO,2008). A molécula de hemoglobina é um tetrâmero, constituído por quatro cadeias polipeptídicas, duas ? (representadas em amarelo) e duas ? (cinzento). As cadeias ? possuem 141 aminoácidos e as cadeias ? 146 aminoácidos, sendo muito semelhantes à da mioglobina. Cada cadeia polipeptídica contém um grupo prostético heme (representado em vermelho), ligado covalentemente. Estruturalmente, os quatro monómeros ligam-se dispondo dímeros, que formam o tetrâmero da hemoglobina (GROTO,2008), conforme a FIGURA 1.0:

    Já a internalização do ferro na forma heme da dieta é feita pela proteína transportadora do heme-1 (HCP1) que se localiza na membrana apical das células do duodeno. O heme liga-se à membrana da borda dos enterócitos duodenais e atravessa a membrana plasmática ligada a proteína, logo depois o ferro é então liberado da protoporfirina pela heme oxigenase, fazendo parte, assim, do ferro não heme, sendo armazenado na forma de ferritina ou liberado do enterócito para o sangue (DONOVAN; ROY; ANDREWS, 2006). Como é possível observar na FIGURA 2.0:

    A proteína da hemocromatose (HFE) está fortemente ligada com a regulação da absorção intestinal do ferro. Esta interage com o receptor da transferrina (TfR) e detecta o seu grau de saturação, sinalizando para o enterócito se há menor ou maior necessidade de absorção do ferro na luz intestinal (DONOVAN; ROY; ANDREWS, 2006).

    A expressão da hepcidina é regulada por alguns fatores, como o estado do ferro (a sobrecarga de ferro aumenta sua expressão, enquanto a anemia e hipoxemia a reduzem) e o processo inflamatório, em que a IL-6 tem um papel fundamental. A ferroportina é o receptor da hepcidina e a interação hepcidina-ferroportina controla os níveis de ferro nos enterócitos, e macrófagos e hepatócitos (GROTO,2008).

    Durante o processo gestacional a demanda total do ferro, estando ela gravida de um único feto, é triplicada, em virtude das necessidades do feto, placenta em crescimento e volemia materna em expansão, além de se observar alterações como o aumento da massa de eritrócitos e perdas sanguíneas do parto. Tanto a gestante como o feto precisam de ferro para formar hemoglobina e constituir uma reserva para os primeiros três meses após o nascimento (SANTOS, 2012).

     O diagnóstico laboratorial é o mais indicado para a detecção de pacientes com deficiência de ferro, pois possibilita uma intervenção precoce caso o exame aponte uma redução nos níveis de reserve desse mineral. Exames como: hemograma, transferrina sérica, ferritina sérica, ferritina plasmática, zincoprotoporfirina (ZPP) eritrocitária são alguns dos exames capazes de detectar a depleção de ferro no organismo (ARAÚJO et al., 2011).

    Alguns estudos têm identificado a anemia como um dos principais fatores de risco na gravidez, relacionada com uma série de efeitos deletérios para o binômio mãe-filho, podendo ser associada a maior taxa de mortalidade materna e perinatal; baixo peso ao nascer, maior risco de prematuridade e nascimento de recém-nascidos com reservas de ferro abaixo do normal, entre outros (TOWNSLEY, 2013).

    Neste contexto, revisou-se a literatura científica em bases de dados sobre o tema em foco (anemia ferropriva em gestantes: causas e soluções), com o intuito de buscar um melhor entendimento e compreensão para esta problemática da saúde pública constante no Brasil que atinge diferentes populações.

    OBJETIVO

       Abordar os principais aspectos da anemia ferropriva nas gestantes e no feto, com enfoque no tratamento e cuidados da gestante.

    MÉTODOS
                Se trata de um artigo de revisão de literatura, ao qual foi realizada uma busca de evidências no período setembro e outubro de 2019, inicialmente palavras chaves (anemia ferropriva, gestantes e diagnóstico) representativas do tema foram elencadas e utilizadas na Biblioteca Virtual em Saúde(Bireme/BVS) para obtenção de descritores (DeCS) utilizado na busca nas bases de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos-PubMed (Anemia, Iron-Deficiency; Pregnant Women; Diagnosis) e Biblioteca Eletrônica Científica Online-Scielo (Anemia Ferropénica; Mujeres Embarazadas; Diagnóstico/Anemia Ferropriva; Gestantes; Diagnóstico), como filtros artigos publicados nos últimos 10 anos e 5 anos para Scielo e PubMed respectivamente, e como operador boleano foi utilizado o conector “and”. Em seguida a lista de artigos resultante da busca passou por uma análise criteriosa dos títulos e resumos e apenas os artigos relacionados ao tema foram selecionados para leitura completa, fichamentos dos mesmos, análise, reflexão das informações encontradas e elaboração da revisão (Figura. 1). Como critérios de inclusão foram escolhidos estudos que abordassem o tema como um todo, evidenciando as 3 palavras chaves. Como critérios de exclusão foram retirados estudos que fugiam ao tema, e por não obedecerem aos critérios de inclusão.

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

     

                Dos 90 artigos obtidos da busca sistemática nas bases de dados, após análise criteriosa dos títulos e dos resumos, apenas 23 compuseram a amostra final para elaboração deste artigo (Tabela 1).

    A análise desses artigos mostrou que na atualidade a deficiência do mineral ferro é reconhecida como o mais comum estado de déficit humano, das mulheres em idade fértil 10 a 30% podem apresentar sinais de deficiência de ferro, enquanto que durante o período gestacional este número sobe para 10 a 60%. Dentre as grávidas e lactentes, no primeiro ano de vida, 20 a 60% chegam a apresentar anemia ferro deficitária. (M.  Lopes, Sheila, 2010). 

    O período gestacional está associado a uma série de alterações fisiológicas e anatômicas, tais como mudanças no sistema hematológico, respiratório e cardiovascular. Essas modificações se iniciam desde o crescimento do feto e se desenvolvem por toda a gestação até o término da lactação. 

    Provavelmente, em nenhuma outra fase do ciclo vital exista maior mudança no funcionamento e na forma do corpo humano em tão curto espaço de tempo.

    Além das alterações funcionais, a anemia ferropriva destaca-se como uma das complicações mais comuns de uma gravidez e dependendo da gravidade, pode acarretar prejuízo para mãe e/ou feto. As gestantes têm maior risco de desenvolver a anemia pelas altas demandas fisiológicas próprias e da unidade feto-placentária, difíceis de serem supridas apenas pela dieta, além da perda sanguínea que pode ocorrer durante o parto.

    Devido à anemia, essas mulheres têm menor ganho de peso durante a gestação, maiores riscos de partos prematuros, placenta prévia, hemorragias, ruptura prematura de membranas, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, sepsis pós-natal, maior risco de morte, menor desempenho laboral, fadiga, fraqueza e dispneia assim como maiores complicações para o feto como baixo peso do recém-nascido, prematuridade, mortalidade natal, anemia neonatal, falha do desenvolvimento pela anemia e pobre desenvolvimento intelectual.

    Há uma relação entre o status de ferro da mãe e a depressão, o stress, as funções cognitivas e as interações mãe filho, ou seja, eles estão ligados, a deficiência de ferro afeta negativamente o seu humor e as interações com o recém-nascido, e a suplementação protege contra estes efeitos. No período da gravidez o diagnóstico de anemia por deficiência do íon ferro é mais complicada, uma vez que, a alteração da hemoglobina por hemodiluição tem causas variáveis, sendo comum essa condição, a mulher ser assintomática ou apresentar sintomas que pode ser atribuídos as alterações fisiológicas que ocorrem normalmente na gestação.

    Devido ao reconhecimento dos efeitos prejudiciais da anemia para a saúde e sobrevida do binômio mãe/filho, a estratégia de combate já está bem estabelecida e centrada na modificação dos hábitos alimentares, diagnóstico e tratamento das causas da perda de sangue, controle de infecções que contribuem com o desenvolvimento da anemia, enriquecimento de alimentos e suplementação medicamentosa com sais de ferro. Considerando que hábitos alimentares inadequados são o principal determinante da deficiência de ferro e que a fortificação de alimentos que compõem a prática alimentar contribui para a diminuição do risco da deficiência do mineral os autores Sato et al. (2010) obtiveram resultados similares ao utilizar alimentos de fonte de ferro, naturais e fortificados como forma de tratamento nas gestantes da população amostral do estudo. E verificaram também que 96,0% das gestantes ingeriram alimentos fontes de ferro diariamente, as quais apresentaram frequências baixas de anemia, mas com reservas inadequadas de ferro.

    Sato et al. (2010) avaliaram o consumo de alimentos utilizados como fontes naturais de ferro de origem animal e vegetal; alimentos enriquecidos, estimuladores da absorção de ferro e potenciais inibidores da absorção do mineral. Relataram a inadequação do consumo de ferro, folato e cálcio e destacaram a necessidade de estratégias combinadas: enriquecimento dos alimentos, suplementação medicamentosa para gestantes.

    CONCLUSÃO

    A gestação é compreendida como um período na vida da mulher em que as necessidades nutricionais encontram-se aumentadas, visto que a futura mãe necessita atender a demanda de micronutrientes para atender as necessidades maternas e desenvolvimento fetal, sendo de fundamental importância que ela adquira hábitos alimentares saudáveis, a fim de promover a garantia de ingestão de micro e oligoelementos como: ácido fólico, ferro, zinco, vitamina A e cálcio.

    Assim, tendo em vista que a anemia ferropriva atinge diversas populações principalmente criança e mulheres (incluindo as gestantes), principalmente em países em desenvolvimento, deve-se levar em consideração que esta problemática relacionada à saúde pública do Brasil deve ser diagnosticada o quanto antes, evitando falsos negativos e negligencias neste respectivo diagnóstico, para dessa forma diminuir a prevalência de determinada patologia, além da morbimortalidade materna e/ou fetal.

     

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  • Palavras-chave
  • Anemia ferropriva, gestantes, diagnóstico
  • Modalidade
  • Exposição
  • Área Temática
  • VII - TRABALHOS TRANSDISCIPLINARES E OUTROS
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