O projeto capitalista de mundo constantemente inviabiliza modos de produção, criação e habitação que não sejam consonantes com seu avanço. As colonialidades que constituem esse projeto são ecoadas por epistemologias que naturalizam sistemas de violência e exploração, incentivando esvaziamentos da experiência de vida em nome de “avanços” que, em realidade, se tratam da concentração de capital financeiro, cultural e epistêmico. Às elites que concentram esses capitais interessa o extermínio de populações e modos de pensar, habitar e criar subalternizados desde as explorações coloniais, já que esses modos atestam a falsa universalidade da razão moderna, de matriz iluminista, que se propõe como unívoca e imparcial. Para fazer enfrentamento a essa razão totalizante, o grupo de pesquisa Investigar o poético: ensaios metodológicos, experimentações narrativas reverbera concepções acerca de racionalidades outras, desinteressadas no predicado da universalidade e conectadas com a sensibilidade e a criação. Essas concepções, consteladas a partir da leitura dos trabalhos de María Zambrano, Severino Antônio, Benedito Nunes, Cecília Almeida Salles, Georges Didi-Huberman e Christian Fernando Ribeiro Guimarães Vinci formam a proposta epistemológica que chamamos de pensamento poético. Tal pensamento integra criatividade, sensibilidade e racionalidade, qualidades que foram separadas e hierarquizadas pelo projeto moderno de conhecimento que aponta na sensibilidade um problema para a consolidação de um saber universal e “confiável”, devendo este ser puramente racional. É também um pensamento que, por sua proximidade com a criatividade e com a sensibilidade — e, portanto, firmemente relacionado ao processo de criação e investigação artística — fomenta metodologias que, por princípio, estão disponíveis ao convívio com o mistério, ao erro e à mudança. Portanto, o pensamento poético se apresenta potente frente ao sistema de violência epistêmica mencionado anteriormente justamente por ser pautado, simultaneamente, pelo “saber” e pelo “não-saber” — pelo certo e pelo incerto; pelo concreto e pela inconcretude; pela essência e pela aparição. Sinaliza uma ética não inversa à do regime da racionalidade cartesiana causal-linear, mas profundamente diferente: uma ética da integração de perspectivas, da proliferação de sentidos e, essencialmente, da não-hierarquização de saberes. Identificamos ainda, no percurso da pesquisa, um tipo de rigor específico relacionado a esse pensamento que não é nem o rigor científico das ditas “ciências duras” e nem a completa ausência deste, trata-se de um rigor poético, como propõe Vinci. As qualidades epistemológicas e éticas do que aqui chamamos de pensamento poético têm proximidade com qualidades da própria vida, ou seja, esse pensamento está profundamente vinculado às processualidades. A dimensão do processo não evoca um rigor conectado à dureza; mas à própria potência do movimento: a dimensão da vitalidade. No presente trabalho, apresentaremos o percurso desse grupo de pesquisa evidenciando não apenas as descobertas conceituais, cujo panorama expressamos anteriormente, mas também explicitando as metodologias experimentadas em nossa busca de promover coerência entre nosso tema e nosso método de investigação. Ressaltaremos ainda a relevância sociopolítica dessa pesquisa, compreendendo-a também como uma prática de resistência ao adoecimento e ao esvaziamento das experiências de pesquisa, investigação e aprendizagem, tão centrais na experiência de vida.
Coordenação geral:
Allan Rodrigues – UNESA/ UFRJ
Comissão organizadora:
Aline Dornelles – FURG
Francisco Ramallo – UNMdP
Luís Paulo Borges – CAp-UERJ
Tiago Ribeiro – CAp- INES
Rafael Honorato – UEPB
Rafael Marques – UFAC
Rossana Godoy Lenz – ULS
Diego Carlos -UFF
Guilherme Stribel – UNESA
Adrianne Ogêda Guedes – UNIRIO
Comitê Científico
André Régis – UFRJ
Ana Patrícia da Silva – CAp-UERJ
Adrianne Ogêda Guedes UNIRIO
Adriana Maria de Assumpção – UNESA
Adriano Vargas – UFF
Alexandra Garcia – UERJ
Aline Dornelles – FURG
Aline Gomes da Silva – INES
Bárbara Araújo Machado – UERJ
Celso Sánchez – UNIRIO
Cristiano Santanna – SEEDUC
Clarissa Quintanilha – UERJ
Denise Najmanovich – CONICET
Felipe da Silva Ponte de Carvalho – UNESA
Francisco Ramallo – UNMdP; CONICET
Gabriel Roizaman – CIIE Avellaneda
Graça Reis – UFRJ
Guilherme Stribel – UNESA/SME-Teresópolis
Inês Barbosa de Oliveira – UNESA
Viviane Castro Camozzato – UERGS
Mônica Knöpker – IFSC
Júlio Valle – USP
Gustavo Taveira – SME/RJ
Jane Rios – UNEB
Instituições nacionais e internacionais com representantes na organização:
Universidade Estácio de Sá – Proponente
Anped – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(Gt de Currículo – Ge de Cotidianos)
Instituto Nacional de Educação de Surdos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Estadual da Paraíba
Universidade Federal do Acre
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade Federal do Rio Grande
Universidad Nacional de Mar del Plata
Universidad de La Serena