O trabalho que deu origem ao presente resumo teve como objetivo identificar as finalidades às quais as disciplinas escolares e áreas de conhecimento são dirigidas nos textos legais e administrativos que embasaram a Reforma do Ensino Médio, em curso no Brasil desde 2016. Perguntou-se: quais são os enfoques das disciplinas e áreas na reorganização nacional do conhecimento para o ensino médio? A hipótese, definida a partir de revisão de literatura e do referencial teórico (conceitos de currículo e modo genérico de desempenho, de Basil Bernstein, cujo pensamento é considerado estruturalista), era que as disciplinas escolares e áreas de conhecimento, sob razões utilitarista e pragmática, enfocavam a aplicação do conhecimento em contextos extra escolares, de trabalho e vida, em detrimento do valor da aquisição do conhecimento em si. Realizou-se análise de conteúdo (Laurence Bardin) temática e qualitativa da Lei n. 13.415/2017, da Resolução CNE/CEB n. 3/2018 e da Base Nacional Comum Curricular. Identificou-se que as disciplinas escolares e as áreas de conhecimento são dirigidas às seguintes finalidades: (a) cognição, (b) relações sociais, (c) vida e profissão, (d) intervenções. Cada uma das quatro categorias reúne um conjunto de sub categorias: (a.1) aprofundamento de conhecimento e aprendizagens, (a.2) letramento matemático para realidade, (a.3) compreensão do e atuação no mundo, (a.4) desenvolvimento de raciocínio científico, (a.5) ampliação de repertório de linguagens, (a.6) obtenção e compartilhamento de informações, (b.1) interesse pela cultura, (b.2) estímulo à igualdade e tolerância, (c.1) trabalho, (c.2) desenvolvimento de autonomia e protagonismo, (c.3) desenvolvimento de competências e habilidades, (d.1) identificação e resolução de problemas, (d.2) avaliação de riscos e impactos. Interpretou-se que as disciplinas e áreas enfocam a vida pessoal, comunitária e profissional dos estudantes, direcionando-os ao desenvolvimento do que Bernstein denomina habilidades e desempenhos genéricos e flexíveis, e deslocando à insignificância o conhecimento em si. Bernstein escreve que textos curriculares desta natureza (modo genérico de desempenho) estão diretamente ligados ao mercado e às finalidades econômicas, e que constituem-se em condutores de desigualdades sociais, porque quando realizados no contexto da sala de aula (pedagogia e avaliação), criam aparências enganosas aos estudantes de classe mais baixa: compactuam com uma cultura empresarial “artesanal” no setor de serviços, estimulando-a nos estudantes, no entanto, ao mesmo tempo, a economia se inclina para maior concentração, com fusões e crescimento das grandes empresas. Os resultados e a argumentação contribuíram com a crítica e denúncia da Reforma do Ensino Médio. Por fim, propõe-se que esta análise dialogue com um dos objetivos do evento: destacar e debater as ações de resistência e criações dos corpos que são marginalizados pelos currículos hegemônicos. Quais ações de resistência e criação, portanto, podem ser adotadas pelos jovens de classes baixas, violentados por um currículo que os quer submissos? Um currículo que deseja a reprodução social.
Coordenação geral:
Allan Rodrigues – UNESA/ UFRJ
Comissão organizadora:
Aline Dornelles – FURG
Francisco Ramallo – UNMdP
Luís Paulo Borges – CAp-UERJ
Tiago Ribeiro – CAp- INES
Rafael Honorato – UEPB
Rafael Marques – UFAC
Rossana Godoy Lenz – ULS
Diego Carlos -UFF
Guilherme Stribel – UNESA
Adrianne Ogêda Guedes – UNIRIO
Comitê Científico
André Régis – UFRJ
Ana Patrícia da Silva – CAp-UERJ
Adrianne Ogêda Guedes UNIRIO
Adriana Maria de Assumpção – UNESA
Adriano Vargas – UFF
Alexandra Garcia – UERJ
Aline Dornelles – FURG
Aline Gomes da Silva – INES
Bárbara Araújo Machado – UERJ
Celso Sánchez – UNIRIO
Cristiano Santanna – SEEDUC
Clarissa Quintanilha – UERJ
Denise Najmanovich – CONICET
Felipe da Silva Ponte de Carvalho – UNESA
Francisco Ramallo – UNMdP; CONICET
Gabriel Roizaman – CIIE Avellaneda
Graça Reis – UFRJ
Guilherme Stribel – UNESA/SME-Teresópolis
Inês Barbosa de Oliveira – UNESA
Viviane Castro Camozzato – UERGS
Mônica Knöpker – IFSC
Júlio Valle – USP
Gustavo Taveira – SME/RJ
Jane Rios – UNEB
Instituições nacionais e internacionais com representantes na organização:
Universidade Estácio de Sá – Proponente
Anped – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(Gt de Currículo – Ge de Cotidianos)
Instituto Nacional de Educação de Surdos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Estadual da Paraíba
Universidade Federal do Acre
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade Federal do Rio Grande
Universidad Nacional de Mar del Plata
Universidad de La Serena