Introdução: A hanseníase permanece como relevante problema de saúde pública no Brasil, destacando-se o estado do Pará pelas elevadas taxas de endemicidade. O agravo ultrapassa o aspecto infeccioso, resultando em incapacidades físicas preveníveis que evidenciam falhas no diagnóstico precoce e na atuação da Atenção Básica, principal porta de entrada do SUS. Analisar o desempenho dessa rede frente às incapacidades físicas é essencial para subsidiar políticas públicas e aprimorar as ações de vigilância e cuidado.
Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico das incapacidades físicas por hanseníase e avaliar o desempenho da Atenção Básica no Pará entre 2020 e 2024.
Metodologia: Trata-se de estudo epidemiológico, descritivo e quantitativo, baseado em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/DATASUS). Foram consideradas variáveis como grau de incapacidade física no diagnóstico, forma clínica, modo e ano de detecção, escolaridade, sexo, raça/cor e faixa etária. Resultados: Entre 2020 e 2024, notificaram-se 10.794 novos casos de hanseníase no Pará, dos quais 10.060 apresentaram algum grau de incapacidade. Destes, 5.662 (grau 0), 3.207 (grau I) e 1.191 (grau II), além de 734 não avaliados. As formas clínicas dimorfa (51,4%) e virchowiana (20,7%) concentraram os maiores índices de comprometimento funcional. Cerca de 37% dos casos foram detectados por demanda espontânea e 30% por encaminhamento, com maior número de notificações em 2021 (2.106). Predominaram indivíduos do sexo masculino (6.603), autodeclarados pardos (4.830), com baixa escolaridade e idades entre 30 e 59 anos.
Discussão: Os achados revelam persistente incidência e elevada proporção de incapacidades físicas, indicando falhas na vigilância e na detecção precoce. O atraso diagnóstico contribui para lesões neurais irreversíveis, especialmente nas formas multibacilares, associadas à maior carga bacilar e resposta imune deficiente. O perfil sociodemográfico identificado reforça o impacto das desigualdades sociais e educacionais no acesso ao cuidado, sendo os homens mais vulneráveis pela menor busca por serviços de saúde.
Conclusão: Conclui-se que, embora haja avanços no controle da hanseníase, o desempenho da Atenção Básica no Pará ainda é insuficiente frente à magnitude da doença. O elevado número de casos e de incapacidades físicas exige fortalecimento da atenção primária, com capacitação contínua dos profissionais, aprimoramento da vigilância, integração entre níveis assistenciais e intensificação das ações de educação em saúde e diagnóstico precoce, fundamentais para reduzir as sequelas e a transmissão.
É com grande satisfação que apresentamos os Anais do I Congresso Paraense de Saúde Preventiva, um marco pioneiro no cenário da saúde no Pará e uma iniciativa que reafirma o compromisso da Sociedade Médico Cirúrgica do Pará (SMCP) com a construção de um futuro mais saudável, sustentável e baseado em evidências científicas.
Este volume reúne os resumos aceitos e apresentados no congresso, disponibilizados em formato digital para ampliar o acesso ao conhecimento e valorizar a produção acadêmica e profissional dos participantes. Trata-se de um mosaico de ideias, pesquisas, experiências e reflexões que expressam a pluralidade e a riqueza da saúde preventiva em suas diversas dimensões — clínica, social, ambiental, tecnológica e educacional.
Os trabalhos aqui publicados representam não apenas o esforço individual de seus autores, mas também o ambiente fértil de diálogo que o congresso proporcionou. Cada resumo reflete a busca por soluções inovadoras, práticas sustentáveis e estratégias de promoção da qualidade de vida, alinhadas ao tema central desta edição.
Ao disponibilizarmos estes Anais no ambiente digital, reforçamos nossa missão de democratizar o acesso à informação, estimular a pesquisa local e incentivar a participação de estudantes, profissionais e instituições na construção de uma agenda integrada de prevenção e cuidado.
Agradecemos a todos os pesquisadores, orientadores, avaliadores e membros da comissão científica pela dedicação e pelo compromisso com a excelência. Que este documento sirva como registro histórico e, ao mesmo tempo, como inspiração para novas investigações, projetos e parcerias.
Que os Anais do I Congresso Paraense de Saúde Preventiva contribuam para fortalecer uma cultura de conhecimento, inovação e responsabilidade coletiva — bases essenciais para uma saúde verdadeiramente transformadora.
Belém, dezembro de 2025
Sociedade Médico Cirúrgica do Pará – SMCP
Comissão Organizadora
I Congresso de Saúde Preventiva
Comissão Científica