RESUMO
Estudo sobre a política pública de fortalecimento dos Conselhos Municipais de Educação (CME), implementada pela Secretaria de Educação do estado da Bahia (SEC), através da Superintendência de Acompanhamento e Avaliação do Sistema Educacional no âmbito do Programa de Apoio à Educação Municipal (Proam). Tem como objetivo analisar a implementação da referida política e compreender, diante dos aspectos subjacentes às mudanças políticas na gestão do Estado, o papel de articulação nas relações federativas exercido pelo Proam. A pesquisa está referenciada como qualitativa e toma a análise de políticas públicas, a partir do ciclo de políticas públicas e o do modelo de múltiplos fluxos, um suporte metodológico para compreender as contradições inerentes a formulação e execução das políticas, com suas repercussões para a gestão democrática da educação nos municípios do estado da Bahia. Os resultados demonstram que a realidade do planejamento e implementação de políticas públicas para educação no Estado da Bahia deve considerar a perspectiva interinstitucional, afim de que a efetivação delas possa garantir a autonomia dos entes federados nos aspectos normativo, administrativo e financeiro, de maneira a evitar descontinuidades que fragilizam a materialização dos regimes de cooperação e colaboração.
INTRODUÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO
Considerando a necessidade de fortalecer as ações do regime de colaboração entre os entes federados (União, Estado e municípios) a Secretaria da Educação do Estado da Bahia instituiu, no ano de 2007, o Programa de Apoio à Educação Municipal. Esse tem o desafio de contribuir para organizar e fortalecer os sistemas municipais de ensino, sendo a Secretaria Estadual, um instrumento articulador da aproximação entre os governos federal e estadual com os municípios, no que concerne à implementação de políticas para a educação básica e o aperfeiçoamento da gestão da educação.
As atividades desenvolvidas pelo Proam convergem para promover o fortalecimento da gestão dos Sistemas Municipais de Ensino (SME) e trazem consigo a necessidade de planejamento e organização por meio de parcerias. Neste contexto, é fundamental que tal processo ocorra com a participação direta e efetiva dos cidadãos, para que se garanta uma gestão democrática da educação nos municípios. Por entender que o Conselho Municipal de Educação (CME) se constitui como o espaço essencial para a construção da participação democrática dos cidadãos na gestão das políticas públicas para a educação, eles passaram a receber atenção do Proam que a partir do ano de 2011 passou oferecer um curso de formação para os conselheiros e acompanhamento técnico para os CME.
No intuito de compreender os meandros e intencionalidades que constituiu a formulação da política pública para o fortalecimento dos CME com a formação dos conselheiros, organizada pela SEC por meio do Proam, foi desenvolvida uma análise desta política pública diante dos regimes de colaboração e cooperação técnica celebrados entre o estado da Bahia e seus municípios. Diante do contexto da necessária construção democrática das políticas públicas de educação foi lançada a seguinte questão: Como e por que ocorreu o processo de sistematização e implementação da política pública de formação de conselheiros municipais de educação, oferecida pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, no âmbito do Programa de Apoio a Educação Municipal, no período de 2007 a 2015?
METODOLOGIA
A opção pela análise de políticas públicas nos levou a construir uma triangulação de métodos e técnicas de pesquisa composta por uma pesquisa bibliográfica, outra documental e uma de campo. Com a pesquisa bibliográfica foi possível construir uma base teórica que referencia o percurso reflexivo sobre os conceitos de sustentação das análises, ou seja, os de federalismo, políticas públicas, agenda de políticas públicas, descentralização, conselhos de políticas públicas e formação de conselheiros. Na pesquisa de base documental foi possível compreender as opções programáticas delineadas para a condução das políticas públicas pelas gestões que governaram o estado da Bahia, assim como, traçar o perfil das políticas públicas a partir de documentos normativas, minutas de projetos, instrumentos de planejamento da gestão (planos, PPA, LOA, compromissos de gestão) e, documentos que retratem a operacionalidade dos programas. A pesquisa de campo consistiu na aplicação de entrevistas semiestruturadas com técnicos e dirigentes do Proam que coordenaram e executaram a política pública em estudo. A conjunção do percurso metodológico (base teórica, base documental e de campo) constituiu o eixo que deu forma a proposição de uma proposta de reformulação da política pública em análise.
RESULTADOS
A revisão da literatura desenvolvida sobre o federalismo, ao ser confrontada com o levantamento documental e com as entrevistas, levou a perceber que há uma distância considerável entre o que traz o princípio normativo, e, especificamente, como agem os entes federados ao estabelecerem parcerias por meio das políticas públicas.
As políticas implementadas exclusivamente pela SEC e pelo Proam estavam atentas às possibilidades de estremecimento do equilíbrio entre as relações federativas e da autonomia dos entes diante das políticas públicas de educação. Deste modo, a SEC, através do Proam, foi desenvolvendo políticas públicas de aproximação para consolidar um padrão de gestão que fortalecesse as relações de colaboração e cooperação, em tese, de forma horizontalizada, buscando ampliar a compreensão dos municípios para com a sua liberdade de escolha em participar das mesmas.
A política Pública de Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Educação, ao entrar na agenda das políticas públicas da SEC, passa a compor o conjunto de várias outras já implementadas no âmbito do Proam. Juntas elas concorrem para contribuir com a consolidação de uma visão programática que incentiva a participação da sociedade, através de espaços coletivos como os conselhos, perante a gestão das políticas públicas de educação nos municípios baianos.
O Proam, através do Projeto de Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Educação, criou uma interlocução com as gestões municipais e com as comunidades locais. Com ele procurou respeitar o limite federativo do município em optar por participar ou não do Projeto, e, por outro lado, passou a incentivar a prática do controle social da gestão através do CME.
A pesquisa evidenciou que o fato de a política de Fortalecimento dos Conselhos Municipais de Educação ter sido uma iniciativa da Secretaria Estadual de Educação, e por ela conduzida sem parcerias consistentes, não gerou aderência, a princípio, de instituições como a União Nacional dos Conselheiros Municipais de Educação (UNCME) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação UNDIME em suas seccionais na Bahia. Tais instituições são estratégicas, sob o nosso olhar, para que as políticas públicas que se estabeleçam com os municípios sejam efetivadas. Se a proposta é ampliar as relações federativas de forma consistente, respeitando as autonomias dos entes, é fundamental que haja o envolvimento de outros parceiros institucionais no diálogo e na elaboração das políticas públicas, para que não se imponha uma proposta de formação dissonante com os contextos materiais vividos pelos Conselhos.
Por fim, constatou-se que mais do que uma intenção programática, para mudar a realidade do planejamento e implementação de políticas públicas para educação no Estado da Bahia, será necessário um intenso processo de amadurecimento no sentido da construção de políticas interinstitucionais perenes, ou seja, que ao propor uma política que vise a parceria federativa, seja o Estado aquele ente que primeiro demonstre a sua responsabilidade com a manutenção da política até que o problema seja sanado, ou, se assim for necessário, apresente uma política alternativa. O que deve ser evitado pelo Estado é justamente ser ele o ente que promove a descontinuidade das políticas públicas.
REFERÊNCIAS
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A 3ª edição do Seminário “Federalismo e Políticas Educacionais” é uma realização do Grupo de Pesquisa Federalismo e Políticas Educacionais em parceria com o Grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Gegop-Clacso), a seção estadual da Associação Brasileira de Política e Administração da Educação (Anpae-ES) e o Laboratório de Gestão da Educação Básica do Espírito Santo, contando com o apoio da rede Clacso.
Com o objetivo de debater os 30 anos da Constituição brasileira e os desafios para a afirmação do Estado democrático de direito, do federalismo cooperativo e da educação como direito social de cidadania. A partir do tema “Para onde vai a Democracia? O Brasil após 30 anos da Constituição de 1988” o evento se propõe a congregar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, professores da educação básica e superior, estudantes, gestores e outros interessados para um balanço do Estado democrático de direito e para uma análise de conjuntura das políticas públicas, em geral, e das políticas educacionais, especificamente, no cenário de incertezas diante da crise política, institucional e econômica atual nas mesas, conferências, palestras e apresentações de trabalho.
Assim o evento realizou uma chamada pública e ampliada para pesquisadores das mais diferentes áreas submeterem suas produções à avaliação da Comissão Científica que avaliou os trabalhos em sua relevância e aproximação ao escopo do evento e à qualidade teórica, instrumental, argumentativa e discursiva para as Comunicações orais que se realizarão.
Desse modo os anais ora apresentados compõe importante sistematização das obras que serão discutidas e compartilhadas no evento.
Sejam bem-vindos/as ao nosso evento!
Sejam bem-vindos/as à Vitória!
Grupo de Pesquisa Federalismo e Políticas Educacionais
ORIENTAÇÕES PARA APRESENTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO ORAL:
1 - Elabore a apresentação da Comunicação oral, contendo os mesmos itens do resumo expandido (título, autores, introdução/problematização, metodologia, resultados e referências).
2 - Você deverá confeccionar até oito slides para a apresentação oral, utilizando o modelo disponibilizado: (Template Slides.ppt - anexo)
3 - As apresentações ocorrerão no dia 01/11, entre 14:00 e 18:00, conforme atribuição de salas por eixo temático.
4 - O tempo de apresentação é de no máximo 15min e estarão disponíveis notebook e projetor multimídia para arquivos em formato .pdf.
Caroline Falco Fernandes Valpassos | COORDENAÇÃO COMISSÃO CIENTÍFICA (ANPAE-ES) |
Andressa Mafezoni Caetano | PPGMPE / UFES |
Dulcinea Campos Silva | PPGMPE / UFES |
Eduardo Augusto Moscon de Oliveira | LAGEBES |
Elimar Leal | ANFOPE-ES |
Flávia Costa Lima Dubberstein | SEME - CARIACICA |
Itamar Mendes da Silva | PPGMPE / UFES |
Lara Carlette | UEPG |
Larissa Ferreira Rodrigues | PPGMPE / UFES |
Luana Almeida | UNIVAS |
Marcelo Lima | PPGE / UFES |
Michele Pazolini | IFES |
Rodrigo Ferreira Rodrigues | ANPAE-ES |
Sandra Kretli da Silva | PPGMPE / UFES |
Simone Cassini | PMSM |
Simone Smiderle | PPGE / UFES |
Suzany Goulart | CE - UFES / ANFOPE |
Tatiana das Merces | PPGE / UFES |
Tatiana Peterle | PPGE / UFES |
Vitor Gomes | PPGMPE / UFES |
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