BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS: UM OLHAR CRÍTICO

  • Autor
  • Camila de Oliveira Fonseca
  • Co-autores
  • Fernanda Zanetti Becalli
  • Resumo
  • BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR CRÍTICO

    Introdução

    Integra estudos no âmbito da linha de pesquisa Formação de Professores, do Mestrado Profissional em Ensino de Humanidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Campus Vitória e do grupo de pesquisa Formação de Professores e Ensino de Ciências (Fopec). Busca compreender as concepções de alfabetização e de letramento que fundamentam o documento (a política) da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as vinculações dessas concepções com a Política de Avaliação Nacional da Alfabetização.

    Problematização

    A necessidade da criação de uma Base Nacional Curricular não é o foco dos debates e da resistência a este documento, mas sim a estrutura adotada nele, suas bases teóricas, o momento histórico no qual se estabelece o debate e o obscurantismo de seus interesses neoliberais que em nada favorecem a constituição da função social da escola que é a de ensinar os saberes historicamente produzidos pela humanidade.

    Compreendemos que o governo elabora medidas e estratégias para que a educação no Brasil esteja cada vez mais entrelaçada à lógica do capital fortalecendo, as noções de competência e habilidade necessárias ao mercado, outrora tão discutidos e criticados por especialistas por aqueles que defendem uma educação pública de qualidade e para todos e percebemos que o controle exercido pela intervenção dos organismos externos na elaboração das políticas relacionadas à educação no Brasil, reflete não só na elaboração dos documentos oficiais, mas no próprio processo de participação dos sujeitos que deveriam estar envolvidos no processo e no cotidiano das salas de aula.

    Para cada um dos documentos oficiais e seus projetos de implementação, percebemos a intencionalidade de estabelecer um currículo comum nacional. Consideramos primordial compreender as concepções de alfabetização e de letramento que fundamentam o documento (a política) da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as vinculações dessas concepções com a Política de Avaliação Nacional da Alfabetização.  

    Vemos que é preciso desenvolver um movimento ampliado para a compreensão crítica deste novo documento, pois sabemos que há sim mudanças e exigências que surgem mundialmente, o tempo todo e a educação deve seguir a mesma direção, no entanto, temos que vencer o desafio de fazer com que os alunos “saiam das escolas sabendo muito mais do que codificar e decodificar” (ANTUNES, 2015).

    A BNCC vem indicando um empobrecimento das diretrizes curriculares para a alfabetização, que permanece pensada como aquisição da tecnologia da escrita, e do letramento quem continua ligado aos aspectos funcionais, que atendem às avaliações em larga escala, que em uma sociedade capitalista pretendem formar cidadãos que estejam bem treinados e adequados ao mercado que se estabelece.  

    Concordamos com Gontijo (2015) quando aponta que a estruturação de uma base nacional comum possui sua importância ao pensarmos na necessidade de certificar que a escola atenda sua demanda de possibilitar aos educandos acesso aos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, mas que o documento em questão não atenderá a este propósito se sua proposta estiver pautada no atendimento à lógica das avaliações em larga escala visando melhorar “índices de desempenho” em detrimento à oferta de uma formação omnilateral do indivíduo.

    Em uma análise inicial aos critérios estabelecidos para a alfabetização na BNCC, Gontijo (2015, p. 183) entende que

    Além de reforçar a disciplinarização, a Base rompe com a possibilidade de os sistemas educativos organizarem os componentes curriculares definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, observando-se aspectos ligados exercício da cidadania e as etapas do desenvolvimento integral do cidadão.

    A ideia da preparação do trabalhador adequado perpassa pelas propostas curriculares da educação brasileira, de forma muito evidente, desde a aceleração do processo de industrialização do país. E como trabalhador adequado, o sistema capitalista e seu mercado compreendem aquele que possui capacidades e habilidades técnicas para exercer uma determinada função, tanto quanto o nível necessário de alienação que o mantenha em situação de exploração preso à situação apática de explorado. Conforme aponta Duarte (2006):

    [...] os intelectuais a serviço do capital internacional são mestres na utilização de um discurso repleto de termos vagos que escondem os compromissos ideológicos. Evitam a todo custo que se torne evidente a defesa da liberdade plena para o capital existente por detrás do discurso que defende a liberdade individual e mitifica a imagem do individuo empreendedor e criativo.

    Considerando que a partir da homologação da BNCC o processo de formação dos professores dentro da perspectiva aprovada/imposta nela e os movimentos para adequação dos currículos escolares terão início, percebemos a urgência de uma análise crítica deste documento e nos propomos a investigar, especificamente acerca da alfabetização, como esta se materializa na Base Nacional Comum Curricular, e à disposição de que interesses se coloca.

    Na BNCC, identificamos a necessidade de associar a aprendizagem a uma lógica mercadológica que prima pela eficiência tendo como objetivo a “preparação” dos alunos para as avaliações em larga escala, no caso da alfabetização, a Provinha Brasil e a ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização), bem como a presença da concepção de letramento, que permeia os discursos oficias nacionais de alfabetização desde a Conferência internacionais da década de 1990.

    Nesse sentido, Duarte (2006), quando trata das desastrosas consequências de um ecletismo de ideias que só favorece a manutenção da ordem burguesa pela via da proposta de adequação à ordem social vigente. O autor é enfático ao mostrar que a esta concepção pedagógica não atende aos preceitos da luta por uma escola pública de qualidade e pelo rompimento com a sociedade capitalista injusta e desigual.

    Metodologia

    Teórica e metodologicamente fundamentado nos pressupostos bakhtinianos no campo da filosofia da linguagem, compreende a alfabetização como um processo dialógico e de natureza política, que visa inserir a criança no mundo da linguagem escrita, por meio de práticas de leitura, de produção de textos orais e escritos e do ensino planejado e sistemático dos conhecimentos sobre o sistema de escrita da língua portuguesa, incluindo as relações sons e letras e letras e sons, a criatividade e a ludicidade.

    Resultados

    As análises em andamento nesta pesquisa possibilitam perceber que o caráter político da alfabetização não é considerado na BNCC e o currículo proposto para o ensino de língua portuguesa nos três primeiros anos do ensino fundamental tem se alinhado à lógica das avaliações em larga escala visando somente produzir a melhoria de índices de desempenho nacionais. Para Gontijo (2002) a alfabetização é em sentido amplo “[...] o processo de inserção no mundo da linguagem escrita [...]” e é seguindo esse direcionamento que se dá o desenvolvimento desta pesquisa.

    Podemos constatar que o que chamam de renovação no contexto da implementação da BNCC não se caracteriza em uma mudança efetiva na direção de uma educação que atenda às classes desfavorecidas. O currículo, historicamente, tem atendido aos interesses de determinada época, e a BNCC não aparenta servir a um propósito diferente. Em um texto intitulado BNCC: uma base para o gerencialismo-populista, do Professor Luís Carlos Freitas e publicado em seu blog Avaliação Educacional – Blog do Freitas, no dia 07 de abril de 2017, o professor afirma que

    A BNCC tem por fundamento uma concepção gerencialista autoritária que é dissimulada nesta argumentação de garantir direitos aos mais pobres. A intencionalidade da atual base é padronizar para poder cobrar da escola. Quando dizem que a BNCC garante direitos dos mais pobres, querem de fato significar que agora a escola será penalizada se não ensinar os pobres (ou os ricos) de acordo com tudo que a BNCC diz que têm direito – independentemente de terem ou não condições concretas para poder desempenhar seu trabalho. Para isso se está fazendo o ENAMEB – Exame Nacional do Magistério do Ensino Básico e realinhando os exames nacionais à BNCC. Portanto, a BNCC não pode ser examinada isoladamente, mas como a base de toda uma política de pressão sobre a escola e seus profissionais, que conduzirá à privatização e destruição da escola pública[1].

    Freitas (2017) afirma também que a criação de uma base nacional comum pode levar a escola a garantir o acesso ao conhecimento produzido ao longo da história humana, cumprindo assim o seu papel e, corrobora com a opinião de Gontijo (2015) de que “[…] quando essa proposição se alinha, exclusivamente, à lógica da avaliação com a finalidade de produzir a melhoria de índices de desempenho” nos remetemos às diversas construções curriculares ao longo da história da educação no Brasil que pretenderam somente garantir a hegemonia da ideologia dominante.

    Assim, vemos que a BNCC configura-se em mais uma proposta que se atém ao atendimento das expectativas neoliberais visando galgar o topo da classificação dos organismos internacionais de financiamento e promotores de avaliação, o que confirma a urgente necessidade de uma análise crítica coletiva deste documentos junto aos atores da escola que são diretamente afetados por essa reforma e os que, até o presente momento, tiveram suas vozes abafadas nesses debates.

    E é nesse sentido que percebemos a necessidade de organização no que diz respeito aos movimentos de resistência à implementação da BNCC nas escolas brasileiras. E, como estamos tratando de um documento oficial já aprovado e com ações direcionadas à sua implementação é preciso que os professores tenham conhecimento dele, mediante uma análise crítica e aprofundada.

    Referencias

    ANTUNES, Janaína Silva Costa. Um olhar sobre o pró-letramento. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Educação, Vitória/ES. 2015.

    Avaliação Educacional - Blog do Freitas, 07 de abr. 2017. Disponível em: < https://avaliacaoeducacional.com/2017/04/07/bncc-uma-base-para-o-gerencialismo-populista/>. Acesso em: 13 jan. 2018.

    DUARTE, Nextow. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. São Paulo: Autores Associados, 2006.

    GONTIJO, Cláudia Maria Mendes. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): comentários críticos. Revista Brasileira de Alfabetização - ABAlf . Vitória, ES . nº 2. p. 174-190. jul./dez. 2015. Acesso em 10/06/17.

    ______. O processo de alfabetização: novas contribuições. São Paulo: Martins Fonte, 2002.

  • Palavras-chave
  • Base Nacional Comum Curricular, Alfabetização, Currículo.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • EIXO 4 – Federalismo, políticas curriculares e de avaliação
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A 3ª edição do Seminário “Federalismo e Políticas Educacionais” é uma realização do Grupo de Pesquisa Federalismo e Políticas Educacionais em parceria com o Grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Gegop-Clacso), a seção estadual da Associação Brasileira de Política e Administração da Educação (Anpae-ES) e o Laboratório de Gestão da Educação Básica do Espírito Santo, contando com o apoio da rede Clacso.

Com o objetivo de debater os 30 anos da Constituição brasileira e os desafios para a afirmação do Estado democrático de direito,  do federalismo cooperativo e da educação como direito social de cidadania. A partir do tema “Para onde vai a Democracia? O Brasil após 30 anos da Constituição de 1988” o evento se propõe a congregar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, professores da educação básica e superior, estudantes, gestores e outros interessados para um balanço do Estado democrático de direito e para uma análise de conjuntura das políticas públicas, em geral, e das políticas educacionais, especificamente, no cenário de incertezas diante da crise política, institucional e econômica atual nas mesas, conferências, palestras e apresentações de trabalho.

Assim o evento realizou uma chamada pública e ampliada para pesquisadores das mais diferentes áreas submeterem suas produções à avaliação da Comissão Científica que avaliou os trabalhos em sua relevância e aproximação ao escopo do evento e à qualidade teórica, instrumental, argumentativa e discursiva para as Comunicações orais que se realizarão.

Desse modo os anais ora apresentados compõe importante sistematização das obras que serão discutidas e compartilhadas no evento.

Sejam bem-vindos/as ao nosso evento!

Sejam bem-vindos/as à Vitória!

 

Grupo de Pesquisa Federalismo e Políticas Educacionais

REGRAS PARA SUBMISSÃO DE COMUNICAÇÃO ORAL:
 
O texto completo deverá conter entre 10.000 e 13.000 caracteres, nestes devem estar contidos: título, resumo, introdução/problematização, metodologia, resultados e referências bibliográficas.
Acompanhar um resumo de no máximo 1300 caracteres.
O texto deve indicar 3 palavras-chave.
Serão admitidos, no máximo, um (a) autor (a) e até três co-autores(as) por trabalho (TODOS devem estar com inscrição paga e confirmada pelo sistema). Não haverá devolução do valor de inscrição em nenhum dos casos.
Na fase de submissão é imprescíndível que os trabalhos sejam apresentados anonimamente, sem referências identificação de autoria.

 

ORIENTAÇÕES PARA APRESENTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO ORAL:


1 -   Elabore a apresentação da Comunicação oral, contendo os mesmos itens do resumo expandido (título, autores, introdução/problematização, metodologia, resultados e referências).

2 - Você deverá confeccionar até oito slides para a apresentação oral, utilizando o modelo disponibilizado: (Template Slides.ppt - anexo)

3 - As apresentações ocorrerão no dia 01/11, entre 14:00 e 18:00, conforme atribuição de salas por eixo temático. 

4 - O tempo de apresentação é de no máximo 15min e estarão disponíveis notebook e projetor multimídia para arquivos em formato .pdf.

  • EIXO 1 – Federalismo, políticas educacionais e financiamento
  • EIXO 2 – Federalismo e gestão democrática da educação (Básica e Superior)
  • EIXO 3 A – Federalismo, regime de colaboração e organização da educação básica
  • EIXO 4 – Federalismo, políticas curriculares e de avaliação
  • Eixo 5 A – Federalismo, modalidades de ensino e práticas pedagógicas (Educação Especial, Educação do Campo, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional, Educação à distância)
  • EIXO 6 - Federalismo, democracia e disputas entre o público e o privado
  • EIXO 3 B – Federalismo, regime de colaboração e organização da educação básica
  • Eixo 5 B – Federalismo, modalidades de ensino e práticas pedagógicas (Educação Especial, Educação do Campo, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional, Educação à distância)
Caroline Falco Fernandes Valpassos COORDENAÇÃO COMISSÃO CIENTÍFICA (ANPAE-ES)
Andressa Mafezoni Caetano PPGMPE / UFES
Dulcinea Campos Silva PPGMPE / UFES
Eduardo Augusto Moscon de Oliveira LAGEBES
Elimar Leal ANFOPE-ES
Flávia Costa Lima Dubberstein SEME - CARIACICA
Itamar Mendes da Silva PPGMPE / UFES
Lara Carlette UEPG
Larissa Ferreira Rodrigues PPGMPE / UFES
Luana Almeida UNIVAS
Marcelo Lima PPGE / UFES
Michele Pazolini IFES
Rodrigo Ferreira Rodrigues ANPAE-ES
Sandra Kretli da Silva PPGMPE / UFES
Simone Cassini PMSM
Simone Smiderle PPGE / UFES
Suzany Goulart CE - UFES / ANFOPE
Tatiana das Merces PPGE / UFES
Tatiana Peterle PPGE / UFES
Vitor Gomes PPGMPE / UFES

 

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