ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA DETECÇÃO DE SÍFILIS EM GESTANTES FRENTE À PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Autor
  • ALINE SOUSA FALCÃO
  • Co-autores
  • ADRIANA SANTOS FARAH
  • Resumo
  •  

    Introdução: A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), ocasionada a partir da bactéria Treponema pallidum e, que sem o tratamento adequado pode desencadear as formas mais graves da doença (BRASIL, 2019 a). Segundo o Boletim Epidemiológico de 2019, a sífilis afeta um milhão de gestantes por ano em todo o mundo, levando a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais. Portanto, o diagnóstico e a detecção precoce da doença na atenção básica compõem um conjunto de estratégias do Ministério da Saúde que visam a redução da morbimortalidade materna e infantil (BRASIL, 2019 b). No entanto, a pandemia da COVID-19 promoveu a redução da cobertura da testagem das gestantes e do acompanhamento dos casos de sífilis no período gestacional conduzindo a medidas insuficientes para promover a eliminação da sífilis congênita, associado a outro fator que chamou a atenção que foram as altas taxas de incidência da COVID-19 em gestantes. Nesse contexto é fundamental a adequação da assistência obstétrica durante a pandemia COVID-19, oferecendo o cuidado baseado em evidências científicas, e definindo diretrizes que evitem a morbimortalidade do binômio mãe-feto (COSTA et al, 2021). Nesse cenário destaca-se a atuação do enfermeiro na Atenção Primária a Saúde (APS), como profissional essencial nesse processo de detecção e tratamento precoce da sífilis gestacional, por apresentar cuidados diretos aos indivíduos e comunidade, tendo a oportunidade de conhecer e priorizar as ações a serem ofertadas. Objetivo: diante do exposto, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do enfermeiro frente à realização da identificação da sífilis gestacional por meio de teste rápido e tratamento da sífilis em gestantes em um cenário pandêmico, assim como, o enfrentamento dos resultados e aconselhamento das usuárias dos serviços de saúde de uma Unidade de Atenção Primária em São Luís-MA. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, vivenciado durante o estágio obrigatório na atenção primária a saúde por uma residente de enfermagem com a orientação da enfermeira e preceptora da unidade de saúde. Foi realizado durante as atividades práticas do rodízio externo da Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), em um Centro de Saúde localizado na cidade de São Luís, Maranhão, no mês de agosto de 2021. A experiência consistiu em vivências durante a atuação do enfermeiro na consulta de pré-natal na atenção básica, onde foram descritas as principais atribuições do enfermeiro na atenção primária no atendimento as gestantes com o resultado do teste rápido para sífilis reagente durante o pré-natal de risco habitual.

     

     

    Resultados: A rotina do enfermeiro na consulta de pré-natal na Unidade de Atenção Básica caracterizava-se por priorizar algumas etapas imprescindíveis que devem ser seguidas no pré-natal de risco habitual. Primeiramente, o enfermeiro identificava o tipo de consulta da gestante, se era a primeira consulta ou as consultas de rotina. Na primeira consulta da gestante, para iniciar o pré-natal ela precisava comprovar a gestação com um exame de dosagem de gonadotrofina coriônica humana (Beta HCG-ßHCG) ou ultrassom obstétrico, após a confirmação da gravidez o enfermeiro realizava o cadastramento da gestante no SisPreNatal e fornecia o Cartão da Gestante devidamente preenchido e que deve ser verificado e atualizado a cada consulta. A partir daí foi realizado a anamnese e o histórico de saúde, solicitado os exames laboratoriais, um ultrassom obstétrico de controle e para confirmação da idade gestacional. Na primeira consulta com a gestante já se realizava os testes rápidos com o objetivo de identificação precoce de alguma infecção sexualmente transmissível, incluindo a sífilis gestacional. Após a realização do teste rápido em que este apresentou o resultado reagente para sífilis foi realizado o preenchimento da ficha de notificação do caso suspeito de sífilis em gestante, pois trata-se de uma doença de notificação compulsória. O tratamento foi iniciado independente da confirmação laboratorial através do resultado do VDRL (teste não treponêmico), pois iniciar o tratamento precoce é benéfico para a mãe e para o feto. A enfermeira realizou as orientações relativas ao tratamento, que foi iniciado de forma imediata, prioritariamente, com a penicilina que é a droga de escolha tanto no tratamento da gestante como dos parceiros sexuais dela. A enfermeira destacou a importância de realizar o teste rápido no parceiro para que seja realizado a identificação da doença e o tratamento oportuno e, dessa forma, interromper a cadeia de transmissão da doença e a possibilidade de transmissão para o feto ou outras alterações em decorrência da infecção durante a gestação como por exemplo, o risco de aborto, natimorto, parto prematuro, morte neonatal e manifestações congênitas que podem se apresentar de forma precoce ou tardia. Durante o acompanhamento das gestantes com sífilis, a enfermeira realizou a solicitação mensal do VDRL para a avaliação da titulação e eficácia do tratamento. Também foram realizadas orientações relativas ao uso de preservativo nas relações sexuais com o parceiro durante o tratamento,  e relativas a conclusão do esquema de tratamento, em que o teste não treponêmico tende a se negativar em 6 a 12 meses e pode permanecer com títulos baixos por longos períodos ou até por toda a vida. Algumas dificuldades enfrentadas durante o atendimento as gestantes no período da pandemia da COVID-19 foram relacionadas a gestão e assistência do cuidado, e foi necessário o planejamento e implementação de novas estratégias para atender às demandas das gestantes. Algumas dessas estratégias foram a reorganização do fluxo da rede, acompanhamentos e orientações virtuais quando a gestante se encontrava impossibilitada de ir na consulta e possuía recursos para essa modalidade de atendimento, e as consultas e procedimentos de rotina durante o pré-natal das gestantes com sintomas da síndrome gripal foram adiados por 14 dias. De acordo com a Portaria Nº 77, de 12 de janeiro de 2012, compete às equipes de Atenção Básica realizar testes rápidos para o diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis, incluindo a detecção da sífilis, no âmbito da atenção ao pré-natal para as gestantes e seus parceiros sexuais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). O diagnóstico precoce, intervenção imediata e o tratamento oportuno e adequado da sífilis nas gestantes e parceiros durante o pré-natal são determinantes na redução da morbimortalidade reduzindo ao máximo a possibilidade de transmissão vertical. Na atenção primária os testes rápidos devem ser realizados na gestante para prevenir a transmissão vertical de infecções, como no caso da sífilis. O enfermeiro deve sempre estar atento em sua conduta em relação à detecção precoce da sífilis durante o processo de pré-natal. O Ministério da Saúde recomenda que os testes rápidos para sífilis devem ser realizados na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro trimestre da gestação), no início do terceiro trimestre (28ª semana) e no momento do parto, independentemente de exames anteriores. Inicialmente, na primeira consulta, foi realizado o teste rápido, a triagem pré-natal e solicitado VDRL (teste não treponêmico) para identificar os casos precocemente. Todos os casos de sífilis gestacional devem ser notificados pelo enfermeiro ou outro profissional da assistência, pois é uma doença de notificação compulsória. As orientações realizadas pelo enfermeiro devem incluir explicações quanto à probabilidade da ocorrência de sífilis congênita, que vai ser determinada pelo estágio da sífilis na mãe e pela exposição fetal, enfatizando a importância de não interromper o tratamento da doença, pois a sífilis na gestação pode implicar em consequências severas, como o risco de aborto, natimorto, parto prematuro, morte neonatal e manifestações congênitas que podem se apresentar de forma precoce ou tardia. Nas gestantes, a maior parcela dos casos é diagnosticada por meio dos testes preconizados durante o pré-natal e o parto, e nem sempre é possível determinar a cronologia do tempo de infecção da doença. De acordo com o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas de prevenção e da transmissão vertical do HIV, sífilis e hepatites virais (BRASIL, 2019 b), todos os casos de gestantes, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste reagente, treponêmico ou não treponêmico, sem aguardar o resultado do segundo teste, já que o tratamento durante a gestação é benéfico para a mãe e para o feto. No entanto, o fato da realização do tratamento com apenas um teste reagente para sífilis não exclui a necessidade de realização do segundo teste (melhor análise diagnóstica), do monitoramento laboratorial (controle de cura) e do tratamento das parcerias sexuais (interrupção da cadeia de transmissão). A pandemia da COVID-19 interrompeu o ciclo de diagnóstico e tratamento devido a necessidade de reorganização dos serviços da APS para enfrentar a epidemia, no entanto, devido ao protagonismo da atenção primária em relação ao diagnóstico e tratamento de sífilis gestacional é necessário uma readequação para  que ela possa manter a oferta regular de suas ações de saúde e auxiliando na identificação de precoce dos casos de sífilis gestacional. Destacamos ainda, que essa interrupção no diagnóstico pode resultar em modificações no perfil de atendimento, no monitoramento e na qualidade das notificações, gerando um impacto significativo na vida das pessoas, comprometendo o controle e erradicação da sífilis. Portanto, o cuidado pré-natal é de extrema importância na gestação em relação à classificação de risco e aos demais cuidados de rotina. Neste período de pandemia, o Ministério da Saúde (MS) recomendou a realização de ajustes para que esse cuidado não seja comprometido em meio ao combate a COVID-19. Como alternativa, o MS sugeriu quando possível, que as equipes de APS pratiquem o teleatendimento em parte do pré-natal e, se não houver essa possibilidade, em seu lugar, poderá ser feito contato por telefone para dar seguimento e orientações às gestantes para que possa contemplar o calendário de consultas da gestante (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Considerações finais: A atenção primária desenvolve um papel fundamental no diagnóstico precoce e tratamento das doenças transmissíveis, através de ações de saúde, promoção de cuidado especializado durante o pré-natal de forma qualificada, em que é possível à modificação desse quadro de infecção no país. Na atenção básica, a equipe de enfermagem desempenha um papel importante no acolhimento da população, avaliando e encaminhando os pacientes às áreas de atenção conforme a necessidade, contribuindo para a redução da transmissão vertical da doença, através do diagnóstico precoce impactando na diminuição da morbimortalidade materna e neonatal. Os cuidados do profissional de enfermagem frente ao atendimento à gestante após o diagnóstico de sífilis incluem as condutas para o controle e manejo da doença, prevenção da reinfecção e possível transmissão para o feto. Percebemos a importância do enfermeiro no controle da sífilis gestacional informando sobre o tratamento de forma correta, uso de preservativos nas relações sexuais, promoção da educação em saúde, a solicitação de exames e a captação dos parceiros. Entretanto, devido ao COVID-19 houve uma redução do direcionamento dos recursos humanos disponíveis, em virtude da necessidade de atender as demandas impostas pela pandemia como casos primordiais e emergenciais no momento do surto, resultando em queda significativa do número de casos detectados e notificados. Portanto, é fundamental a realização de um planejamento que forneça subsídios para definir as intervenções necessárias ao manejo e controle da sífilis gestacional durante a pandemia da COVID-19, considerando o aumento de quadros de infecção da doença durante a pandemia e analisando o impacto na saúde pública se não tratada ou se tratada inadequadamente.

  • Palavras-chave
  • Saúde Materno-Infantil, Sífilis, COVID-19, Atenção primária a saúde.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • Trabalho em Saúde e Enfermagem
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