Introdução: Os programas de Residência Multiprofissionais em Saúde (RMS) foram criados em 2002 pelo ministério da saúde, com o intuito de propiciar a formação qualificada de profissionais da saúde, não médicos, para atuação no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Caracteriza-se como uma categoria de pós-graduação latu sensu com intuito de formação coletiva em serviço, mediante assistência e supervisão, com o objetivo de qualificar profissionais comprometidos com os princípios e as diretrizes de integralidade do cuidado no âmbito do SUS. Essa modalidade de pós-graduação é destinada à especialização de profissionais da saúde em diferentes áreas, incluindo a Enfermagem (COSTA et al, 2016). As Residências Multiprofissionais em Saúde em saúde proporcionam aos residentes o desenvolvimento de habilidades e especialidades, estimulando competências para ações de atenção, assistência e gestão em saúde. O seu caráter multidisciplinar possibilita uma relação recíproca entre as diversas intervenções técnicas, estimulando a interação entre profissionais de diferentes áreas, facilitando a resolução de problemas à medida em que agrupa vários saberes com um objetivo em comum, proporcionando a aplicação dos conhecimentos específicos necessários para a resolução dos problemas de saúde da população. A formação está intimamente relacionada a estrutura física da instituição de saúde onde acontece o treinamento em serviço, de forma estruturada, com orientação e supervisão de profissionais tecnicamente qualificados. Portanto, situações de crise em que o sistema de saúde não está preparado para enfrentar, como a pandemia da COVID-19, pode interferir e desestruturar os programas de residência multiprofissional e comprometer a formação do profissional de saúde (SILVA et al, 2020). Levando em consideração o propósito da Residência Multiprofissional em Saúde e o novo cenário da pandemia da COVID-19, que ocasionou mudanças nas atividades práticas e teóricas destes programas, a relevância deste relato está em apresentar o impacto que este cenário trouxe processo de formação destes profissionais no contexto da residência multiprofissional em saúde, que se constitui como um instrumento importante na formação de profissionais para o fortalecimento das ações necessárias no âmbito do SUS. Objetivo: Buscou-se relatar a experiência sobre o processo de formação de profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) no período de enfrentamento da COVID-19 no contexto da enfermagem, bem como as dificuldades vivenciadas pelos profissionais diante do período pandêmico. Metodologia: Este estudo trata de um relato de experiência, de caráter retrospectivo e descritivo acerca das experiências vivenciadas pelos profissionais residentes em saúde no enfrentamento da COVID-19 no contexto da Residência Multiprofissional em Saúde na área de Enfermagem em um Hospital Universitário situado em São Luís, no estado do Maranhão, no período de outubro a dezembro de 2021. A Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Clínicas Médica e Cirúrgica é formada por profissionais das seguintes categorias: Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Este trabalho vai abordar a formação do residente de Enfermagem em meio a atuação multidisciplinar no contexto da pandemia da COVID-19. No início da pandemia, o Hospital Universitário não se constituía como referência para a COVID-19, porém com o progressivo desenvolvimento e disseminação em massa dos casos de COVID-19 pelo país e consequentemente pelo estado do Maranhão, a infecção alcançou o estágio de transmissão comunitária e em virtude da superlotação das outras unidades hospitalares do estado, e da necessidade de suporte aos pacientes nos estágios mais graves da doença o hospital passou a atender os casos de COVID-19 que precisavam de suporte semi-intensivo e intensivo. O lócus da ação está baseado no cotidiano do profissional enfermeiro residente, e nas vivencias hospitalares durante a pandemia da COVID-19 e como todas essas alterações decorrentes do processo de enfrentamento da pandemia afetaram a formação profissional do residente. Os dados que foram relatados também representam a observação acerca do período de treinamento em serviço na instituição hospitalar frente à pandemia do coronavírus. Resultados: Os profissionais de saúde precisaram adaptar-se a assistência aos casos de COVID-19 com intuito de reduzir a contaminação e disseminação da doença nos serviços de saúde. Portanto, assim como todas as áreas da vida precisaram ser adaptadas para a esse novo estilo de vida, os serviços de saúde também precisaram ser reajustados para prevenir e evitar a disseminação da doença e para melhor receber e atender os pacientes com suspeita ou com a confirmação da COVID-19. Sendo assim, foi necessário tomar medidas para reestruturar os serviços de saúde e repensar em novas maneiras de se trabalhar frente a esta nova doença, portanto, devido a este cenário pandêmico, foi preciso focar grande parte das ações no remanejamento de vários profissionais para o atendimento a COVID-19, incluindo os residentes multiprofissionais (LIMA et al, 2020). Apoiados no processo de ensino, aprendizado e trabalho in loco nas instituições de saúde, as residências multiprofissionais em saúde possuem como atributo, a formação de profissionais segundo as necessidades locais, isto é, com habilidades e especialidades específicas conforme a deficiência regional. Portanto, situações que geram crise no sistema de saúde, como foi o caso da pandemia pelo novo coronavírus (COVID-19), podem interferir e até mesmo desestruturar os programas de residência multiprofissional em saúde em andamento, devido a rápida propagação da doença que resulta em graves impactos nas instituições de saúde. Diante da necessidade de adaptação a essa nova doença, os gestores das instituições hospitalares atuaram no planejamento e na preparação de protocolos e fluxogramas de serviços para atender às demandas impostas pelo cenário da COVID-19, o que resultou em uma abrupta mudança na rotina dos profissionais de saúde. Os serviços de saúde focaram suas ações no enfrentamento da COVID-19 e os programas de residências também direcionam a maioria das suas práticas para atendimento das pessoas em enfrentamento a doença. Como principais dificuldades vivenciadas pelos profissionais residentes durante o enfrentamento da pandemia da COVID-19 destaca-se as constantes mudanças nos fluxos de atendimento e o pouco tempo para se adaptar a essas mudanças, inicialmente a falta de aulas teóricas e práticas, e posteriormente, as dificuldades na adaptação ao ensino à distância (EaD) já que as atividades teóricas destes programas foram adaptados para a modalidade de ensino remoto emergencial para cumprir a carga horária teórica, com o uso de estratégias pedagógicas baseadas no ensino remoto, na tecnologia e na EaD. A situação de crise no cenário mundial, instaurada pela COVID-19, exigiu das instituições de ensino rápidas modificações na forma de ensinar, especialmente nos programas de pós-graduação, como foi o caso da residência multiprofissional. Os professores e gestores assumiram a tarefa de garantir, além da qualidade na formação, estratégias para que os residentes atendam aos requisitos desta, reconhecendo a pressão enfrentada pelos serviços de enfermagem na busca por profissionais competentes para assumir os diversos papéis exercidos pelo enfermeiro (LIMA et al, 2020). O uso das plataformas digitais para atividades teóricas teve um grande avanço nesse período, assim como ocorreu no serviço de residência de outras instituições pelo mundo. A pandemia acelerou a inserção da tecnologia no ensino de profissionais de saúde como metodologias alternativas e complementares nos ambientes educacionais dos programas de residência. Os encontros para apresentação dos seminários e reuniões virtuais serviram de ajuda tanto para o aprendizado quanto para o bem-estar emocional dos residentes e preceptores. Outra fragilidade relacionada ao ensino que podemos ressaltar é a interação e as relações interpessoais entre estudantes e professores, impedidas pelo distanciamento social durante a pandemia, que produzem efeitos importantes para a formação dos profissionais residentes de saúde, possibilitando o intercâmbio de ideias, conhecimentos e saberes como método de aprendizagem. A falta desse contato produz fragilidades na formação, uma vez que os profissionais de saúde cuidam de pessoas em processo de vulnerabilidades e, dessa forma, devem adquirir habilidades da área das humanidades, como por exemplo, o desenvolvimento de empatia, as quais ficam limitadas pela tecnologia (OLIVEIRA et al, 2020). Em relação as dificuldades enfrentadas na assistência destacam-se a falta de equipamentos de proteção individual (EPI’s) para todos os profissionais devido a alta demanda de atendimento e a escassez na produção dos materiais hospitalares pelas empresas responsáveis durante a pandemia, a carga horária excessiva de horas em serviço já que as aulas teóricas se encontravam suspensas, que pode resultar no aumento de ansiedade e depressão, já que há evidências de que a rotina de trabalho e o ambiente que estão inseridos são os principais fatores que contribuem para os níveis de ansiedade e depressão, levando em consideração a carga horária dos programas de residência, com duração de 24 meses, período no qual os profissionais desenvolvem atividades teóricas e práticas (ROTTA et al, 2016). Portanto, a RMS ultrapassa a educação para além do domínio técnico-científico da profissão desdobrando-se em absorção de aspectos estruturantes de relações e de práticas em todos os fatores de relevância social que auxiliam a promoção da qualidade de saúde da população, e se caracteriza como fortalecedora do SUS e dos serviços, favorecendo um atendimento de qualidade e integral ao indivíduo, além de contribuir para formação dos profissionais por se configurar como uma ferramenta diferenciada de aprendizagem centrada na prática. Apesar das mudanças provocadas pela pandemia da COVID-19 no processo de ensino-aprendizagem, não significou, necessariamente que resultou em um prejuízo ao processo de formação dos residentes multiprofissionais em saúde. Podemos considerar que este momento de crise no sistema de saúde provocado por uma pandemia compreende como uma oportunidade única de aprendizado em todas as áreas do conhecimento promovendo a formação de profissionais experientes e preparados para atuar em situações semelhantes, passíveis de ocorrer em futuro próximo. Considerações finais: A Residência Multiprofissional se apresenta como peça fundamental frente ao combate e controle da pandemia de COVID-19, na qual as expertises dos profissionais que atuam nessa perspectiva estão voltadas aos problemas enfrentados diante da pandemia provocada por um vírus. Neste sentido, observamos que o processo formativo da Residência Multiprofissional em Saúde proporciona ao profissional residente um olhar biopsicossocial do adoecimento e das demandas que o permeiam, compreendendo uma oportunidade de fortalecer saberes e vínculos que são transformados em condutas a partir do contato com profissionais de diversas áreas, permitindo que os residentes assumam uma nova conduta na prática profissional, portanto, consideramos fundamental a atuação dos residentes no atual cenário da COVID-19, por se tratar de um profissional que desenvolve seu trabalho ao mesmo tempo em que está em processo de formação acadêmica, dessa forma, deve ser preservado o processo de ensino aprendizagem, garantindo-se os princípios da formação em serviço no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde para que não sejam perdidos diante de um contexto atípico, como o da pandemia da COVID-19 e aperfeiçoando o uso de tecnologias educacionais como estratégia complementar no processo de formação dos profissionais.
Comissão Organizadora
Conselho Regional de Enfermagem do Maranhão
Comissão Científica