Este artigo, resultado de uma pesquisa de doutorado, analisa o processo de coprodução de agenda política e normas locais a partir das feiras da agricultura familiar na Patagônia Argentina. O estudo parte do contexto de crise multidimensional gerada pelo modelo agroexportador hegemônico, que provocou a desestruturação dos sistemas alimentares locais, concentração de terras e perda de soberania alimentar. Como resposta, emergiram 53 feiras, impulsionadas por agricultores, consumidores e sociedade civil, representando inovações organizacionais, comerciais e produtivas baseadas na economia solidária e agroecologia. A pesquisa analisa, em particular, as 26 feiras que conseguiram a sanção de normativas locais. O estudo demonstra como a alta visibilidade dessas feiras, instaladas em espaços públicos centrais, as tornou um problema público e catalisou um processo de agenda-setting. Através da mobilização de recursos e da negociação, os atores envolvidos conseguiram inserir o tema na agenda governamental. A coprodução das normas locais (ordenanças e regulamentações) resultou de um processo participativo que incorporou dimensões como comercialização direta, segurança alimentar, proteção ambiental e inclusão social. Conclui-se que essas feiras não só constituem sistemas alimentares alternativos, mas também foram fundamentais para coproduzir um marco normativo local que as contempla, institucionalizando práticas e legitimando seu papel no desenvolvimento rural sustentável.
Comissão Organizadora
Congresso Cooperativismo
Fernando Rocha
Uziel Barbosa
Comissão Científica