A economia solidária, fundamentada em princípios como autogestão, cooperação e solidariedade, configura-se como um modelo alternativo ao sistema capitalista tradicional, especialmente em territórios marcados por vulnerabilidade social e econômica. Entre as comunidades pesqueiras artesanais, esse modelo encontra terreno fértil para se desenvolver, pois dialoga diretamente com práticas coletivas de trabalho, saberes tradicionais e a busca pela sustentabilidade dos territórios. No entanto, é preciso destacar que a pesca artesanal no Brasil, embora reconhecida como atividade essencial à segurança alimentar e à geração de renda, ainda mantém invisibilizada a participação central das mulheres. As pescadoras artesanais assumem funções que vão muito além da coleta e beneficiamento do pescado. Elas são responsáveis pela preservação dos modos de vida comunitários, pela transmissão de saberes intergeracionais e pela organização de estratégias coletivas de enfrentamento às desigualdades sociais. Ainda assim, permanecem sub-representadas em estatísticas oficiais e em políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro. Nesse sentido, a difusão do conceito de economia solidária entre as pescadoras representa não apenas uma ferramenta de fortalecimento organizativo, mas também uma estratégia de reconhecimento do papel social e político dessas mulheres. Este trabalho tem como objetivo discutir a economia solidária e a autogestão no cotidiano das pescadoras artesanais, ressaltando como a apropriação desses conceitos pode potencializar processos de empoderamento feminino, autonomia econômica e valorização de práticas tradicionais. A partir de revisão bibliográfica e do diálogo com experiências vivenciadas em comunidades do litoral pernambucano, observa-se que a construção de iniciativas solidárias possibilita às pescadoras maior capacidade de organização, acesso a mercados justos e fortalecimento da identidade coletiva. A prática da autogestão, quando incorporada ao cotidiano das pescadoras, fortalece a cooperação, amplia a participação social e promove alternativas de renda sustentáveis, alinhadas ao cuidado com o meio ambiente. A economia solidária, nesse contexto, não se apresenta apenas como estratégia econômica, mas como projeto de transformação social, capaz de enfrentar desigualdades de gênero, garantir visibilidade às mulheres na pesca e consolidar novas formas de protagonismo feminino nos territórios tradicionais. Conclui-se que o avanço da economia solidária entre pescadoras artesanais depende da criação de espaços de formação, articulação e reconhecimento institucional, bem como do incentivo a políticas públicas específicas que fortaleçam o trabalho coletivo e autogestionário. Difundir esse conceito entre as mulheres da pesca artesanal é, portanto, um passo essencial para promover justiça social, equidade de gênero e sustentabilidade nos territórios costeiros.
Comissão Organizadora
Congresso Cooperativismo
Fernando Rocha
Uziel Barbosa
Comissão Científica