Essa apresentação explora, criticamente, as limitações de compreensão contidas na categoria “onda migratória”, recorrentemente utilizada pela literatura acadêmica focada na imigração brasileira e pela produção midiática, nas últimas quatro décadas. A utilização de tal metáfora hidráulica, levanta, a princípio, duas questões que merecem uma cautelosa avaliação. A primeira, é que sua dimensão semântica sugere uma explicação mais comprometida com a insegurança da sociedade de destino do que com o fenômeno migratório em si. A segunda sugere que tal categoria produz pouca clareza interpretativa, ao distanciar-se da conjuntura política brasileira e focar, exclusivamente, em súbitas crises de curta duração que, por si só, fragmentam uma compreensão mais ampla da conjuntura política e econômica. Argumentamos, portanto, que tais “picos migratórios” podem ser melhor compreendidos dentro de uma dimensão diacrônica de ordem conjuntural: a passagem da Ditadura Militar para a Nova República (1985-). A pesquisa é centrada em um aporte teórico que envolve a historiografia, a economia. Ela ganha sustentação através da análise dos bancos de dados disponibilizados pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do US The Yearbook of Immigration Statistics. O desigual modelo econômico imposto pelas elites brasileiras a partir da agenda neoliberal adotada a partir da década de 1990, via Consenso de Washington, apresenta um país que sofre uma profunda mudança estrutural em seu modelo econômico: a redução da complexidade econômica e da produtividade agregada. A migração brasileira revela um profundo processo de reordenamento populacional, em função de um capital excludente, gerido por uma elite empresarial especializada em commodities e serviços não sofisticados. Através de estudos centrados em classe social, gênero e raça, presenciamos um processo contínuo de expulsão dos mais vulneráveis. Largados à mercê de regimes de fronteiras de economias centrais, brasileiros são retratados enquanto perigosas ondas, prontas para arrebentar território adentro.
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Victor Barros
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