A compreensão do avanço do movimento de precariedade no mercado de trabalho pode ser realizada pela via (i) da análise econômica, como uma espécie de imposição própria da lógica de funcionamento do sistema de acumulação e das cadeias globais de produção, notadamente pelos avanços neoliberais; assim como (ii) pelo avanço “desde baixo”, ou seja, pela promoção de diversas vias de justificativas a partir de capturas de subjetividade. Uma distinção meramente analítica, ressalte-se, dado o movimento de retroalimentação dos dois polos. Essa segunda via, mais subjetiva, pode ser ponderada a partir de elementos de constituição da subjetividade, notadamente a partir das aproximações da psicodinâmica, psicanálise ou mesmo da moralidade. O objetivo do ensaio aqui proposto é o de observar como o estreitamento da noção de racionalidade, dentro de um conceito de avanço neoliberal, retira os afetos e sentimentos do âmbito público de discussão, diminuindo os espaços de disputa e justificando uma manutenção da situação social do indivíduo trabalhador. Trata-se de aproximação teórica que se ancora em resultados da World Values Survey, assim como em inquéritos e entrevistas iniciais com trabalhadores migrantes em Portugal. Percebe-se que o trabalho migrante, especialmente o exercido por brasileiros em Portugal, tem por pano de fundo essa movimentação de valores que justificam a precariedade, seja por intermédio dos ideais de “luta”, do “ser guerreiro”, do empreendedor, dentre outras construções semelhantes, incluída a distinção muito presente entre trabalho e emprego, assim como um afastamento da institucionalidade enquanto elemento que atrapalha a condução da vida privada.
Comissão Organizadora
Victor Barros
Comissão Científica