A apresentação é parte de uma pesquisa em andamento, acerca das dinâmicas de produção social da ciência que emergem da intensificação das circulações acadêmicas entre o Brasil, Portugal e o continente africano. Essas circulações são ocasionadas por diferentes fatores. Por um lado, há em Portugal uma tradição mais antiga de se estudar “África”, que se localiza sobretudo nos estudos do desenvolvimento, e nas discussões que têm como eixo a noção de império português. Por outro, a produção científica que tem o continente africano como tema de investigação empírica cresceu consideravelmente no Brasil, sobretudo nos últimos 20 anos, consideravelmente motivada pelos movimentos antirracistas no Brasil e pelo interesse na diáspora africana. Junto a isso, ao longo dos anos 2000, o Estado brasileiro investiu na atração de estudantes africanos. No contexto que se estabeleceu a partir sobretudo de 2015, de crescimento da emigração científica dos pesquisadores e estudantes do Brasil, as discussões acadêmicas articuladas em torno do referente “África” em Portugal passam a contar progressivamente com maior participação de pesquisadores e estudantes brasileiros, e de africanos formados no Brasil. Nesse contexto, questiono como se forma a legitimidade dos discursos científicos sobre África que partem do Brasil para esta rede de produção científica altamente internacionalizada e que encontra alguns dos seus pontos de articulação mais importantes em alguns centros de ensino e pesquisa em Portugal. Apresento algumas considerações iniciais sobre o tema a partir de 1) a pesquisa etnográfica que venho realizando desde 2022, em que tenho observado analiticamente as interações nos ambientes acadêmicos; 2) entrevistas semiestruturadas, conduzidas a fim de elaborar as trajetórias acadêmicas e migratórias individuais; 3) uma genealogia inicial dos campos de estudos africanos no Brasil, e em Portugal, dedicada a compreender as suas respectivas particularidades.
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Victor Barros
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