Embora tradicionalmente associadas aos homens, as doenças cardiovasculares têm revelado um impacto crescente e mais letal entre as mulheres nas últimas décadas. Embora o infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) ainda seja mais prevalente no sexo masculino, estudos mostram que as mulheres apresentam maior mortalidade e mais complicações. Esses desfechos não se explicam apenas por fatores biológicos, mas também por questões clínicas, sociais e estruturais. Mulheres costumam ser hospitalizadas mais tardiamente, com idade avançada e múltiplas comorbidades, além de manifestarem sintomas atípicos — como náuseas, dor epigástrica e cansaço — que dificultam o diagnóstico precoce e atrasam o tratamento. Essa dificuldade é agravada pela baixa representatividade feminina em pesquisas clínicas, resultando em protocolos construídos a partir de padrões masculinos que nem sempre se aplicam às especificidades femininas. Soma-se a isso a desigualdade no acesso a terapias emergenciais e procedimentos como a intervenção coronária percutânea primária (ICPp). Objetiva-se com o trabalho analisar os fatores associados à maior mortalidade feminina. Realizou-se uma revisão bibliográfica e análise de estudos acadêmicos, buscando demonstrar a complexidade desse cenário e a urgência de abordagens com perspectiva de gênero. Diversos estudos evidenciaram que mulheres apresentam maior mortalidade por infarto do miocárdio, resultado de uma combinação de fatores clínicos, sociais e de gênero. Segundo Silva et al. (2020), a mortalidade feminina por IAM foi de 17,24%, significativamente maior que a dos homens (9,64%), com maior prevalência de hipertensão, diabetes e dislipidemia. De forma complementar, Ribeiro et al. (2022) reforçam que mulheres chegam mais tarde ao atendimento, recebem menos frequentemente a terapia ideal e apresentam maior mortalidade hospitalar e em seguimento de até um ano. Já a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2023) aponta que a sobrevida média após o infarto é de 5,5 anos entre mulheres, contra 8,2 anos entre homens, destacando também sintomas atípicos e estresse como agravantes. Por fim, mesmo quando recebem o mesmo tratamento que os homens, mulheres com infarto apresentam pior evolução clínica, mais complicações e maior mortalidade em diferentes períodos de seguimento. Assim, torna-se evidente que a maior gravidade do infarto em mulheres não decorre exclusivamente de fatores biológicos, mas de um conjunto de condições clínicas, sociais e institucionais. Dessa forma, entende-se que o sexo feminino não é um fator prognóstico independente; os desfechos desfavoráveis estão mais ligados à gravidade clínica, atrasos no atendimento e menor adesão terapêutica. Assim, torna-se essencial repensar o cuidado cardiovascular com enfoque de gênero, promovendo diagnóstico precoce, acesso equitativo ao tratamento, capacitação profissional e maior inclusão feminina em pesquisas, visando à construção de protocolos mais justos e eficazes na redução da morbimortalidade por infarto entre as mulheres.
Comissão Organizadora
Dr. Danilo Antônio Giarolla
Dr. Jandson Vieira Costa
Dra. Klégea Maria Câncio Ramos Cantinho
Dra. Suely Moura Melo
Comissão Científica
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Anais do I ECM
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