As arraias de água doce têm sua imagem associada à ocorrência de acidentes, devido à presença de ferrões que podem provocar ferimentos graves. No entanto, nas bases de dados dos governos federal, estadual e dos municípios amazônicos não há registro específico sobre os acidentes com esses animais, sendo estes, portanto, classificados como “outros”. O presente trabalho tem como objetivo analisar o histórico de possíveis acidentes com arraias de água doce a partir do DATASUS e do conhecimento tradicional de pescadores em dois municípios do estado do Amazonas. O estudo ocorreu de duas formas, a primeira se baseou em uma busca no banco de dados do DATASUS, na qual foi feito um registro de acidentes com animais venenosos registrados como “outros” entre os anos de 2011 e 2021. Na segunda forma os dados foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas com aplicação de questionários com pescadores locais que foram acometidos por acidentes com arraias de água doce (N= 50). No banco de dados do DATASUS foi possível observar um registro reduzido de outros acidentes com animais venenosos. Ao se comparar os registros entre o município de Manaus e Presidente Figueiredo é possível observar que os casos raramente são registrados em Presidente Figueiredo, visto que no município houve falta de registros nos últimos cinco anos, já em Manaus houve uma redução significativa de acidentes registrados, demostrando que os registros de acidentes com arraias de água doce são negligenciados. Em relação aos entrevistados, foi observado que 99,0% foram do sexo masculino, indicando predominância da atividade de pesca por homens, e que a maioria dos acidentes ocorreram com pescadores com mais de 50 anos de idade (70,0%), indicando que os acidentes podem estar relacionados com a diminuição da acuidade visual devido à idade. Segundo relatos dos pescadores, quando houve captura das arraias em apenas 20,0% dos casos as mesmas foram devolvidas a natureza, em 70,0% dos casos elas foram mortas (30,0%) ou mutiladas (40,0%) e também foram utilizadas como iscas para a captura de outros peixes (10%), indicando altas taxas de interação negativa por pesca na localidade. Os pés foram a região do corpo mais afetad em 90,0% dos acidentes, seguido pelas mãos (5,0%), pernas (3,0%) e coxas (2,0%). Os ferimentos ocasionados ocorreram principalmente quando os pescadores puxavam as canoas ou botes, e quando pescavam. Entre os sintomas assinalados pelos pescadores após os acidentes, foram descritos dor, inchaço e, por vezes, necrose. De acordo com as informações descritas na base de dados do DATASUS é possível concluir que os registros de acidentes com arraias de água doce são negligenciados. Portanto, o presente trabalho serve para alertar os órgãos de saúde pública para que os acidentes com arraias de água doce comecem a ser acompanhados e registrados pelos sites oficiais do governo, visando melhorias no atendimento aos acidentados.
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