O parto induzido é a principal resposta ao estresse de captura descrita em elasmobrânquios vivíparos. Representantes da Ordem Myliobatiformes têm demonstrado vulnerabilidade ao parto induzido/abortamento, independente do estágio de desenvolvimento dos filhotes. Embora seja uma consequência comum, os gatilhos fisiológicos envolvidos nesta resposta permanecem desconhecidos. O objetivo deste trabalho é caracterizar a fisiologia do estresse na raia de água doce Potamotrygon amandae em eventos de abortamento e parto induzido por captura. Fêmeas grávidas (n= 39) e não grávidas (n=35) foram coletadas no Rio Paraná (UHE Engenheiro Souza Dias – Ilha Solteira/SP) com o uso de tarrafas (CEUA – FEIS/UNESP 03/2021 e Licença ICMBio 81165-2). Logo após a captura dos espécimes, realizou-se coleta de sangue e os animais foram acondicionados em caixas plásticas. No caso de fêmeas grávidas, outra coleta de sangue foi realizada no momento do parto. Quanto as fêmeas não grávidas a segunda coleta de sangue foi realizada no intervalo de uma hora após a captura. Com as amostras de sangue total, realizou-se a análise de microhematócrito. O plasma foi analisado quanto a concentração de glicose e lactato, mensurados com kits comerciais. Para comparação dos dados plasmáticos utilizou-se o programa estatístico SigmaStat e os grupos foram comparados usando o test t, com significância de 5%. Os animais coletados para este trabalho serão utilizados para adicionais análises bioquímicas, histológicas, hematológicas e bromatológicas. A glicose não se mostrou significativamente diferente entre os grupos comparados e momentos de coleta, os quais: fêmeas grávidas no momento da coleta (27,9±19,9 mg/dL); fêmeas no aborto (29,9±18,6 mg/dL); fêmeas não grávidas na coleta (27,0±11,1 mg/dL) e não grávidas após uma hora (28,4±16,6mg/dL). Em contraste, o lactato se mostrou significativamente diferente nas comparações entre grupos e temporais, com os maiores valores amostrados em fêmeas no momento do aborto (49,7±27,7 mg/dL) quando comparados com fêmeas grávidas na coleta (7,7±15,2 mg/dL), não grávidas na coleta (3,30±5,09mg/dL) e não grávidas após uma hora (15,59±15,25 mg/dL). Em relação a análise de microhematócrito, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos, de modo que fêmeas grávidas no momento da coleta (27,3±8,1%), no momento do aborto (29,6±6,8%) e não grávidas nos dois momentos (29,3±4,9% e 27±5,0%). É sabido que o alto nível de lactato circulante é um dos efeitos fisiológicos da resposta secundária ao estresse em peixes e que o aumento deste metabólito pode ser indicativo de perturbações fisiológicas irreversíveis. Assim sendo, o aumento de lactato no plasma de fêmeas grávidas no momento do aborto pode ser uma sinalização para a intensa contração da musculatura lisa uterina e expulsão dos filhotes em Potamotrygon amandae. Nossos resultados acerca da glicose plasmática e hematócrito corroboram com estudos realizados em espécies congenéricas nos quais não se alteram durante eventos de estresse. Os dados mostram o lactato como possível gatilho fisiológico para o evento de abortamento/parto induzido por captura em P. amandae, podendo ser investigado em outras espécies do grupo.
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