As raias-manta são espécies de elasmobrânquios que ocorrem em águas tropicais, subtropicais e temperadas ao redor do globo terrestre. São encontradas tanto em águas costeiras quanto oceânicas, podendo ser avistadas também, ao longo de costas produtivas com ressurgência regular, ilha oceânica, pináculos e montes submarinos. Mesmo sendo animais legalmente protegidos no Brasil, as raias-manta, assim como outros elasmobrânquios, seguem sendo vítimas de capturas incidentais e intencionais, com diversos fins. A Mobula birostris, representa o maior membro da família Mobulidae e no Brasil, a espécie está classificada como ameaçada de extinção. Os estudos sobre ecologia e conservação de mobulídeos no Brasil ainda são escassos e estudos dirigidos no Arquipélago de Fernando de Noronha (AFN) estão em andamento. A região é uma área de elevada importância biológica para a conservação, reprodução e alimentação de diversas espécies marinhas, além de abrigar espécies endêmicas. Ainda assim, no caso de animais filtradores como as raias-manta, o AFN oferece um habitat protegido e com maior disponibilidade de alimento quando comparado com a região oceânica oligotrófica no entorno. Em razão disso, o objetivo do trabalho é evidenciar a utilização da região como habitat de uso, assim como, a importância do arquipélago para a conservação das raias-manta. O Banco Brasileiro de Mantas (BBM), elaborado e mantido pelo Projeto Mantas do Brasil, é uma plataforma on-line de análise e quantificação dos registros de raias-manta em todo território nacional. Os resultados obtidos em AFN são fruto da sinergia do trabalho entre pesquisadores e ciência cidadã, com intensa colaboração de turistas, fotógrafos e população local. A coloração ventral, predominantemente branca das raias-manta, contrasta com manchas e pintas ventrais, que funcionam como uma impressão digital, auxiliando assim na identificação de cada indivíduo. Desta forma, a metodologia de fotoidentificação foi utilizada para a identificação e catalogação das raias-manta que ocorrem em AFN. Foram catalogados 124 registros de raias-manta no AFN nos últimos 10 anos (2009 – 2019), com 80 identificações confirmadas e com predominância de indivíduos juvenis. Foi possível observar a prevalência de reavistamentos, sendo os mesmos indivíduos avistados em diferentes anos e estações do ano. Os primeiros registros, normalmente consistem em animais com cerca de 150 cm de largura de disco, e alguns destes foram monitorados e revistados em torno do arquipélago por até 5 anos. Ressalta-se então, a utilização da região por raias-manta nos primeiros anos de vida e por anos subsequentes, o que permite, além do monitoramento, a observação do crescimento e maturação desses animais. Ainda de acordo com os registros de fotos e vídeos, o padrão de comportamento alimentar foi observado em 38% dos registros, não sendo registrados comportamentos reprodutivos ou em estações de limpeza. Dentro das análises realizadas, foi possível verificar que os indivíduos registrados no AFN, não foram registrados em nenhuma outra localidade. A maior frequência nos avistamentos e reavistamentos entre 2014 e 2019 revela o uso e a fidelidade da espécie à região, e ressalta a importância do arquipélago e de áreas marinhas protegidas para o estudo, monitoramento e conservação de espécies marinhas ameaçadas de extinção.
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