Os tubarões são conhecidos mundialmente pelos registros de incidentes com humanos, apesar destes serem raros. É presente no imaginário popular um temor a respeito destes animais, sobretudo após o lançamento do filme Tubarão, em 1975. Todavia, a ampla maioria das 500 espécies reconhecidas atualmente não possui sequer registros de incidentes ou quaisquer interações negativas com humanos. No Brasil, os primeiros registros datam do século XIX, porém a partir da década de 90 se tornaram cada vez mais frequentes, sobretudo na Região Metropolitana de Recife. Dessa forma, o objetivo deste trabalho consiste em 1) avaliar a influência de variáveis abióticas sob as interações negativas entre tubarões e humanos na costa brasileira e 2) avaliar a morfologia dentária de espécies da família Carcharhinidae a fim de auxiliar na identificação das espécies envolvidas em incidentes. Para isso foi realizado um levantamento bibliográfico de artigos com dados sobre incidentes a partir do portal de periódicos CAPES. Variáveis relacionadas aos incidentes ocorridos na costa brasileira, tais como localidade, data, gravidade dos ferimentos, atividade praticada no momento do incidente e espécie envolvida, foram extraídas do Global Shark Attack File, Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT) e International Shark Attack File (Florida Museum). Arcadas dentárias de espécimes depositados nas coleções do Museu Nacional, Rio de Janeiro, e Universidade do Estado do Rio de Janeiro, estão sendo examinadas para avaliar a abertura da boca, características da mordida, morfologia e distribuição dos dentes ao longo da arcada. Até este momento, foram contabilizados ao todo 107 incidentes em toda costa brasileira, sendo 72 no litoral de Pernambuco (70 após-1992), cidade que também detém a maior taxa de mortalidade com 42% e com média superior a quatro incidentes por ano. Entretanto, é visível que o número de casos tem reduzido gradativamente nos anos recentes. Na avaliação preliminar das variáveis ambientais envolvidas, verificou-se maior frequência no outono (30 registros) e no inverno (29 registros), com julho sendo o mês mais recorrente com 14 incidentes, em contraposição a agosto, que não passou de três casos. Em relação ao ciclo lunar, os períodos de lua nova e cheia apresentaram maior número de ocorrências, com 30 na primeira fase e 26 na segunda. Um maior número de casos ocorreu no período da tarde. Quanto à gravidade dos ferimentos e quadro das vítimas, uma escala de gravidade das lesões está sendo criada para facilitar a leitura do panorama geral dessa categoria. Além disso, apenas 22 registros apresentam a identificação a nível de espécie dos tubarões envolvidos nos eventos, enfatizando a necessidade de estudos sobre as variações morfológicas nos dentes que possam auxiliar na diferenciação. Nas primeiras observações acerca da dentição em exemplares de Carcharhinidae, diferenças nas proporções comprimento/largura dos dentes adjacentes à sínfise foram observadas em Carcharhinus leucas, C. plumbeus, C. obscurus e C. brachyurus. Outras características dentárias serão analisadas e mais espécies serão incluídas no estudo, visando avaliar também a influência do sexo e tamanho dos indivíduos na morfologia dos dentes.
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