REABILITAÇÃO E SOLTURA DE UM TUBARÃO-LIXA, Ginglymostoma cirratum, NO ESTADO DO CEARÁ

  • Autor
  • Micaele Niobe Martins Cardoso
  • Co-autores
  • Fábio Teles de Santana , Felipe Alexandre Catardo , Lilian Glória Xavier , João Eduardo Pereira de Freitas , Vicente Vieira Faria
  • Resumo
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    O tubarão-lixa, Ginglymostoma cirratum, se distribui no Atlântico tropical e subtropical. A espécie é consideradaVulnerável’ pela IUCN e pelo Brasil (ICM-Bio). No Brasil, não há relatos de reabilitação com êxito de soltura de tubarões-lixa advindos de vida livre. Dentro desse contexto, o objetivo deste trabalho foi o de caracterizar o processo de reabilitação de um tubarão lixa. Em 29 de julho de 2022, uma fêmea juvenil de tubarão-lixa (1,35 m de comprimento total e 9,8 kg), foi resgatada na praia do Náutico, em Fortaleza - CE. O tubarão apresentava alterações comportamentais, nadando em áreas rasas, na iminência de encalhar. Por essas razões, o tubarão foi resgatado e levado para reabilitação. Ao ser admitida para reabilitação, a paciente foi mantida em um tanque de quarentena com monitoramento dos parâmetros físico-químicos da água. Foi realizado o exame clínico admissional completo, no qual foram aferidos parâmetros físicos e comportamentais. Os resultados da anamnese e exame físico indicavam um quadro de choque circulatório, desnutrição discreta e desidratação moderada. Com isso, foi estabelecido o diagnóstico presuntivo de síndrome da desnutrição. Para estabilização inicial no primeiro dia foram administrados carvão ativado e de fluidoterapia via oral. O processo de estabilização se desenvolveu através da continuidade da fluidoterapia e nutracêuticos via oral, de corticoide e de vitaminas do complexo B, ambos por via intramuscular. Após as respostas clínicas positivas demonstradas pela paciente, iniciou-se a etapa da reabilitação, na qual inicialmente foram realizados exames hematológicos e coproparasitológico para definição de uma conduta terapêutica. Durante essa etapa, a paciente foi alimentada através de sondas orogástricas, contendo pescados processado em consistência pastosa, por cinco vezes ao dia, somadas à fluidoterapia e nutracêuticos. Os resultados dos exames complementares indicaram alterações na quantidade de eritrócitos e um aumento nos leucócitos totais. Assim, foi realizado um tratamento sintomatológico com uso de antibiótico, antiparasitário, anti-inflamatório e comprimidos de iodo. Além da alimentação pastosa, foi realizada a alimentação sólida induzida. Terminada a fase de reabilitação e após 10 dias, novos exames laboratoriais foram realizados. Os resultados indicaram a resolução dos quadros de leucocitose e de anemia. Já o exame coproparasitológico foi negativo para a presença de parasitas. Após estes resultados, foi estabelecida a alta médica e, para não haver os efeitos colaterais da permanência em cativeiro, foi também indicada a alta hospitalar. A soltura foi realizada em uma unidade de conservação marinha no Ceará, o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, em 15 de agosto de 2022. Como forma de monitoramento, foram tomadas fotos de uma marca natural da primeira nadadeira dorsal do tubarão para posterior fotoidentificação por parte de pessoas interessadas em mergulho recreativo no Parque. Espera-se que a descrição do processo de reabilitação realizado no presente estudo possa potencialmente ser útil para futuras situações de resgate, reabilitação e soltura de tubarões. Dada a situação de risco de extinção em que muitas espécies de tubarões se encontram, cada indivíduo salvo importa na busca pela conservação desses animais. 

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