A raia-prego recentemente descrita, Hypanus berthalutzae, é endêmica do Brasil, incluindo as ilhas oceânicas. A espécie está atualmente listada como “Vulnerável” pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) devido à perda de habitat e à pesca direcionada e acessória, com uma diminuição populacional suspeita de 30-49% nos últimos 32 anos. Embora se espere que ela tenha traços de história de vida semelhantes à raia-prego H. americanus, pouco se sabe sobre sua biologia reprodutiva. Nesse trabalho apresentamos as primeiras observações de acasalamento e um parto induzido de H. berthalutzae no Arquipélago de Fernando de Noronha, uma Área Marinha Protegida insular do Oceano Atlântico Equatorial. Todos os avistamentos do comportamento de acasalamento foram feitos a sota-vento da Ilha da Rata (3°48’49,2” S 32°23’25,8” W). Os registros foram obtidos de forma oportuna por meio de expedições científicas, contribuições de cidadãos cientistas e cooperação de empresas locais de mídia subaquática. Foram registrados: comportamento de corte (n= 4) e cópula (n= 3). As etapas dos eventos de acasalamento incluíram: (1) “perseguição/seguimento próximo”, (2) “mordida pré-copulatória”, (3) inserção/cópula e (4) “separação". Um parto induzido de uma H. berthalutzae também foi registrado durante uma captura científica para monitoramento de tubarões no arquipélago (ICMBio #80761). O espécime foi acidentalmente capturado por uma linha de espera. Esses resultados são especialmente relevantes, considerando que registros de comportamento reprodutivo na natureza são raros para elasmobrânquios em geral. Observou-se também que os eventos de acasalamento ocorreram em diferentes meses, sugerindo que o ciclo reprodutivo de H. berthalutzae neste sistema insular é assíncrono, como observado para outras espécies de arraias em regiões com condições ambientais favoráveis e alimentos abundantes ao longo do ano. A documentação oportunista do parto induzido permitiu a observação direta e não letal dos dois filhotes no final de maio ou quase no final de maio, um macho e uma fêmea. Embora preliminares, essas observações devem ser consideradas em futuros planos de manejo, pois fornecem dados relevantes sobre as características da história de vida e comportamento de acasalamento desta espécie endêmica e ameaçada.
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