Ilhas e montes submarinos oceânicos tem sido alvo para a criação de áreas marinhas protegidas por apresentarem características únicas e serem ambientes altamente produtivos em meio a águas abertas e oligotróficas (i.e. efeito ilha), o que favorece a manutenção de uma complexa cadeia trófica. Não é surpreendente que o Arquipélago de Fernando de Noronha seja de grande importância biológica para os tubarões no Oceano Atlântico equatorial e essencial para a conservação do grupo. Embora a região sirva como área de alimentação, reprodução e/ou berçário para pelo menos cinco espécies de tubarões, existem poucos estudos sobre os aspectos ecológicos destas espécies, bem como sobre os fatores abióticos e bióticos que influenciam processos biológicos importantes para estes animais. Para preencher parte destas lacunas, o projeto “Ecofisiologia de tubarões em um oásis oceânico, o Arquipélago de Fernando de Noronha” teve como objetivo investigar os aspectos ecofisiológicos relacionados à ecologia nutricional e reprodução de tubarões do arquipélago. No entanto, no presente resumo foram avaliados os dados preliminares de capturas e observações coletadas em campo. De fevereiro de 2020 a maio de 2022 foram realizadas três expedições científicas para captura e amostragem dos tubarões. Foram utilizados três métodos para captura, incluindo a linha de espera de fundo e de superfície para tubarões de grande porte e linha de mão para filhotes (< 1 cm de comprimento total, CT). Todos os tubarões capturados foram trazidos para o barco, onde foram contidos e tiveram amostras biológicas coletadas (sangue, tecido muscular e dérmico) e comprimento total mensurado. Foram capturados um total de 78 tubarões, 3 com linha de espera de superfície, 12 com linha de mão e 63 com linha de espera de fundo. As capturas incluíram as espécies Carcharhinus perezi (n= 29; 146.4 ± 50.9 cm CT), Galeocerdo cuvier (n= 21; 263.6 ± 66.1 cm CT), Ginglymostoma cirratum (n= 16; 212.9 ± 37.9 cm CT), Negaprion brevirostris (n= 8; 256.4 ± 15.7 cm CT), Carcharhinus falciformis (n= 3; 234.3 ± 17.6 cm CT) e Carcharhinus plumbeus (n= 1; 196 cm CT). O menor tubarão capturado tinha 78 cm CT (C. perezi) e o maior tinha 448 cm CT (G. cuvier). Embora as análises fisiológicas ainda estejam em andamento, foi possível verificar através da análise morfológica externa que duas fêmeas de C. perezi capturadas em fevereiro de 2020 apresentaram mordidas pelo corpo, possivelmente resultante do comportamento de cópula. Esses resultados adicionam informações inéditas sobre o ciclo reprodutivo dessa espécie no Oceano Atlântico equatorial. O mesmo foi observado em três fêmeas de G. cuvier capturadas em maio de 2022, que apresentaram mordidas de cópula pelo corpo. Essa descoberta é especialmente relevante, uma vez que o arquipélago já foi previamente identificado como um importante hotspot genético para os tubarões-tigre, com a maior diversidade genética global para a espécie. Embora tenha sido realizada apenas 3 expedições científicas de captura, foi possível coletar dados relevantes para a conservação das espécies estudadas. Além disso, estas informações poderão ser úteis para o manejo de tubarões nesta importante área marinha protegida oceânica.
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