As constantes mudanças ocorridas na sociedade brasileira têm provocado discussões acerca do papel da escola como articuladora de ações que proporcionem ao sujeito condições para que ele reaja e participe das transformações sociais. A partir deste panorama, precisamos nos atentar para o significado de ‘formação’, compreendida aqui como um movimento integrador das várias potencialidades humanas regidas por realidades sociais e culturais e as especificidades e instrumentos necessários à prática pedagógica. É neste contexto que se insere a formação de professores de Educação Física, ambicionando a formação crítica de crianças, jovens e adultos e tentando escapar das suas bases formativas fragmentadas. Vivemos, portanto da ambição de construirmos uma formação cuja base conceitual seja a militância cultural. Entendemos cultura como prática de significação ou bem simbólico, e, educação, como mediadora de um contexto social determinado que relaciona e reflete seu tempo e contextos e o projeto de sociedade que ela explicita e conforma, ou, para se tornar um dos instrumentos de sua transformação Na perspectiva de Paulo Freire, (1996) isso denota duas frentes de ação: reconhecimento e assunção da identidade cultural e a emancipação humana. Na obra Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire considera que: “assumir-se culturalmente é, sobretudo, assumir em termos identitários, a dimensão da individualidade e de classe dos sujeitos, visando o respeito por uma prática educativa progressista. (p.41-42). Para a Educação Física, esse elo é a compreensão das relações entre corpo, movimento e sociedade por meio da cultura, na medida em que se cria e recria a história corporal do hoje, seja ela comunitária ou incorporada de outras culturas. Esse impulso cultural pode ser evidenciado no compromisso do processo educativo emacipador, considerando a formação docente como um lugar de experiências históricas e políticas. O conflito, portanto, denota passagem da postura ingênua para a postura crítica e um processo emancipador vigilante, sem o qual é impossível manter o fomento da “esperança” como elemento permeador da criticidade e afetividade humana. Estes são os aspectos preliminares que justificam o interesse pelo valor cultural e histórico na formação e prática pedagógica da Educação Física. especialmente na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. A esse respeito nos reportamos ao que disse Paulo Freire sobre formação docente para a autonomia: “o que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado”, vai gerando a coragem”. (FREIRE, 1996, p.45). Embora as argumentações sobre processos formativos levem em conta diversas vertentes de pensamento, defendemos que a base da reflexão para uma formação docente emancipatória e culturalista é a presença das obras e pensamentos de Paulo Freire, em especial a Pedagogia da Autonomia e a Pedagogia do Oprimido. Na obra Pedagogia do Oprimido, (1993) Paulo Freire denuncia a lógica da dominação a partir do antidiálogo cultural e seus objetivos de impedir a participação popular na organização da vida social. Devemos observar ainda que ao tematizar cultura e libertação, a pedagogia freireana chama a atenção para o falseamento das relações entre os sujeitos e as práticas de dominação das classes hegemônicas. (ZITKOSKI, 2006). Isso se torna concreto a partir da experienciação dos próprios oprimidos, ou, no caso especial do ato educativo, a partir da construção de uma pedagogia do oprimido por meio do próprio oprimido. Concluimos que o pensamento freireano e sua importância para o processo formative aponta para a necessidade de outras maneiras de ensinar e ser ensinado, levando em conta as práticas corporais refletidas como saberes que vão construir a emancipação de sujeitos, suas bases de assunção e identidades e sua autonomia para criar, ressignificar e emancipar na perspectiva da democratização das relações sociais, políticas, culturais e humanas.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos