O Famoso Racismo à Brasileira: Miscigenação e Discriminação Racial em Lilia Schwarcz
A Questão Racial sempre teve grande espaço de discussão no cenário brasileiro, frequentemente associada a aspectos negativos. Durante o século XIX ideias positivistas e deterministas circulavam no país, propagando a ideia de uma hierarquia racial, estruturando a dominação e discriminação exercida pela raça branca. Ainda, havia entre os cientistas estrangeiros, o consenso de um Brasil descrito como um ‘’laboratório de raças’’, onde miscigenação ocupava papel principal. Nessa conjuntura, coexistiam duas visões acerca do porvir de um país tão miscigenado, uma positiva, constituindo nossa esperança – postura encontrada, por exemplo, nas obras de Silvio Romero - e outra negativa, nossa sentença de degeneração – vide Nina Rodrigues. Além disso, nessa época propagavam-se os ideais das teorias de branqueamento, e na expectativa de um Brasil branco, insurgiram, nos mais diversos locais, o apoio a vinda de mão-de-obra branca e europeia.
Contudo, a partir do final dos anos 20, os modelos raciais começaram a ser duramente criticados, pressionando a elite brasileira, a fim de que a concepção de raça, ancorada em diferenças biológicas, fosse desvanecendo no dicionário social. Nesse cenário, emergiram argumentos de ordem social, econômica e cultural para explicar os fenômenos dessa natureza, e, influenciados pela Antropologia Cultural de Franz Boas, intelectuais ligados ao poder público do país, começaram a formular um plano nacional responsável pela construção da identidade brasileira. Com um projeto de constituição da nacionalidade e identidade do país, realizou-se um processo de ‘’desafricanização’’ de inúmeros elementos culturais. Essa iniciativa fez com que a imagem do mestiço, assim como símbolos da cultura africana no Brasil, antes estigmatizada, se tornasse referência da identidade nacional.
Nesse contexto, Gilberto Freyre, com o livro Casagrande & senzala (1933), ganha destaque apresentando as pessoas um novo sentido a fabula das ‘’três raças’’, e uma nova maneira de pensar a diversidade racial brasileira. Para ele, mesmo mista, a cultura brasileira era homogênea, e original, com negros, índios e brancos vivendo em consonância. Desse modo, na elaboração de uma cultura nacional popular e mestiça elementos como a feijoada, a capoeira e o samba, aparecem como símbolos da pátria, deixando de lado todo o estigma e a repressão neles existentes. Concretizava-se assim, o país de Gilberto Freyre, em que imperava a harmônica convivência racial. Em contrapartida, o tema até hoje permanece um tabu, além de naturalizado e enraizado em nossa estrutura, constituindo um tipo particular de racismo, onde existe o ‘’Preconceito de ter preconceito’’, na famosa expressão de Florestan Fernandes, com esse sendo negado e atribuído ao outro simultaneamente. Tais assuntos são discutidos trabalhados por Lilia Moritz Schwarcz, referência na discussão do pensamento racial brasileiro.
Assim o objetivo da presente pesquisa é analisar e compreender a discussão a respeito da identidade brasileira, fortemente atrelada à mestiçagem, e sua concomitante relação com a questão racial no Brasil, se amparando principalmente na obra de Lilia Moritz Schwarcz. Para isso, a pesquisa se pauta em dois textos da autora referência na discussão do pensamento racial brasileiro, sendo esses Questão Racial no Brasil (1996), contido no livro Negras Imagens, e Nem preto nem branco, muito pelo contrário. Cor e raça na sociabilidade brasileira (2012). A orientação metodológica deste trabalho se pautar nas considerações da antropologia e história, sincronia e diacronia, dialogando com o modelo estrutural, no que tange a sua sincronia, significância e permanência, assim como o contexto, a cultura e a história, a fim de entender a estrutura e continuidade de um problema tão presente em nossa sociedade. E ainda, fundamentando com as considerações de Pierre Bourdieu, no que diz respeito ao poder simbólico e aos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais.
O II Seminário de Pensamento Social Brasileiro – intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, realizado entre os dias 23 e 27 de novembro de 2020, na modalidade online, transmitido pelas páginas oficiais do evento no Youtube e no Facebook e pela DoityPlay.
https://netsib.ufes.br/seminario/cadernoderesumos